KÁTIA ABREU E JOAQUIM LEVY SIMBOLIZAM ANUNCIADA GUINADA DIREITISTA DO GOVERNO DILMA ROUSSEFF.
Uma mudança brusca aconteceu no governo Dilma Rousseff, a cerca de um mês e meio de reassumir o mandato. A presidenta resolveu fazer uma reforma ministerial visando enfatizar, em seu programa de governo, medidas que priorizem o mercado, reduzindo a já branda e paliativa inclinação para o reformismo social.
Chama atenção, nos noticiários políticos dos últimos dias, a escolha do economista neoliberal Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda e a possibilidade de escolher a ruralista Kátia Abreu, que havia sido desafeta enérgica do PT - quase como Carlos Lacerda para o trabalhismo, sem no entanto ter a erudição e a retórica do antigo udenista - , para o Ministério da Agricultura.
Joaquim ainda não assumiu oficialmente a pasta mas já está no aquecimento de sua gestão governamental. Ele é economista e engenheiro e defende medidas ortodoxas na economia, sendo discípulo de Milton Friedman, economista norte-americano da "escola de Chicago" famoso por suas teorias em favor do "deus-mercado".
Ele havia sido secretário de Tesouro do governo Lula, e sua famosa inclinação para cortar gastos públicos visando fortalecer o mercado em detrimento de projetos sociais o fez tornar-se conhecido como "Joaquim Mãos de Tesoura".
Kátia Abreu, que ainda não foi sequer virtualmente escolhida, é uma tradicional representante dos ruralistas brasileiros. Senadora, ela foi filiada ao DEM, quando se tornou violenta opositora do governo Lula e uma radical defensora dos tucanos.
Como uma Marina Silva às avessas, que havia sido ligada ao PT e é ambientalista, Kátia Abreu aderiu ao morde-e-assopra mesmo quando defende interesses coronelistas: concentração de terras dos grandes fazendeiros (ela é um deles), desmatamento e privilégios para latifundiários, que costumam ter menos deveres e mais direitos, sendo até indenizados por seus próprios abusos.
O corporativismo petista garante que Joaquim e Kátia receberão ordem de Dilma Rousseff, já que ela é a chefe da equipe de governo. Mas o grande problema é que a própria Dilma resolveu fazer um governo podado, já comprometido pelas alianças com a centro-direita, já a partir do PMDB - partido do vice-presidente, Michel Temer - , que minimizou o antigo potencial do PT.
Daí que o PT tornou-se um partido incômodo, não só para direitistas, mas também para esquerdistas e neutros. Nas esquerdas, é notório que o Partido dos Trabalhadores, que no ano que vem completará 35 anos de fundação, criou uma série de dissidências na medida em que o partido se "domesticou" quando sua base de liderança priorizou acadêmicos e tecnocratas.
O PT criou guinadas "moderadas" ao longo do caminho, mas admite-se que até 1998 o partido tinha ainda um expressivo ranço esquerdista, Mas, depois disso, o partido mergulhou numa egotrip neoliberal de tal forma que, do socialismo moderado de 1980, restou um reformismo acanhado dos últimos anos.
Com boa vontade, dava para comparar os primeiros anos do governo Lula com o governo João Goulart, pelo menos no que este tinha de mais moderado, "governando" sem atropelar o apoio de partidos como o PSD (o de Kubitschek), sobretudo durante o período parlamentarista.
Essa comparação era possível, embora, distante do cenário político, se via no país um cenário cultural mais próximo da Era Geisel, com breguice por todos os lados e cultura de verdade restrita à apreciação privada das elites, enquanto a blindagem de intelectuais queria que a breguice avançasse mais e mais a ponto do nosso rico patrimônio cultural fosse trancado nos cofres do Castelo de Caras.
Mas, quando imaginávamos que Dilma Rousseff fosse mais ousada que o cordato Lula, eis que o governo dela recuou e apostou num reformismo ainda mais brando, Até a proposta de regulação da mídia foi deixada de lado.
Isso se torna claro quando o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, não é de desafiar os barões da mídia e até decretou a morte do rádio AM para atender ao lobby dos barões da telefonia celular que andam "assassinando" a Amplitude Modulada em todo o mundo e deixando a memória histórica do rádio á própria sorte.
Agora, o governo Dilma, na medida em que quer se concentrar nos interesses de mercado, através do mnistro Levy - ele receberá ordens da presidenta, é verdade, mas em contrapartida terá também autonomia de ação e algo será sacrificado nas medidas de cunho social - , pretende uma guinada à direita que fará o programa do PT estar próximo das propostas do derrotado Aécio Neves.
Pode ser que o tal reformismo ou o que sobrar de projetos de cunho social e popular não desapareçam em todo, mas nota-se que a guinada direitista do governo Dilma mostra o auge de todo um apoio que os movimentos de centro-direita - dos tecnocratas da economia neoliberal aos intelectuais da bregalização cultural - deram ao PT e que enfraqueceram o partido.
Temos que compreender. O Brasil nunca teve uma tradição de país socialista. Mesmo o modismo do pseudo-esquerdismo de 2005 a 2009, que dava a falsa impressão de que o Brasil era o maior país socialista do mundo, era falso, porque 75% dos autoproclamados "esquerdistas" eram na verdade direitistas histéricos, seja um Jair Bolsonaro, um Marco Feliciano ou um Eugênio Raggi.
Além disso, as máscaras de muitos desses "esquerdistas de ocasião" caíram ao longo do caminho, e mostravam o quanto as esquerdas, ainda que estejam crescendo no país, continuam fracas e confusas. Elas podem até ter influência eleitoral, mas ainda não conseguem contribuir para a transformação efetiva do Brasil em um país socialmente mais desenvolvido.
Uma mudança brusca aconteceu no governo Dilma Rousseff, a cerca de um mês e meio de reassumir o mandato. A presidenta resolveu fazer uma reforma ministerial visando enfatizar, em seu programa de governo, medidas que priorizem o mercado, reduzindo a já branda e paliativa inclinação para o reformismo social.
Chama atenção, nos noticiários políticos dos últimos dias, a escolha do economista neoliberal Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda e a possibilidade de escolher a ruralista Kátia Abreu, que havia sido desafeta enérgica do PT - quase como Carlos Lacerda para o trabalhismo, sem no entanto ter a erudição e a retórica do antigo udenista - , para o Ministério da Agricultura.
Joaquim ainda não assumiu oficialmente a pasta mas já está no aquecimento de sua gestão governamental. Ele é economista e engenheiro e defende medidas ortodoxas na economia, sendo discípulo de Milton Friedman, economista norte-americano da "escola de Chicago" famoso por suas teorias em favor do "deus-mercado".
Ele havia sido secretário de Tesouro do governo Lula, e sua famosa inclinação para cortar gastos públicos visando fortalecer o mercado em detrimento de projetos sociais o fez tornar-se conhecido como "Joaquim Mãos de Tesoura".
Kátia Abreu, que ainda não foi sequer virtualmente escolhida, é uma tradicional representante dos ruralistas brasileiros. Senadora, ela foi filiada ao DEM, quando se tornou violenta opositora do governo Lula e uma radical defensora dos tucanos.
Como uma Marina Silva às avessas, que havia sido ligada ao PT e é ambientalista, Kátia Abreu aderiu ao morde-e-assopra mesmo quando defende interesses coronelistas: concentração de terras dos grandes fazendeiros (ela é um deles), desmatamento e privilégios para latifundiários, que costumam ter menos deveres e mais direitos, sendo até indenizados por seus próprios abusos.
O corporativismo petista garante que Joaquim e Kátia receberão ordem de Dilma Rousseff, já que ela é a chefe da equipe de governo. Mas o grande problema é que a própria Dilma resolveu fazer um governo podado, já comprometido pelas alianças com a centro-direita, já a partir do PMDB - partido do vice-presidente, Michel Temer - , que minimizou o antigo potencial do PT.
Daí que o PT tornou-se um partido incômodo, não só para direitistas, mas também para esquerdistas e neutros. Nas esquerdas, é notório que o Partido dos Trabalhadores, que no ano que vem completará 35 anos de fundação, criou uma série de dissidências na medida em que o partido se "domesticou" quando sua base de liderança priorizou acadêmicos e tecnocratas.
O PT criou guinadas "moderadas" ao longo do caminho, mas admite-se que até 1998 o partido tinha ainda um expressivo ranço esquerdista, Mas, depois disso, o partido mergulhou numa egotrip neoliberal de tal forma que, do socialismo moderado de 1980, restou um reformismo acanhado dos últimos anos.
Com boa vontade, dava para comparar os primeiros anos do governo Lula com o governo João Goulart, pelo menos no que este tinha de mais moderado, "governando" sem atropelar o apoio de partidos como o PSD (o de Kubitschek), sobretudo durante o período parlamentarista.
Essa comparação era possível, embora, distante do cenário político, se via no país um cenário cultural mais próximo da Era Geisel, com breguice por todos os lados e cultura de verdade restrita à apreciação privada das elites, enquanto a blindagem de intelectuais queria que a breguice avançasse mais e mais a ponto do nosso rico patrimônio cultural fosse trancado nos cofres do Castelo de Caras.
Mas, quando imaginávamos que Dilma Rousseff fosse mais ousada que o cordato Lula, eis que o governo dela recuou e apostou num reformismo ainda mais brando, Até a proposta de regulação da mídia foi deixada de lado.
Isso se torna claro quando o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, não é de desafiar os barões da mídia e até decretou a morte do rádio AM para atender ao lobby dos barões da telefonia celular que andam "assassinando" a Amplitude Modulada em todo o mundo e deixando a memória histórica do rádio á própria sorte.
Agora, o governo Dilma, na medida em que quer se concentrar nos interesses de mercado, através do mnistro Levy - ele receberá ordens da presidenta, é verdade, mas em contrapartida terá também autonomia de ação e algo será sacrificado nas medidas de cunho social - , pretende uma guinada à direita que fará o programa do PT estar próximo das propostas do derrotado Aécio Neves.
Pode ser que o tal reformismo ou o que sobrar de projetos de cunho social e popular não desapareçam em todo, mas nota-se que a guinada direitista do governo Dilma mostra o auge de todo um apoio que os movimentos de centro-direita - dos tecnocratas da economia neoliberal aos intelectuais da bregalização cultural - deram ao PT e que enfraqueceram o partido.
Temos que compreender. O Brasil nunca teve uma tradição de país socialista. Mesmo o modismo do pseudo-esquerdismo de 2005 a 2009, que dava a falsa impressão de que o Brasil era o maior país socialista do mundo, era falso, porque 75% dos autoproclamados "esquerdistas" eram na verdade direitistas histéricos, seja um Jair Bolsonaro, um Marco Feliciano ou um Eugênio Raggi.
Além disso, as máscaras de muitos desses "esquerdistas de ocasião" caíram ao longo do caminho, e mostravam o quanto as esquerdas, ainda que estejam crescendo no país, continuam fracas e confusas. Elas podem até ter influência eleitoral, mas ainda não conseguem contribuir para a transformação efetiva do Brasil em um país socialmente mais desenvolvido.
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