"A luta apenas começou. E a vitória deles (Dilma e o PT) foi com gosto de derrota, pois sabem que vem chumbo grosso por aí", ameaça um raivoso Rodrigo Constantino no seu artigo "Vitória de Pirro", publicado no jornal O Globo do último dia 28.
O artigo é uma expressão da postura rancorosa que a intelectualidade claramente direitista - o "outro lado da moeda" que mostra os intelectuais "bacaninhas", supostamente de esquerda mas oriundos dos círculos acadêmicos do PSDB, comprometidos com a bregalização da cultura popular - anda se expressando nos últimos meses, lembrando a histeria golpista de 1964.
Ao lado de Rodrigo Constantino, um roqueiro Lobão mergulhado no osbsucantismo ultradireitista, definiu a vitória de Dilma Rousseff como "uma tragédia". Paciência. Dilma foi reeleita até de forma apertada, mas legalmente legítima. O PT poderia tirar umas férias de Governo Federal, mas se uma considerável parcela do povo brasileiro quis mais quatro anos, temos que respeitar.
A histeria reacionária de Rodrigo e Lobão exageram nas críticas aos erros do PT. Eles reprovam até o que o PT realiza de positivo, num golpismo tão grotesco que nem Carlos Lacerda, que pelo menos era culto e, na intimidade, simpático, seria capaz de expressar, mesmo em suas piores histerias.
É evidente que o PT erra ao superestimar programas como o Bolsa Família e as cotas raciais nas universidades, medidas que deveriam ser paliativas, emergenciais, mas não formas definitivas de buscar qualidade de vida. Mas daí a dizer que a vitória do PT é "uma tragédia" e que vai "destruir a democracia" é um grande equívoco.
O PT é um partido de altos e baixos, nem tão esquerdista quanto se supõe. Ele é de centro-esquerda, o que significa que não é necessariamente comunista, mas defensor de um capitalismo reformista, que era até bem mais brando do que o que prometia o ainda moderado João Goulart.
Só que as elites brasileiras - os rancorosos "coxinhas" - , felizes no seu papel de subordinadas ao poderio do G-7 (grupo dos sete países mais ricos do mundo), não gostam de conquistas sociais que, mesmo de forma precária, tímida e nada imune a erros e omissões, andam ocorrendo no país.
Rodrigo e Lobão seguem a mesma paranoia que, dias atrás, fez Diogo Mainardi, outro reaça de carteirinha, chamar o povo nordestino de "gado bovino". Lá longe, na Itália, ele se acha com a capacidade (que não tem) de julgar o povo brasileiro conforme suas impressões pessoais.
Isso sem falar de Reinaldo Azevedo, um reacionário irritante que escreve de forma truculenta e que chamou jocosamente Dilma Rousseff de "represidenta" e fala em "resistência democrática", além de aplaudir a revolta oposicionista do tucano Aloysio Nunes, vice na chapa do derrotado Aécio Neves. Reinaldo é outro que não vai com a cara dos nordestinos, corroborando postura de Mainardi.
E logo o Nordeste, assim como o Norte, que começam a despertar contra o coronelismo que dominou tais regiões durante anos e que, no ramo do entretenimento, era simbolizado por ritmos caricatos como a axé-music e o "forró eletrônico", que tratavam o povo nordestino como se fosse um retardado inclinado a cultuar mulheres siliconadas, bebedeira e carrões caríssimos.
Só que a reação dos nordestinos a essa idiotização cultural é cada vez mais crescente que os dois chefões da axé-music (ritmo que, durante a era FHC, tão elogiada pelos "coxinhas", dominou todo o país), Bell Marques e Durval Lélis, hoje vivem de revival de suas carreiras medíocres e, perdendo mercado até em Salvador, tentaram engatar carreira em mercados menores no Rio de Janeiro.
O Sul e Sudeste é que andam sofrendo retrocessos, na medida em que adotam posturas coronelistas em relação à Cultura, Transporte, Economia, Educação e outras áreas, expresso tanto pelo reacionarismo de internautas "esclarecidos" que parecem viver em algum latifúndio do Pará quanto por intelectuais "bacanas" que parecem sonhar com subúrbios degradados no Acre.
Esse retrocesso é agravado pela onda de intolerância social e racial, pelas "patrulhas do estabelecido" que não aceitam críticas feitas a decisões dadas "de cima" por tecnocratas, executivos de mídia, publicitários e autoridades políticas, vindos tanto de retrógrados assumidos quanto de outros mais envergonhados e falsamente progressistas.
O que se teme com essa manifestação de ódio de Rodrigo Constantino, Lobão, Reinaldo Azevedo e Diogo Mainardi, entre tantos outros, é o aumento da histeria doentia na Internet, principalmente nas mídias sociais. Gente desinformada em História, que atribui ao judeu Karl Marx a criação ou apadrinhamento de uma ideologia anti-semita (contra os judeus), de trágica lembrança.
Pior: a arrogância desse pessoal é tamanha que eles sarcasticamente estão lançando a hashtag #SomosTodosBurros, achando que só eles são capazes de julgar a História e seus fatos mesmo tendo completo desconhecimento deles. Mas os piores ignorantes são aqueles que atribuem à sua estupidez uma corajosa lição de sabedoria.
Comentários
Postar um comentário