Deixei postagens dedicadas ao Rio de Janeiro para o fim de semana e só deixei para falar do caso Julian Assange hoje.
Ele foi preso há quatro dias, numa ação ilegal da polícia metropolitana britânica, que não podia entrar na Embaixada do Equador, em Londres, que por lei é uma extensão do território equatoriano.
A ação foi ordenada pelos EUA contra o australiano, acusado agora de fazer ciberpirataria, além de pequenas denúncias sob supostas práticas de assédio sexual ou estupro.
Assange se notabilizou quando ele e seu parceiro Bradley Manning - que, após uma cirurgia de mudança de sexo, se rebatizou Chelsea Manning - deixaram vazar no final de 2010 e em 2011 uma série de telegramas e planos secretos das autoridades estadunidenses.
Através do Wikileaks, organização liderada por Assange, essas informações sigilosas foram divulgadas, mostrando os bastidores da supremacia geopolítica dos EUA, com suas diversas mensagens a respeito de posições políticas, ações militares etc.
Isso provocou um escândalo e tornou-se um fenômeno de jornalismo investigativo que alimentou a mídia alternativa em todo o mundo, sobretudo no Brasil, mas também repercutiu na imprensa hegemônica e não necessariamente progressista.
A prisão de Assange foi feita após uma tendenciosa mudança de narrativa.
Ele, de uma espécie de jornalista investigativo informal, passou a ser creditado como hacker, além de eventual acusado de supostos escândalos sexuais.
Com isso, os EUA de Donald Trump fizeram de Assange um troféu mundial da retomada conservadora pós-2016, da qual o ex-presidente Lula é considerado um troféu brasileiro.
São prisões de caráter político, feitas ao arrepio da lei e sem um pingo de imparcialidade. Pessoas muito piores andam livres e soltas.
Até agora, por exemplo, Mark Zuckerberg não foi investigado devidamente pelos vazamentos de dados pessoais dos usuários do Facebook, que aconteceu mais de uma vez.
Assange aparece estranhamente tranquilo, para quem não vê as entranhas dos fatos.
Ele aparece dando um sinal de "tudo bem" com o polegar, e estava sorrindo e piscando o olhar para as pessoas.
Assange sabia que estava sendo alvo de uma prisão política, e resolveu jogar com isso.
Ao sair da embaixada equatoriana na capital inglesa, Assange segurava o livro A História do Estado de Segurança Nacional (History of The National Security State), de Gore Vidal.
Gore Vidal, falecido em 2012, no calor dos efeitos do Wikileaks, lançou o livro em 1988, baseado no trabalho de investigação que revelou o "complexo industrial-militar" há muito em curso nos EUA.
Mais ou menos o trabalho que Assange fez divulgando as mais diversas confidências relacionadas à atividade geopolítica do Império Americano.
Assange estava vivendo em asilo na embaixada equatoriana em Londres desde 2012.
Ele nasceu em 03 de julho de 1971, um pouco mais que três meses após meu nascimento, mas estava visivelmente envelhecido com uma grande barba.
Apesar disso, ele parecia jovial e um tanto esperto. A prisão dele é uma arbitrariedade perversa e uma violência à verdadeira liberdade de imprensa do mundo inteiro.e também um atentado contra os direitos humanos.
É provável que o criador do Wikileaks irá sofrer punições cruéis, devido à fúria das autoridades estadunidenses em ter seus segredos mundialmente revelados.
Mas Assange parece sentir-se tranquilo com a posição que ele terá na posteridade da História e na influência que seu legado trará para os jornalistas investigativos, profissionais ou não, do mundo inteiro.
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