Infelizmente, as pressões do sistema de estrelato ignoram a complexidade da vida e as escolhas de cada pessoa.
O seriado adolescente iCarly, produção da Nickelodeon que fez sucesso entre 2007 e 2012 e continua dando audiência em suas reprises, ganhou um revival do qual apenas três atores do elenco original, Miranda Cosgrove, Jerry Trainor e Nathan Kress, optaram por integrar o elenco.
A comediante Mary Scheer, que no seriado fez a mãe do personagem de Nathan, Fred Benson, Marisa Benson, também topou participar do revival.
E aí entra um grande problema, como se não bastassem as irritantes, humilhantes e desrespeitosas comparações de Miranda com Michael Jackson, em desfavor à atriz.
O problema é o fato de que Jennette McCurdy, que interagia com a personagem de Miranda, Carla (ou Carly) Shey, através da durona Sam Puckett, decidiu que não vai participar do revival e que pretende dar um tempo na carreira de atriz.
Em entrevistas, Jennette assumiu achar ridículos os papéis que interpretou desde a infância e não quer mais interpretar a Sam.
O que poucos sabem é que Jen já fez um "revival" antes, com o seriado Sam & Cat, co-protagonizando com Ariana Grande, que seguiu com a personagem de Victorious, outro sucesso da Nickelodeon, com a personagem Cat Valentine.
A experiência com Sam & Cat foi péssima para Jennette e, apesar do sucesso do seriado, ele acabou por conta dos desentendimentos das duas atrizes.
"Tenho vergonha dos papéis que aceitei no passado. Me arrependo da minha carreira de várias formas. Trabalhei em iCarly dos 13 aos 21 e aos 15 anos, já me sentia envergonhada. Com 15 anos, meus amigos não falavam 'que legal, você está numa série da Nickelodeon'", disse Jennette em seu podicaste.
Jennette queria sair das zonas de conforto e fez a seguinte declaração, depois de enfrentar problemas como a morte de sua mãe, em 2013: "Eu abandonei [a atuação] há alguns anos para tentar escrever e dirigir – e tem sido ótimo".
Jen, que também se lançou como (ótima) cantora e compositora country, tem suas escolhas.
É ótimo ver que Miranda, Jerry e Nathan aceitaram fazer o seriado. É escolha deles. Mas nem todos pensam assim e Jennette não suporta se tornar prisioneira da Sam Puckett.
Só que a obsessão dos fãs se tornou doentia, tóxica, e de maneira um tanto psicótica são publicadas em série fotos de Jennette em filmagens, cenas e bastidores de iCarly.
Trata-se de uma atitude egoísta, intolerante e ignorante, porque se esquece que Jen teve dificuldades pessoais que a fizeram refazer suas escolhas.
Para piorar as coisas, os fanáticos resolveram disparar ódio racista à atriz que foi escolhida pela produção do seriado - que conta com Miranda e Jerry como co-produtores - para interagir com a personagem Carla Shey, a atriz e influenciadora digital Laci Mosley.
Negra e lindíssima, Laci não vai ser uma "nova Sam", mas interagirá com a personagem de Miranda num contexto bem diferente. Ela fará a personagem Harper.
A Paramount Plus (Paramount+), do mesmo grupo da CBS Viacom (dono da Nickelodeon), se posicionou em defesa de Laci e contra todos os ataques de ódio e racismo.
O ressentimento dos "samminions" (um trocadilho com os mínions do Meu Malvado Favorito (Despicable Me), que teve a própria Miranda no elenco de dublagem) também foi repudiado pela atriz e escritora Franchesca Ramsey, que se manifestou:
"A personagem (de Mosley), Harper, não está substituindo Sam (personagem de McCurdy no seriado original). Ninguém poderá substituir Jennette McCurdy ou seu incrível talento! Mas é tão racista como o inferno quanto é injusto decidir que Laci não merece seu papel, ainda mais que o programa nem foi lançado".
Deixem Jennette McCurdy seguir suas escolhas. Se ela não se sente à vontade no papel de Sam, devemos respeitar a decisão dela.
O consolo é ver as performances de Jen como Sam Puchett nos seriados iCarly e Sam & Cat que já estão aí disponíveis nas reprises na TV e no streaming na Internet.
Devemos até agradecer Jennette pela paciência com que ela carregou a personagem Sam Puckett até os 22 anos, pois, como vimos, com 15 anos ela já não gostava mais de fazer a personagem.
O que se deve levar em conta é que, por trás da ilusão do show business, existem pessoas que vivem seus dramas individuais, suas dificuldades, suas alegrias e desejos próprios. É a complexidade da vida.
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