O EMPRESÁRIO BANG SI-HYUK, DA AGÊNCIA HYBE, QUE CONTRATOU O CONJUNTO BTS.
Uma matéria divulgada no Quem Acontece divulgou que a empresa sul-coreana HYBE, ex-Big Hit (cujo nome agora se limita a um selo fonográfico da corporação) foi eleita pela revista estadunidense Time como uma das 100 empresas mais influentes do mundo.
Segundo a curadoria, que inclui outra empresa da Coreia do Sul, a Samsung, na lista, os critérios avaliados envolvem relevância, impacto, inovação, liderança, ambição e sucesso.
De acordo com a articulista Raisa Brune, que definiu seu tópico sob a HYBE como um "império sustentado pelo BTS" (a tradução é minha, não do Quem):
"Fundada em 2005, HYBE - antes conhecida como Big Hit Entertainment - já foi uma precária agenda de talentos na competitiva indústria musical da Coreia do Sul. Mas graças ao supergrupo BTS - indiscutivelmente o maior grupo do planeta - a companhia está numa atmosfera respirável. Como a Disney antes disso, HYBE vê em cada um dos seus atos uma propriedade intelectual a ser desenvolvida dentro de um universo de experiências vividas por fãs e seus produtos".
O k-pop vive uma realidade bastante controversa na qual existe um dado sombrio de suicídios cometidos por ídolos adolescentes, que não aguentavam as pressões profissionais ditadas por seus empresários.
Eu pesquisei e não vi indícios de que a Big Hit/HYBE estivessem entre as empresas relacionadas a esse processo opressivo de gerenciar carreiras dos ídolos juvenis.
Mas o nosso mercado capitalista e a mídia empresarial associada andam alegando que as denúncias de rotina opressiva e precarização do trabalho são invencionices da imprensa da Coreia do Norte.
Embora possamos admitir que a empresa HYBE é mais respeitosa no trato de seus contratados, também há um exagero da mídia ocidental em "coreiadonortear" os dramas ocultos do k-pop.
Isso lembra o antigo Blog do Patolino, que, quando critiquei a música brega-popularesca, o tal "Patolino", de forma reacionária, disse que "só uma coreiadonortização cultural" para acabar com a supremacia popularesca.
Era um tempo em que as elites formadoras de opinião, de certa forma, achavam que a música brega-popularesca tinha sucesso "espontâneo", "era o povo que gostava" e um monte de falácias que ignoram que essa música faz sucesso pelas manobras hábeis da mídia hegemônica.
Esquecem quanto dinheiro foi aplicado para que a mediocridade musical que domina o gosto popular faça sucesso.
Esquecem que as rádios consideradas "populares" são controladas por grupos oligárquicos muitíssimo ricos e poderosos.
Paciência. Temos uma classe média que mede a realidade de acordo com suas convicções.
Vivemos uma sociedade hipermercantilizada e hipermidiatizada. E o pior é que são muito poucos os que percebem isso.
A maioria pensa que, culturalmente, o Brasil e o mundo vivem um paraíso orgânico onde tudo surge carregado pelo oxigênio que respiramos.
Ainda que a liberdade seja uma concessão dos "gurus" midiáticos que vão de Luciano Huck a Sílvio Santos, passando por Otávio Frias Filho (in memoriam), o gado digital fala mal do vaqueiro mas segue obedientemente aonde ele indicar o caminho.
Nas redes sociais, embora sua realidade seja puro establishment e mainstream, há a falsa impressão de que tudo "vivido" nesses ambientes virtuais é vanguardista e alternativo.
Qualquer bobagem lacradora ganha a falsa reputação de vanguarda. O que é hit nos pátios digitais da lacração ganha o falso status de alternativo.
No k-pop, observamos que, ao destacar a HYBE, a revista Time avisou: "o k-pop é puro comercialismo. É puro negócio, seus ídolos são meras mercadorias musicais".
Mas ninguém quer saber. Na Disneylândia das redes sociais, como o WhatsApp, o Instagram e o Tik Tok, até o mais escancarado mainstream é "alternativo", conforme o Tribunal do Umbigo das redes sociais.
Daí que o pessoal supervalorizou a trolagem dos fãs do k-pop, que se inscreveram para assistir a um comício de Donald Trump e decidiram não comparecer.
Tem gente que viu Revolução Cubana num copo d'água e tratou o ato de brincadeira como uma "revolta libertária". Com isso, a capitalista Coreia do Sul virou mais "socialista" que a Coreia do Norte.
Ainda não posso julgar como é realmente a Coreia do Norte, mas achar que a Coreia do Sul é um primor de socialismo é um grande equívoco.
Da mesma forma, é um erro ver o k-pop como uma "ilha de esquerdismo" no capitalismo da nação sul-coreana.
O ultracomercialismo de hoje absorveu atitudes supostamente subversivas, como tatuar o corpo, fazer clipes sobre overdose de drogas, bancar o ripongo etc.
É a "Contracultura de resultados", um ideal de "liberdade" que, no conjunto da obra, poderia ter saído das mentes de Otávio Frias Filho, tais suas caraterísticas mais evidentes.
Imagine! Demonstrar afeto através de uma tatuagem é uma grande tolice. O corpo não pode se reduzir a um mural dos sentimentos humanos. E a memória humana, como é que fica?
A estupidez do falso feminismo das mulheres-objetos tentou persistir a todo custo como suposta provocação feminista ao machismo e não convenceu.
E é esse contexto de banalidades supostamente cool que reside o ultracomercialismo daqui e dali, seja com Miley Cyrus e a Demi Lovato hoje (que abandonou a garota legal do começo de carreira), seja com Wesley Safadão, Anitta e até MC Fioti, seja com o BTS, Blackpink e outros k-popstars.
Vivemos um comercialismo musical posto às últimas consequências que, por desespero, tenta se apropriar de agendas rebeldes e transgressoras a todo custo, além de surfar nas causas identitárias.
Tudo é feito para parecer "provocador" e "libertário", como se incomodar os outros fosse uma causa libertária, e quem tem um pingo de bom senso sabe que isso não faz sentido.
No Brasil, sobretudo, a música brasileira despencou para um ultracomercialismo totalitário. "Funk", "sertanejo" e "forró-brega" (agora com o derivado "pisadinha") monopolizam o gosto musical dos brasileiros.
É uma avalanche de nomes comerciais e tão medíocres que quem está nessa parada há mais tempo quer se vender como "alternativo" e "vanguarda" para enganar os complacentes, mesmo gente séria que passou a passar pano na mediocridade reinante.
Temos Leandro Lehart encanando que é "artista alternativo", mesmo quando nesse âmbito ele mais parece um peixe fora d'água, tão evidente é seu comercialismo.
Temos Joelma querendo parecer cult posando de guerreira de HQ.
Temos MC Fioti com aquela projeção constrangedora que lhe atribuiu qualidades fora da realidade.
E até Michael Sullivan, que queria destruir a MPB, se vende agora com a falsa imagem de "MPB de vanguarda".
Tudo a partir de repertórios de desculpas esfarrapadas que atendem aos impulsos emotivos da sociedade lacradora, mas que não têm o menor sentido lógico.
Se Leandro Lehart queria ser visto como um enfant terrible do comercialismo musical, ele deu um tiro no pé, porque o comercialismo também gosta de gente de cara feia para o mercado.
Hoje tudo é mercadoria: causa LGBTQ, autoafirmação negra e asiática, espiritualidade, letras de suposto protesto etc.
E os arrogantes terraplanistas do Tribunal do Umbigo achando que os artistas não-comerciais é que são "comerciais"?
Pelo jeito, a saúde mental das pessoas nas redes sociais está em risco. E não é por conta do Coronavírus, mas devido a uma compreensão torta da realidade.
O ultracomercialismo musical é explicitamente comercial. Não dá para trocar as bolas, dizer que o comercial é "não-comercial" e o não-comercial "é que é comercial".
Se os Beatles e Bob Dylan, ou o nosso Chico Buarque, podem ter pendências nos direitos autorais, isso não quer dizer que eles eram comerciais.
Assim como o suposto engajamento do BTS e as críticas negativas que o conjunto recebe de parte da imprensa musical não o farão menos ou não-comerciais.
Temos que abrir mão desse terraplanismo que prevalece nesse mundo de cor e fantasia que se tornaram as redes sociais, ambiente do qual eu, sinceramente, uso muito pouco.
Caso contrário, a insanidade mental e a falta de contato com a realidade tomarão conta do mainstream. E isso nada será cult nem cool.
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