O PRESIDENTE LULA DEFENDE UMA COBRANÇA BRANDA DE 2% DA FORTUNA DOS SUPER-RICOS.
Com as narrativas predominando nas mãos da classe média abastada, quando a realidade está subordinada a seus preconceitos e juízos de valor, dificilmente podemos compreender os reais problemas dos brasileiros.
A partir dessa visão monopolista, vinda de gente que, só por ter muito dinheiro, pode comprar até a verdade, muitos exageros distorcem a realidade quando se fala que um salário baixo de R$ 1.412 vai impulsionar a renda do povo e a taxação de 2% sobre as grandes fortunas, defendida pelo governo Lula, vai reduzir drasticamente as desigualdades sociais.
Para quem vive gastando dinheiro demais em consumismo, é fácil até escrever textões para defender suas convicções e rebater críticas e esclarecimentos, mesmo sem estar com a razão. A "verdade", nas redes sociais, não ocorre em função da coerência, da lógica ou do interesse público, mas da relativa unanimidade de umas centenas ou uns milhares de compartilhamentos e comentários concordantes, ainda que tais comentários se limitem a emoticons.
Até a cantora Anitta, hoje ídolo do público latino que consome pop ultracomercial nos EUA, criticou os super-ricos. "Ninguém precisa ficar bilionário", disse a carioca. Mas por que cobrar 2% das grandes fortunas não vai adiantar para reduzir as desigualdades sociais?
Já descrevi que o governo Lula quer cobrar 2% apenas duas vezes ao ano. O presidente vai ao Vaticano pedir apoio do Papa Francisco á esta causa. A porcentagem da cobrança já é pequenina por si só e, se for cobrada duas vezes ao ano, ou seja, de seis em seis meses, não causa sequer uma coceira nos bolsos dos magnatas, que na prática podem recuperar suas fortunas e até ficar mais ricos, pois perdem apenas dois por cento de suas fortunas duas vezes por ano, tendo tempo não só para recuperarem o dinheiro perdido como para ter até mais do que antes da respectiva cobrança financeira.
E devemos acrescentar que o próprio Lula permite a entrada de novos super-ricos, dos quais o setor de entretenimento, de esportes e de bebidas e cigarros são exemplos do acúmulo de dinheiro em dimensões bíblicas. As "verbas para emendas" parlamentares para votar a favor de Lula também acabam tornando as volumosas granas de deputados e senadores ainda mais robustas, aumentando ainda mais o clube de super-ricos.
Na lógica econômica, cobrar 2% dos bilionários parece garantir uns milhares de reais, às vezes, em tese, uns poucos milhões, mas diante da dívida social extrema da pobreza, que custa muito caro para o orçamento pois esse problema atinge principalmente descendentes de escravos e indígenas que no passado haviam sido vítimas da mais chocante barbárie humana, isso soa como se cobrassemos de um cidadão comum, por exemplo, um quilo de arroz como ingresso para um evento cultural.
Um sujeito que ganha dois bilhões de reais tende a pagar quarenta milhões por cada tributo. Sendo duas vezes ao ano, serão oitenta milhões. É uma verba que parece imensa, mas é insuficiente para resolver os problemas trágicos da população em situação de rua ou das favelas que, diferente da imagem fantasiosa e glamourosa trazida pela grande mídia, são um longo, dramático e, frequentemente, traumatizante problema social.
Tanto faz para a burguesia de chinelos que monopoliza as narrativas nas redes sociais cobrar 2% das grandes fortunas. Essa classe fantasiada de "gente simples" já vive do conforto de ter seu carrão para irem aos supermercados da moda fazer grandes compras sem olhar os preços dos produtos e se esbaldando na aquisição de supérfluos.
E quando o seleto clube de super-ricos ganha a adesão de novos agentes, como o empresariado do entretenimento e dos esportes, além da consolidação das fortunas exorbitantes de políticos e de empresários da cerveja e do cigarro, a coisa se agrava quando há, nisso, o consentimento de setores da chamada opinião pública. É chocante ver que, para muitos nas redes sociais, dependendo da pessoa, se enriquecer de forma abusiva é considerado "saudável" e "admirável".
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