Sim, é esse mesmo o título desta postagem, já que desde uns 20 anos atrás a banda de Axl Rose, Guns N'Roses, virou a "vaca sagrada" do rock.
Pois decidi ouvir algumas coisas da novata banda Greta Van Fleet (não se lê "Greta", mas "Grita"), a banda estadunidense que está em turnê no Brasil, e realmente reconheço: a banda é muito boa.
Com toda certeza, a banda de Frankenmuth, Michigan, EUA, é fortemente influenciada pelo Led Zeppelin, e isso anda causando muita revolta em parte dos especialistas do rock.
Antes de eu ter alguma posição a respeito, eu pacientemente ouvi o comentário de Régis Tadeu, um crítico que admiro, sobretudo por suas críticas ao brega-popularesco, sobre o Greta Van Fleet.
Régis Tadeu simplesmente DETESTOU o grupo. Eu não adotei posição, mas respeito a opinião dele e admito que ele tenha lá suas razões para não gostar do Greta Van Fleet.
Aí resolvi escutar algumas faixas do Greta Van Fleet e eu simplesmente gostei muito.
As faixas são surpreendentemente bem tocadas e bem mixadas, o vocal de Josh Kiszka lembra Robert Plant no começo de carreira, mas tem uma emoção própria.
Só uns parênteses. O próprio Robert Plant, em entrevista feita em março passado, aprovou o trabalho do Greta Van Fleet e admitiu que ela é uma de suas bandas favoritas. Segundo ele, lembra o próprio Led Zeppelin na estreia.
O guitarrista Jake Kiszka e o baixista Samuel Kiszka, irmãos de Josh (Jake é gêmeo do vocalista), além do baterista Daniel Wagner, são excelentes músicos.
Temos que admitir que "imitar um som" não é de todo ruim porque, na década de 1960, muitas bandas muito legais eram imitadoras dos Beatles.
Além disso, as referências musicais do Greta Van Fleet são do mais puro clássico rock, e vão além das influências zeppelinianas, incluindo Fairport Convention, que já tem "Meet on the Ledge" coverizada pela banda;
O surpreendente é que os rapazes têm entre 20 e 22 anos e demonstram ter conhecimento profundo de rock dos anos 1970.
É bom gente assim dessa idade voltar a tocar instrumentos, se verificar que, muitas vezes, os rapazes dessa idade só querem saber de cantar e dançar um pop dançante chinfrim.
Se o som é fortemente influenciado por Led Zeppelin, indo para uma quase cópia, nota-se no entanto uma emotividade que já faz um diferencial.
Comparando com Guns N'Roses - com a ressalva que Slash também adorou o GVF e pelo fato que os instrumentistas do GN'R já tiveram projeto melhor com o finado Scott Weiland, o Hollywood Revolver - , o Greta Van Fleet ganha disparado.
O problema é que as gerações recentes se acostumaram mais com o espetáculo do que com a música ou outra capacidade de realizar bem alguma coisa.
No Brasil, isso é crônico. Foi a mentalidade de espetáculo que fez Jair Bolsonaro ser eleito presidente em 2018 e hoje vemos o desastre que isso deu.
As pessoas hoje são educadas pelo marketing, pelo reality show, pelos game shows e é óbvio, para elas o escândalo é muito melhor que a dignidade, e, neste contexto, os medíocres são "melhores" que muita gente realmente genial.
Se percebermos o Guns N'Roses, o grupo soa uma imitação do Led Zeppelin mais fajuta que a do Greta Van Fleet.
Faixas como "Welcome to the Jungle" e "You Could Be Mine" são risíveis para serem consideradas rock clássico. Só é "rock clássico" dentro daquele espírito Ploc 80, com sabor artificial de nostalgia.
Mas o Guns N'Roses é espetáculo, são os escândalos de Axl Rose. Assim como o Motley Crue, outro ícone do rock farofa, também é puro espetáculo.
Infelizmente, as gerações que vão dos 40 anos para baixo no Brasil querem picadeiro, querem pirueta e não arte.
Daí que causou burburinho o Bonde do Tigrão, depois da declaração do Zeca Dirceu chamando o "superministro" Paulo Guedes de "tchutchuca dos privilegiados".
Ou então o que motivou outro burburinho, a volta da dupla bubblegum Sandy & Júnior.
Por isso esse pessoal acha chato quando a coisa vai pela expressão artística, pelo intelectualismo analítico ou pela política mais transparente.
O que não for espetáculo nem escândalo, para esse pessoal, não presta.
Felizmente o Greta Van Fleet apareceu como um diferencial. Se a banda é ou não a salvação do planeta, isso será dito com o passar do tempo.
Os quatro rapazes estão apenas começando, só têm uns EPs e um primeiro LP, e estão trabalhando o segundo.
Portanto, nada de cobrança para os caras que estão começando bem. Temos é que dar tempo e deixar eles mostrarem sua proposta musical.
Espero que eles continuem nesse caminho e busquem evolui-lo dentro dele. O aval do próprio Robert Plant já é um aspecto positivo e animador.
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