Foi só publicar um texto sobre os "coxinhas", dias atrás, e eles vieram com mais uma: a realização de uma passeata pedindo a realização da intervenção militar para tirar Dilma Rousseff do poder. A direita histriônica ficou com raiva por Aécio Neves não ter sido eleito presidente da República.
Tenha-se paciência. Sendo ou não sendo a favor de Dilma Rousseff, temos que admitir sua vitória. Se fulano e beltrano não votaram nela, outras pessoas votaram e a elegeram. Se tem gente que gosta de ver mais quatro anos de PT no poder, fazer o quê? O jeito é aceitar mais um governo Dilma e conviver democraticamente sob o comando da presidenta.
Mas uma parcela não pensa assim. O reacionarismo extremo que contagia o eixo Rio-São Paulo - tem até um busólogo fanático por pintura padronizada nos ônibus, que adora arrumar encrenca e defende todo arbítrio de Eduardo Paes e companhia, e age como um extremo-direitista - chega aos níveis tragicômicos, diante da neurose golpista e das raivas, dos sarcasmos e das ameaças.
Pois os tais "coxinhas" quiseram até defender um "terceiro turno" para "refazer" os resultados eleitorais, rasgando a Constituição Federal que só defendem nos pontos que lhes interessam. Seu golpismo doentio impulsionou-os a promover a patética passeata do último dia 01, em São Paulo e algumas outras cidades brasileiras.
A passeata defendia três alternativas: o "terceiro turno" para rever os resultados eleitorais, o impeachment de Dilma Rousseff e a intervenção militar para tirá-la do poder. Queriam reviver os meses golpistas de 1963-1964, mas a História, segundo justamente o pensador socialista Karl Marx, só se repete como farsa, ou seja, como caricatura daquilo que foi.
Se antes os tempos eram dramáticos, hoje são tragicômicos. Porque, em 1964, ditadura era novidade, e nem era conhecida com esse nome. Durante muito tempo ela foi "revolução", seu governo era "revolucionário" e seu objetivo era "recuperar a democracia" expurgando todos os brasileiros que eram considerados "incômodos" para a dita "paz social".
O tempo mostrou seu prejuízo. Vidas ceifadas, valores fraturados, abusos de poder, violação de direitos humanos, tudo isso fez a ditadura militar se tornar um drama político repudiado pela maioria dos brasileiros. A Comissão da Verdade trabalha para expor muitos crimes dos militares e civis aliados, como forma de resolver historicamente muitos desses danos trágicos.
Hoje vemos pessoas como Lobão - o roqueiro que outrora era amigo dos falecidos Júlio Barroso e Cazuza (que provavelmente estaria defendendo Dilma) e hoje se entrosa com o neo-medieval Olavo de Carvalho - , Rodrigo Constantino, Reinaldo Azevedo, Eliane Cantanhede e Merval Pereira defendendo um direitismo alucinado e paranóico, às vezes preocupante, em outras risível.
Preocupante, porque eles possuem o ímpeto de desejarem um projeto de país claramente excludente, e entre seus ícones inspiradores se inclui o militar e político Jair Bolsonaro, conhecido por suas posturas notoriamente antissociais. Querem um Brasil reduzido a mero fantoche dos EUA, de preferência os EUA sonhados pelo Tea Party, grupo de extrema-direita surgido naquele país.
Risível, porque eles adotam visões paranoicas contra o PT e contra qualquer tipo de reformismo social. Nenhum de seus manifestantes sequer tem a erudição que o udenista Carlos Lacerda tinha, por mais grosseiro e temperamental que possa parecer, mas inegavelmente inteligente e culto mesmo quando dizia inverdades.
Isso porque o que se lê, por exemplo, no blogue de Reinaldo Azevedo é grosseria pura, trolagem profissional, rancor puro. Já não é mais a oposição saudável ao PT nem sequer discordâncias parciais ao seu governo, quando se consideram erros e acertos do partido, mas um ódio intolerante em que até virtudes viram defeitos só porque foram feitos pelo PT.
Reinaldo, grosseiro, bravateiro e rancoroso nos seus textos, chegou mesmo a dizer que "golpismo" é querer que se calem as manifestações pela intervenção militar, logo ele que, defensor da "liberdade de expressão", não reconhece o direito de alguém eleito pelo povo exercer o poder.
LUIGI ZINGAZI - Ao entrevistar o economista italiano, Veja, sem saber, defendeu ideias já adotadas pelo governo do Partido dos Trabalhadores.
É claro que é melhor ser direitista sincero do que se disfarçar de esquerdista para agradar amigos e colegas de trabalho ou para obter vantagens pessoais ou financeiras por trás de um apoio aqui e ali às causas progressistas.
Exemplo patético é a do professor Eugênio Raggi, de Belo Horizonte, que nas mídias sociais adota a mesma linguagem grosseira de Reinaldo Azevedo, mas se passa por adepto do PT para agradar seus colegas de classe.
Outro exemplo é de Pedro Alexandre Sanches, cria do Projeto Folha (embuste neoliberal lançado por Otávio Frias Filho, outro "coxinha" histórico), que nos seus passeios pelas redações esquerdistas despejou todos os seus preconceitos da Folha de São Paulo sobre cultura popular, mas jura não ter qualquer vínculo com as escolas tucanas de etnografia neoliberal pós-moderna.
O grande problema não é ser de direita, que faz parte do jogo democrático, mas ser direita histérico e lunático, ou, por outro lado, direita envergonhada, enrustida, pintada com as tintas frágeis e desmancháveis do guache vermelho, forjando um esquerdismo que a ninguém convence por mais que as conveniências forjem um vínculo permanente com as forças esquerdistas.
No caso da passeata golpista, Lobão jura que o evento não defendia um novo golpe militar. Mas seus manifestantes claramente defendem uma intervenção militar, nos mesmos moldes da que foi feita em 01 de abril de 1964 mas oficialmente creditada à sua véspera.
São pessoas que não entendem de História nem de legislação democrática. Parecem querer governar com os próprios umbigos. No fundo, são elites frustradas com a perda de seus privilégios sociais, e que arrumam qualquer desculpa para manter ou recuperar seus benefícios privativos de classe.
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