519 anos depois da pré-inauguração deste país chamado Brasil, que a historiografia oficial chama de "descobrimento", o maior país da América Latina se encontra em situação extremamente frágil.
Estamos entre a expectativa da entrevista com o presidente Lula, e os reflexos do que ocorreu na semana passada, quando o Supremo Tribunal Federal sofreu surtos de autoritarismo e censura.
Isso se deu por conta dos artigos publicados no blogue O Antagonista e na revista Crusoé, ambas de propriedade da empresa Empiricus.
Os veículos haviam noticiado a delação de Marcelo Odebrecht, um dos presos da Operação Lava Jato.
A respeito de uma mensagem do tempo em que José Antônio Dias Toffoli, hoje presidente do STF, era ministro da Advocacia-Geral da União.
Era 2007 e Marcelo Odebrecht mandou um e-mail para dois executivos da famosa empreiteira baiana, Adriano Maia e Irineu Meirelles.
O assunto era o acordo relacionado à ação da empreiteira nas hidrelétricas do rio Madeira, em Rondônia.
"Afinal vocês fecharam com o amigo do amigo do meu pai?", perguntou Marcelo nas mensagens, sem explicar o teor da mesma e sem mencionar se algum pagamento havia sido envolvido no acordo.
Segundo Marcelo, o "amigo do amigo" de Emílio Odebrecht, pai do delator, é Dias Toffoli.
Dias Toffoli não gostou e seu parceiro Alexandre de Moraes ordenou que Crusoé e O Antagonista retirem as matérias relacionadas a essa revelação, sob pena de multa diária de R$ 100 mil.
Além disso, os responsáveis das publicações e de seus artigos teriam 72 horas para deporem à Polícia Federal.
Moraes contou com o apoio do próprio Dias Toffoli na decisão.
Dois outros ministros do STF, Celso de Mello e Marco Aurélio Mello, se posicionaram contra a decisão de Moraes, definindo-o como censura à liberdade de informação.
Alexandre de Moraes teve que recuar da decisão e suspendeu a censura.
O caso repercutiu mal. Até a imprensa conservadora reagiu contra a censura de Moraes.
O Supremo Tribunal Federal sofreu o pior desgaste desde que o órgão passou a se destacar nos preparativos para o golpe político-jurídico de 2016.
A chamada "ditadura de toga" deixou a máscara cair e acompanhou Sérgio Moro, ex-juiz que é ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, na sua crise de reputação.
A repercussão do caso abalou STF, Procuradoria-Geral da União, Executivo e Legislativo, criando um conflito entre os três poderes.
E isso ocorre num momento em que tanto Jair Bolsonaro e seu vice, o general Antônio Hamilton Mourão, sofrem ameaças de impeachment.
Mourão sofreu tais ameaças de aliados de Bolsonaro, incluindo o próprio "fisólofo" Olavo de Carvalho.
Os bolsonaristas acham que Mourão está sendo "indecoroso" e não gostam dele dando palpites ao presidente.
Já Bolsonaro é ameaçado de impeachment por várias de suas atitudes, sobretudo quebra de decoro e abuso nas mensagens divulgadas no Twitter. Inclusive aquela do "chuveiro de ouro", durante o Carnaval passado.
Recentemente, seu ex-rival na campanha presidencial de primeiro turno, o senador paranaense Álvaro Dias, declarou que, se Jair não resolver sanar as contas públicas, poderá sofrer impeachment.
A crise só está aumentando e os protagonistas do golpe de 2016 estão se desentendendo, num momento em que até Janaína Pascoal e, pasmem, Alexandre Frota, estão desapontados com o governo.
O Partido Social Liberal, de Jair Bolsonaro, virou uma torre de babel, com seus membros se desentendendo furiosamente.
Crusoé e O Antagonista são "filhos" do golpe e foram denunciar o suposto envolvimento de Toffoli em corrupção e ameaçaram ser censurados.
A plutocracia está decaindo? Difícil dizer.
O STF liberou a entrevista ao presidente Lula, revogando decisão do ministro Luiz Fux de censurá-la.
A entrevista com o ex-presidente Lula, que será feita aos jornalistas Mônica Bergamo e Florestan Fernandes Jr., é marcada para hoje mas será divulgada a partir de quarta-feira próxima.
Em 1943, o escritor José Américo de Almeida (cujo livro A Bagaceira, de 1928, eu li uns 15 anos atrás), candidato da campanha frustrada da sucessão de Getúlio Vargas em 1937 (cancelada pelo Estado Novo), como jornalista do Correio da Manhã, entrevistou Carlos Lacerda.
A entrevista quebrou a censura do Estado Novo e repercutiu de forma a pressionar o fim desse governo.
Será que a entrevista de Lula vai contribuir para o fim do governo Jair Bolsonaro?
Não se sabe, ainda. Mas o que se sabe é que a entrevista de Lula irá repercutir no mundo inteiro e será aí que haverá pressões internacionais contra o governo Bolsonaro.
Vamos ver como vão dar as pressões de fora, que cada vez aumentam diante de um Brasil retrocedido e rebaixado na comunidade das nações.
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