Assim como em 2005 houve o estranho fenômeno dos pseudo-esquerdistas, gente que dizia apoiar Lula ou o PSOL mas atuar de forma reacionária nas redes sociais - defendiam até o porte de armas, hoje uma causa bolsonarista - , temos também o fenômeno dos "ateus graças a Deus".
Para começar, a Internet espalha por aí, por meio de páginas suspeitas de notícias sobre famosos - algumas "hospedando" anúncios em phishing e, por isso, marcadas na busca do Google com um brasão laranja com "X" - , pessoas tidas como "ateias" mas não são.
Houve páginas que definiram a jornalista Glória Maria, católica fervorosa, como "ateia", só para sentir a coisa.
É tanto "ateu" que, num país beato como o Brasil, dá para estranhar, e muito.
Principalmente quando supostos ateus vão respaldar, de certa forma, o Espiritismo brasileiro, essa alcateia de coiotes roustanguistas famintos por umas ovelhas do ateísmo.
Tem até jornalista autoproclamado "ateu" que fez biografia passa-pano do "médium de peruca".
Ateu? Tem certeza? Ou será que é um charminho para bancar o "isentão"? O biografado em questão é uma figura medieval tão radicalmente defensora da supremacia de Deus.
Seu ideário era sempre a submissão a Deus. Sofre desgraça? Então o "bom médium" lhe recomenda a suportar a desgraça em silêncio esperando o socorro de Deus não se sabe quando, podendo até ser duas encarnações depois.
É triste ver que os ateus gostam desse mistificador religioso, beato católico medieval que meteu o nariz - e os óculos escuros, peruca e boné - onde não foi chamado, transformando a Doutrina Espírita num chiqueiro fedendo a enxofre.
Defendem por uma suposta bondade, manifesta por coisas tão fajutas quanto a "caridade" de Luciano Huck, praticamente limitada a distribuir uns poucos donativos trazidos por terceiros.
A cegueira emocional do fanatismo religioso faz com que os beatos do "bom médium" defendam com mãos de ferro a sua "indiscutível bondade", sem ter ideia do que ela realmente foi. Ou seja, nada.
Uma "bondade" que não resolve a pobreza, apenas a torna "mais suportável", dentro dos limites da Teologia do Sofrimento que fez a fama de certa megera que atuou na cidade de Calcutá, na Índia, e era sósia live action da Bruxa do Mar do seriado do Popeye.
Que os devotos do "médium" possam ser igrejistas doentes e de direita, se compreende. Afinal, eles têm motivo de sobra para tamanho fanatismo.
O que não dá para entender é quando essas pessoas são de esquerda ou ateias. Aí deve ser "canto de sereia", que deveria ser substituído para "canto do médium", porque os "cantos de sereia" mais perigosos não vêm de mocinhas com rabo de peixe, mas de um velho feioso de peruca ou boné.
Homens com um pouco mais de coragem do que o bravo Ulisses da Odisseia, ao verem o velho feio de peruca e sorriso patético de dentes amarelados, caíram dos seus barcos afogados na fascinação obsessiva da mistificação religiosa, enfeitiçados pelo "bombardeio de amor".
O "bombardeio de amor" é uma prática traiçoeira de dominação das pessoas.
Apelos de extrema afetividade e beleza, sobretudo evocando elementos da Natureza e animais fofinhos, como passarinhos, peixes e cachorrinhos, são trazidos para enganar as pessoas. Nelas são inseridas frases ou referências a algum mistificador religioso.
No contato físico, o "bombardeio de amor" faz com que estranhos que se envolvem com alguma religião tratem os leigos com uma afetividade muitíssimo estranha, como se íntimos já fossem.
E aí vemos o quanto temos ateus e esquerdistas fracos. Ou então eles não são ateus e esquerdistas de verdade, apenas estão surfando numa onda que eles acham legal, mas não se identificam por completo.
Já tivemos "iluministas", no século XVIII ou mesmo no começo do Segundo Império, que eram escravocratas? Defendiam um Iluminismo pela metade, sem ler uma única linha do Jean-Jacques Rousseau que tanto bajulavam.
Temos esquerdistas de foice oca e ateus graças a Deus.
Esquerdistas que ficam com os "brinquedos culturais" da direita refinada, como "médiuns", funqueiros, duplas "sertanejas" um pouco mais antigas, esportistas fanfarrões e ídolos cafonas do passado.
E ateus que falam tanto em religião que parecem mais crentes em Deus do que eles mesmos podem imaginar.
Se bem que as páginas de ateísmo nas redes sociais é cheia de gente "temente a Deus". Gente fantasiada de "ateu" que visa converter as pessoas, porque os ateus são uma "clientela" em potencial das religiões brasileiras, sobretudo "neopenteques" e "espíritas".
É gente que finge apoiar o ateísmo para atrair os ateus, mas aos poucos inserem valores religiosos aqui e ali, num esforço longo, lento e sutil.
E aí muita gente cai na armadilha, acreditando no falso ecumenismo da fé mistificadora.
Vemos então que o ateísmo, no Brasil, é muito raro e, entre aqueles que se autoproclamam ateus, os que realmente têm esta postura não chegam sequer a 20% dos autodeclarados.
O ateísmo de verdade é tão raro que ele pouco aparece nas redes sociais, não chegando sequer a ser figurante no espetáculo das postagens mais influentes.
Portanto, vamos abrir os olhos, há muito ateu de araque que diz não acreditar em Deus, mas, às escondidas, manifestam sua submissão convicta... e das mais fanáticas.
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