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FM DE UMA REGIÃO SÓ TEM UMA RÁDIO DE MPB, MAS CHEGA A TER MAIS DE CINCO TRANSMITINDO FUTEBOL


É muito vergonhoso o dial de rádio FM no Brasil, mais a serviço de seus donos e interesses particulares.

Daí que as FMs levam surra de audiência, seja de emissoras de TV, seja do YouTube, seja dos blogues que informam mais que FMs de all news, e por aí vai.

Vejamos, o dial FM de cada região só possui uma única emissora dedicada exclusivamente à MPB.

Isso num contexto em que as chamadas "rádios rock" não são mais do que "Jovem Pan com guitarras", na maioria das vezes.

Enquanto isso, há de cinco a oito, ou mesmo dez emissoras transmitindo futebol e as cansativas e entediantes jornadas esportivas.

Não tem audiência para esse tipo de transmissão.

A maioria dos torcedores de futebol quer ver a imagem da grama verde, e ninguém é idiota para ver TV com o som desligado e botar o som do rádio. A não ser que seja pago para isso, porque ouvintes de aluguel existem.

Não estamos mais em 1958 nem em 1970, quando os radiotransmissores botavam o Ibope nas alturas.

O rádio FM nem teve tempo de dar gargalhadas ao derrubar o rádio AM, porque foi degolado pelas emissoras de TV, pelo streaming, pela blogosfera.

Até mesmo quando se sintoniza uma emissora de FM, a verdade é que se está sintonizando uma web radio em aplicativo de celular, não uma rádio FM fisicamente falando. É apenas a repetidora de uma FM local, que, como "nome de fantasia", se apresenta como a "emissora FM propriamente dita".

Enquanto as transmissões esportivas se repetem umas às outras, com a mesmice em campo e eventualmente misturadas a um humorismo padrão Pânico da Pan, a MPB, que carece de divulgação, é muito maltratada na Frequência Modulada.

As rádios de pop adulto só reservam 40% de espaço para a música brasileira, enquanto priorizam os mesmos flash backs estrangeiros que, de tanto serem tocados dia após dia, já nem expressam mais o tempo passado de seus anos de origem.

Há programas esparsos de MPB, que até ajudam um pouco, mas insuficientes para se tornarem referenciais bússolas para o que fará sucesso na música brasileira de qualidade.

Nem toda região tem uma emissora de MPB, e apenas uma seleção de regiões metropolitanas possui, cada, uma emissora da rede Nova Brasil FM, principal rádio dedicada ao segmento.

Mesmo assim, o espaço de MPB é raquítico, restrito aos sucessos dos medalhões mais conhecidos e priorizam mais tendências mais pop de artistas mais contemporâneos.

Ou seja, o que mais se ouve é algo no nível da MPB fofinha de nomes como Ana Vitória.

Até não reclamamos se a MPB pop dos anos 1980 e o Rock Brasil da mesma época sejam muito tocados, mas não se pode limitar a eles.

Enquanto isso, nomes que vão de Elizeth Cardoso a Casa das Máquinas, de Sylvia Telles a Rumo, de Turíbio Santos a Monsueto, nenhum deles aparece nas rádios de MPB.

Temos um grande elenco de emepebistas - deixemos de fora os popularescos que a complacência coletiva tenta incluir - e eles são ignorados pelo grande público.

Enquanto temos a choradeira da imprensa especializada, que clama, com seus panos passando adoidado, pelo "reconhecimento" dos ídolos brega-popularescos como "pérolas ocultas (?!) da MPB", a MPB perde os poucos espaços que lhes resta para esses mesmos ídolos.

O bom crítico musical, no seu solipsismo, tem dinheiro para comprar aquele vinil raríssimo do Walter Franco. Ele sai passando pano nos popularescos, mas a nata da MPB ele pode adquirir, mas o brasileiro médio, não.

O brasileiro médio só pode pegar esses ídolos popularescos pseudo-sofisticados, tipo Michael Sullivan, Alexandre Pires e Chitãozinho & Xororó, que é o que ele pode encontrar na frente.

A MPB está tão distante do povo que Paulinho da Viola cantando no seu bairro-berço, Madureira, mais parecia Paul McCartney cantando no Engenhão.

Ver que o povo de Madureira está mais para Belo e Alexandre Pires, ou Thiaguinho e Péricles, do que para seu sambista maior vivo, é constrangedor.

E o rádio, que é o único meio de tendências musicais furarem a bolha, deveria mostrar a MPB que o chamado "povão" não conhece.

Se o crítico que, embora competente, escreve para agradar todo mundo, passa pano nos popularescos, significa que não há alternativa para o povo pobre ouvir, porque se esses ídolos comerciais são considerados "geniais" pelo especialista de MPB, então não precisa ouvir mais MPB.

E aí vemos a mediocridade musical dominando o Brasil e a MPB acéfala de novos talentos realmente viscerais.

Enquanto isso, FMs servem de "caixa dois" para dirigentes esportivos, transmitindo o futebol que nem as gramas dos estádios querem ouvir.
 

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