EDIR MACEDO E SILAS MALAFAIA.
Estou muito longe de passar pano nos chamados neopentecostais. Eles são muito perversos, suas pautas são obscurantistas e apelos como "adorai o Rei Jesus", "prostai diante do Trono" são muito patéticos.
Sem falar da ganância financeira, que indiscutivelmente é seu aspecto mais deplorável. Eles pedem doações dos fiéis e, num dado prazo de tempo, já controlam redes de rádio, TV e portal de Internet.
Mas vamos combinar que, nesse mundo complexo em que vivemos, os "neopenteques" só chamaram a atenção da opinião pública por um simples motivo: CONCORRÊNCIA.
Sim, porque eles, ao iniciar seu arrivismo midiático arrendando horários em emissoras de rádio e TV, num processo de aquisição, aos poucos, dos veiculos da mídia, incomodam a chamada mídia laica.
Num sistema capitalista perverso, a mídia hegemônica não vai combater os "neopenteques" porque eles são a personificação do mal.
Vão combater porque são concorrentes que podem tirar o poderio da mídia "isenta", causar prejuízo econômico e até tirar o poder político dos grandes empresários "laicos" da imprensa.
Isso porque as seitas neopentecostais são sórdidas, mas o Espiritismo brasileiro apresenta níveis até maiores de sordidez e é tão reacionário quanto os "neopenteques".
Ninguém mexe no Espiritismo, que, em questão de blindagem, é uma espécie de tucanato da religião. Apronta das suas, mas nem o mais empenhado jurista se esforça em abrir um mínimo inquérito.
A blindagem se deve porque os "kardecistas" - eufemismo para aqueles que, na prática, trocaram Allan Kardec pelo combo de Catolicismo medieval com Ocultismo e até feitiçaria, embora tentem a todo custo afirmar o contrário - não se ambicionam em criar grandes redes de TV.
Eles apenas investem em redes de TV consideradas "comunitárias", que não concorrem com as emissoras de TV comerciais. Ou em alugueis de espaços modestos em TVs desse nível ou em programações regionais de afiliadas de redes de TV comerciais.
Um "medium" baiano, acusado de pintar quadros falsos e fazer piadas ofendendo gordos, louras e sogras, arrendou horário em uma afiliada de uma rede de TV aberta.
Fui adepto desta religião entre 1984 e 2012. Fui às palestras desse farsante e até fiz tratamento "espiritual" na sua instituição. Minha família segue essa religião.
Só levei azar na vida, pedindo pão e recebendo serpentes, e depois descobri por que: o Espiritismo brasileiro é marcado por fraudes, desonestidade intelectual, obsessão pela mentira e conservadorismo a níveis medievais.
É claro que, na fachada, o Espiritismo brasileiro parece um conto de fadas de tão "lindo" que parece. Sua propaganda aliciatória faz as esquerdas pensarem que é uma doutrina progressista e os ateus, uma filosofia ecumênica.
Para quem é leigo, tudo é maravilhoso, e muitos se rebelam dos aspectos sombrios que só quem se adentra acaba conhecendo.
O Espiritismo é tão azarento que três incidentes, dois em Niterói, um em Salvador, ocorreram em redutos da religião.
No mês passado, um acidente na Estrada Francisco da Cruz Nunes matou três jovens e deixou outros feridos, depois de seu motorista dirigir o carro em altíssima velocidade. Na mesma época, um traficante internacional de armas, procurado pela Justiça, foi detido em sua residência.
Ambos os incidentes ocorreram em Piratininga, onde o famoso "médium" pioneiro na literatura fake e foi apoiador e até colaborador da ditadura militar, tem seu nome numa das ruas no bairro.
Em Salvador, dois homens humildes, tio e sobrinho, foram mortos por suposto furto de carne num supermercado em Amaralina. Não adiantou eles procurarem alguém para pedir dinheiro, eles foram sequestrados pelos seguranças e mortos.
Em Amaralina, parte de uma região perigosa, espécie de Complexo do Alemão soteropolitano (os três bairros são Nordeste, Santa Cruz e Vale das Pedrinhas), se situa um "centro espírita" que já teve brigas feias entre suas lideranças.
Contra o "médium de peruca", em que pese sua reputação "inabalável" de (suposto) "símbolo de paz, fraternidade e amor ao próximo", existem acusações da mais extrema gravidade, que só não vêm à tona porque o religioso recebe mais passagem de pano do que mesa cheia de poeira.
Ele teria consentido, segundo suspeitas, com a morte suspeita de um sobrinho, Amauri Pena, um mistério que faz o crime da "neopenteque" Flordelis - curiosamente, ela tinha igreja em Piratininga - parecer um grande carnaval.
São episódios gravíssimos, são aspectos sombrios aqui e ali.
Como, por exemplo, por que o "médium" considerado "símbolo da paz entre os povos" recebeu homenagens e fez palestras na Escola Superior de Guerra?
A tese, sem pé nem cabeça, para essa empreitada era a de que o "médium" fez isso para "salvar a própria pele". Mas uma pessoa que se considere humanista nunca faria isso.
O verdadeiro humanista não se dobra para os opressores. E, se um humanista quisesse salvar sua pele, ele pediria exílio em um outro país.
A condecoração da Escola Superior de Guerra, em 1972, em pleno AI-5, um ano após o "bondoso homem" ter exaltado ostensivamente a ditadura militar (o que desmente qualquer atitude "estratégica" de "salvar a pele"), traz fortes indícios de que ele era colaborador do regime daquela época.
As "cartas mediúnicas", que nunca passaram de picanha para saciar a fome da imprensa marrom (que adorava muito o "médium"), eram um meio diversionista de distrair a população diante da crise ditatorial, impedindo que se pense em manifestações populares.
A ideia era essa: glamourizar e espetacularizar as tragédias humanas. Com isso, se conforma tanto com as perdas dos entes queridos quanto se aceita as mortes dos prisioneiros políticos da ditadura militar.
Justificavam-se os desperdícios de vidas prematuramente ceifadas pela suposta existência de um "paraíso" (o tal "Nosso Lar", concebido como um grande condomínio de luxo), que servia de desculpa para a apologia de qualquer sofrimento.
São coisas de arrepiar os cabelos de qualquer careca.
Ultimamente, esse "médium de peruca" que encerrou seus dias apoiando Fernando Collor e Aécio Neves e manifestando profundo horror a Lula, é um eventual ídolo para atores e cantores com carreira em baixa.
É o mesmo que ocorreu com os "neopenteques", que também haviam sido a salvação para personalidades decadentes e esportistas sem ter o que fazer na carreira após a aposentadoria.
E aí vemos que os "neopenteques" são o mal, sim, e são muitíssimo nocivos.
Mas não subestimemos a "seita dos papalvos", nos dizeres de José Herculano Pires, que até passou pano no "médium de peruca", amigo seu, mas criticava os vícios doutrinários.
O Espiritismo brasileiro é uma religião perigosa e pode ser uma ferramenta para o necrocapitalismo, por oferecer um "paraíso" que possa justificar qualquer necropolítica.
Ela hoje se apresenta como um Cavalo de Troia religioso, forjando uma falsa beleza, embora deixe claro ser uma religião de ressentidos e decadentes, cujos palestrantes estão entre físicos frustrados, juristas medíocres, pedagogos incompetentes e até aspirantes mal-sucedidas a dramaturgas.
Ficar na zona de conforto da dúvida e se silenciar diante desses aspectos sombrios é muito arriscado e a omissão poderá cobrar um preço caro no futuro.
Afinal, não nos esqueçamos que "neopenteques" e "kardecistas" foram igualmente ajudados pela ditadura militar para neutralizar o crescimento da Teologia da Libertação católica, que atuava como uma poderosa força de oposição ao opressivo cenário político dos anos 1970.
O "médium de peruca" não era muito diferente de Edir Macedo e companhia na sanha arrivista de forjar uma escadaria para o céu.
A diferença é que o Espiritismo brasileiro vendia a falsa reputação de "outra Teologia da Libertação" (apesar de seu conteúdo medieval), para evitar que a verdadeira Teologia da Libertação se popularizasse.
Há muita podridão por baixo da "seara espírita" e seria melhor que aqueles que pudessem investigar que saíssem do leito confortável da dúvida omissa e complacente. Juristas, jornalistas e acadêmicos com fome de investigação, estejam com as mãos na obra!
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