Cerca de um ano e meio depois do suicídio do reitor da Universidade Federal Santa Catarina, Luiz Carlos Cancelier de Olivo, mais um suicídio denuncia os abusos da Operação Lava Jato.
Foi o do ex-presidente do Peru, Alan Garcia, que ao perceber que policiais chegaram a sua casa, na capital do país, Lima, ele deu um tiro na sua cabeça, morrendo depois de ser socorrido no hospital Casimiro Ulloa, perto da residência.
Ele era acusado de suposto envolvimento em esquema de propina da Odebrecht para sua campanha eleitoral de 2006.
Ele teria que atender à ordem de prisão de dez dias, determinada pela Justiça peruana.
Na manhã de ontem, a ordem de prisão foi dada e policiais estavam na área da casa de Garcia, que primeiro ligou para seus advogados.
Aparentemente, supunha-se que Garcia fosse se entregar, mas houve um disparo, cujo som foi notado nos arredores.
Garcia foi socorrido, chegou a ficar em estado crítico, mas morreu, com apenas 69 anos. Faria 70 anos no próximo 23 de maio.
É, portanto, um suicídio que assombra a seletividade da Justiça da Lava Jato, com reflexo em ações parceiras em outros países.
Garcia foi presidente do Peru entre 1985 e 1990 e entre 2006 e 2011. Era um político de tendência progressista, como os do Partido dos Trabalhadores no Brasil.
No ano passado, Garcia chegou a pedir asilo no Uruguai, refugiando-se na residência do embaixador uruguaio em Lima. Mas o presidente peruano Tabaré Vasquez negou o pedido.
No contexto da retomada ultraconservadora da América Latina, a tragédia de Alan Garcia é um abalo diante dos preparativos dos EUA para invadir Venezuela.
E trata-se de um mártir no processo de perseguição a governos progressistas, acusados de supostos esquemas de corrupção plantados por delatores, sabe-se lá sob que pressão.
É, portanto, uma voz que se cala, mas cuja tragédia foi o último barulho a incomodar o relativo sossego da retomada ultraconservadora pós-2016.
Esse barulho não salvará os movimentos progressistas, mas denuncia a crise de reputação que as elites que retomaram o poder em vários países, inclusive o Brasil, andam recebendo, mesmo a contragosto.
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