Reviravolta no cenário de respaldo ao governo Jair Bolsonaro.
Antes bolsonarista, José Padilha afirmou sua decepção com o juiz Sérgio Moro, a cada vez mais distante da "heroica" figura que simbolizou artificialmente em 2016.
O cineasta de Tropa de Elite 1 e 2, que chegou a fazer uma série inspirada na Operação Lava Jato, havia chamado o ex-juiz e ministro da Justiça de Jair Bolsonaro de "samurai ronin".
A alegação era de que Moro agia com "independência política", mas Padilha se esqueceu que "ronin" era um tipo de mercenário.
Ontem Padilha escreveu um artigo na Folha de São Paulo dizendo que Moro perdeu sua "independência" e agora trabalha para a família Bolsonaro, que, sabemos, está envolvida com milicianos.
Padilha criticou o "pacote anti-crime" do ministro da Justiça, por ele favorecer o abuso policial e, sobretudo, a ação das milícias.
As milícias são grupos que envolvem policiais civis e militares corruptos que, paralelamente, exploram ilegalmente atividades como transporte coletivo (vans), TV por assinatura, gás, segurança etc.
Alguns milicianos foram homenageados por parentes e aliados de Jair Bolsonaro no Legislativo.
Recentemente, com a tragédia da Comunidade Muzema, no Itanhangá, descobriu-se que milicianos também investem em imobiliária irregular e prédios "populares" mal construídos, mas devidamente cobrados com aluguel.
A tragédia, ocorrida com a queda de dois edifícios, contabilizou, até a edição deste texto, ontem à noite, 15 mortos.
A queixa de Padilha é que o "pacote anti-crime" estimulará a violência abusiva, beneficiando, em parte, os milicianos.
Padilha engrossa a lista dos bolsonaristas arrependidos.
Ligado ao Instituto Millenium, ele apoiava o "funk" quando este era assumidamente ligado à mídia venal e tinha como maiores divulgadores Luciano Huck e Alexandre Frota, conservadores também estremecidos com o atual cenário político que, de alguma forma, apoiaram.
Através dos dois Tropa de Elite, redescobriu-se nomes de 1990 como MC Júnior & MC Leonardo e o segundo acabou se tornando dirigente da APAFUNK.
Nessa época o "funk" era a menina dos olhos das Organizações Globo e, em 2005, passou a ser uma espécie de "eguinha Pocotó de Troia" oferecida para as esquerdas.
Foi aí que as esquerdas morderam a isca: qualquer coisa que mostrasse pobres sorridentes era acolhido pelas esquerdas, sem aber dos opositores que lhe tomariam o poder uma década depois.
O "funk" era o "Cabo Anselmo" da Era PT e, enquanto as esquerdas eram seduzidas pelo discurso pseudo-libertário dos funqueiros, o povo pobre era desmobilizado e confinado no entretenimento.
Isso esvaziou os movimentos sociais que o "funk" dizia defender, e favoreceu o crescimento da oposição anti-petista.
E aí veio a Operação Lava Jato, as passeatas dos "coxinhas", e Dilma Rousseff teve seu segundo governo ceifado pela metade.
A Liga do Funk, não custa repetir, "protestou" contra a Rede Globo, mas depois foi gravar quadro para o Fantástico. Isso numa questão de poucos meses, em 2016.
Veio Michel Temer com seu "pacote de maldades" e seu governo bagunçado, que depois abriu caminho para Jair Bolsonaro levar adiante e radicalizar esse "pacote", com seu outro governo bagunçado.
E tudo isso diante da figura bonapartista de Sérgio Moro, que durante muito tempo foi visto como um estranho "herói da pátria", não bastasse um visual que remete a uma versão caricata do Clark Kent.
Depois que Sérgio Moro, meses após mandar prender Lula e dar chiliques cancelando suas férias por causa de um pedido de habeas corpus, virar ministro de Jair Bolsonaro, parte de seus admiradores se decepcionou com ele.
E se decepcionou mais ainda, ao saber que ele reuniu com armamentistas donos da Taurus e quando ele resolveu propor a redução de impostos para cigarros.
E com a divulgação de que o "pacote anti-crime" favorecerá milicianos, envolvidos em escândalos recentes que vão do assassinato de Marielle Franco à queda dos edifícios na Comunidade Muzema, passando por ligações com os Bolsonaro, Moro deixou de ser o pretenso herói de antes.
Isso num cenário em que os bolsonaristas estão se desentendendo e até sofrendo punições.
Danilo Gentili foi condenado à prisão em regime semi-aberto por ofender a deputada Maria do Rosário, cuja ação judicial foi acatada pela 5ª Vara Federal Criminal de São Paulo, que deu a sentença contra o dublê de humorista.
Gentili foi condenado por crime de injúria contra a deputada do PT gaúcho, que já é desafeta do atual presidente da República.
Outra ocorrência foi a sentença do ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, que ordenou à revista Crusoé e o portal O Antagonista a retirarem as reportagens que citam o também ministro e presidente do STF, Dias Toffoli.
As reportagens descrevem a delação do empreiteiro Marcelo Odebrecht, que, ao citar "um amigo do amigo de meu pai", envolvido num acordo com o advogado da empreiteira, Adriano Maia, afirmou ser o então advogado-geral da União, Dias Toffoli.
Moraes, que acusa os veículos de terem ofendido os membros do STF, determinou a cobrança de multa diária de R$ 100 mil aos responsáveis pelos dois veículos e pelas reportagens.
Os dois veículos, ligados à empresa Empiricus - já investigada pelo factoide de sua executiva Bettina Rudolph, que divulgou uma suposta receita para se tornar um milionário - , recorreram da decisão.
Os dias estão difíceis até para quem é anti-petista. Deve vir muita surpresa por aí. Preparem a pipoca.
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