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"FUNK", ULTRACOMERCIALISMO E O "BOM" ETNOCENTRISMO


O falecimento do funqueiro MC Kevin - não confundir com Kevin O Chris - , de Mogi das Cruzes, São Paulo, repercutiu mais do que os falecimentos, no mesmo dia, da atriz Eva Wilma e do prefeito da capital paulista, Bruno Covas.

Tudo bem, é um fato que comove admiradores e se deve respeitar tanto essa comoção quanto o pedido da família para ninguém compartilhar vídeos sobre o acidente. Justo.

Kevin, de 23 anos, caiu de um hotel na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, no último domingo, supostamente para mergulhar numa piscina, saltando do alto. Ele chegou a ser internado com vida, mas não resistiu aos ferimentos.

O problema é quando se fala da música de MC Kevin, no contexto em que o ultracomercialismo musical no Brasil se torna quase totalitário.

Numa época em que até os bons críticos musicais, que até divulgam verdadeiros talentos da MPB, passam pano no comercialismo popularesco reinante, todo mundo no "funk" é considerado "genial".

E aí vemos pessoas falando da "falta" que MC Kevin fará para a música, e o papo das esquerdas identitaristas de, mais uma vez, passar a mão na cabeça do "funk", com a mesma choradeira de sempre.

Por que as esquerdas médias tanto insistem em exaltar o "funk", principalmente quando há uma crise no cenário sócio-político de direita?

Existem pessoas ressentidas com a MPB que só elas ouviam mas não aguentam mais. Iludidas pelo solipsismo, elas acham que o povo pobre, que não conhece 98% da MPB que os "bacanas" acham insuportável, e mesmo assim a "boa sociedade" desaconselha a ouvir.

E existem pessoas que não suportam mais o Rock Brasil, achando que "só tem Roger Moreira e Paulo Ricardo" ou estão de saco cheio de ouvir Arnaldo Antunes cantando "O que não é que não pode ser que".

Essas pessoas veem no "funk" a "salvação da humanidade" e citam o funqueiro do momento, ou um funqueiro morto que virou assunto no momento, como "a nova oitava maravilha do mundo".

É um "bom" etnocentrismo essa defesa do "funk", que na verdade é uma forma da pequena burguesia "ilustrada" - incluindo as chamadas esquerdas médias - em idealizar um suposto ativismo sócio-cultural que está de acordo com seus conceitos "sem preconceitos", mas muito preconceituosos.

Esse pessoal não suporta a raiva de moradores fechando rodovias para protestar contra seus problemas ou camponeses fazerem marchas que causam congestionamentos nas ruas. Mesmo o pessoal dito "de esquerda", entre essa sociedade festiva, pensa assim.

Daí que o "funk" e, num plano mais adulto, a suposta caridade do Espiritismo brasileiro, lhes apresentam uma pobreza resignada, de pessoas pobres obedientes ou, quando muito, que apenas se mobilizam nos limites aceitos por essas elites que fingem adorar o povo pobre.

O discurso até cansou, o papo-cabeça em torno do "funk" torrou a paciência até de budista e até o Estado mudou.

Superexposto, o "funk" do Rio de Janeiro foi deixado de lado pela choradeira intelectual.

Agora, é o "funk-ostentação" de São Paulo que se torna a onda do momento, por causa dos apelos "mais modernos" do que os cariocas, que parecem ter parado no tempo, como se isso não fosse a regra do "funk", mas é.

Os funqueiros-ostentação, pelo menos, têm algum apelo marqueteiro a mais, são mais espertos que os cariocas, e procuram ser menos repetitivos, o que não significa que fossem melhores que o pessoal do Rio.

A mediocridade artístico-cultural de ambos os cenários funqueiros, carioca e paulista, é a mesma, os funqueiros paulistas é que têm mais jogo de cintura.

Os funqueiros cariocas mal conseguem dialogar com o público classe média além do Baixo Gávea, Barra da Tijuca e Recreio dos Bandeirantes.

Os funqueiros paulistas, por sua vez, dialogam com a juventude dos Jardins, da Faria Lima (os "faria-limeiros", ou farialimers no "dialeto" portinglês) e os descolados de Santa Cecília.

Além disso, São Paulo têm uma aura urbana, como estou notando desde que passei a morar na cidade, que o Rio de Janeiro perdeu. Hoje o Grande Rio virou uma gigantesca Baixada Fluminense, pois o pragmatismo dos cariocas fez a região perder o antigo glamour.

Mesmo com essas ressalvas, porém, a campanha em prol do "funk" paulista exagera, quando fala dos MCs como se fossem extremamente geniais.

Seja MC Guimê há sete anos, que a intelectualidade "bacana" clamava ser o "novo João Gilberto (?!) com poderes de Che Guevara (?!?!)", seja MC Fioti, sejam os falecidos MC Duda do Marapé e MC Kevin.

MC Kevin chega a ser citado numa concessão de abordagem dos defensores, que agora admitem que muitos funqueiros "desaparecem" da mídia depois de um tempo de sucesso. Kevin, neste caso, seria "um dos poucos" a lançar sucessos desde 2013.

MC Kevin também é alvo de rumores de que teria falecido quando tentava fugir de flagrantes de uma suposta traição amorosa. Ele era casado e tem uma filha.

E, depois da choradeira em torno da "perda irreparável" para a música brasileira, MC Kevin será mais um ídolo a cair no esquecimento, devido à mediocridade de seu repertório.

Como pessoa, ele pode fazer muita falta para seus familiares e amigos e isso temos que respeitar. Mas, musicalmente, MC Kevin não fará falta, devido ao seu comercialismo medíocre próprio da canção popularesca.

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