Vivemos a perigosa supremacia de uma sociedade que, na essência, é tão ruim quanto a bolsonarista. A elite do bom atraso, ou seja, a mesma elite do atraso repaginada para os tempos "democráticos" de Lula 3.0, se mostra pior do que a encomenda, sendo esta autoproclamada "sociedade do amor" bastante egoísta, falsa, gananciosa e eventualmente tão rancorosa quanto os bolsonaristas que diz repudiar.
Esta elite se acha "democrática", mas sente alergia ao senso crítico. Preferem a fantasia agradável à verdade que lhes machuca, e os boicotes que fazem a textos questionadores mostra que essa burguesia enrustida não está aí para saber a verdade, ainda mais quando há denúncias contra ela e seu estranhíssimo culturalismo, tão vira-lata quanto o viralatismo oficialmente atribuído apenas ao bolsolavajatismo e à hidrofobia midiática.
No mercado de trabalho, a elite do bom atraso só quer contratar pessoas bonitas e divertidas. No concurso público, é o contrário, questões prolixas acabam fazendo, em parte, serem aprovados e contratados servidores que falam mal do trabalho pelas costas. Tanto pelo rigor das exigências quanto pela flexibilidade das concessões, sempre há injustiça, pois quem precisa realmente trabalhar tem dificuldades para obter o emprego de sua vocação.
Até parece que vivemos sob a Era Geisel. Não saímos dela. Apenas trocamos um general sisudo com jeitão de vovô de óculos por um outro velho, só que bonachão e generoso com a "criançada" que o apoia. Vivemos uma "democracia" para poucos, um "Brasil único" onde uns são "mais únicos" do que outros, e cuja elite se arroga em se achar "o povo" e "a espécie humana", pois o verdadeiro povo é destituído de ser considerado "povo", "gente" ou mesmo "ser humano". Cachorros são bem melhor tratados do que miseráveis em situação de rua.
O governo Lula 3.0 é uma catástrofe social, mas não para a elite do bom atraso que, evidentemente, sempre viveu bem mesmo sob os piores momentos da ditadura. Essa burguesia, através das gerações mais flexíveis que hoje têm 40, 50 anos, ensinou seus semelhantes a não serem "chiques demais" e capricham na atual etiqueta social que pintou com tintas tropicalistas o culturalismo burguês do "milagre brasileiro".
A festa do lulismo não é para todos. É para a patota hedonista que adora fazer barulho de madrugada, perturbando o sono dos trabalhadores. É para o burguês que não tem dinheiro para ajudar o próximo, mas tem grana de sobra para comprar cigarros. É para o bacana que tem seu carrão do ano, mas que se acha "pobre" porque paga IPVA. É para o influenciador digital que ganha inicialmente R$ 10 mil por mês, feliz em poder, em breve, fazer parte dos banquetes dos super-ricos solidários ao presidente Lula, condição que permite isenção total e até concessão de verbas para quem vive nadando em dinheiro.
A elite do bom atraso é uma sociedade bizarra, que quer impor seus valores para o mundo, se ostentando, com seus cartões de crédito e débito internacionais, nas suas viagens supérfluas ao exterior. Jogam comida fora, usam redes sociais de maneira compulsiva, ouvem a mesmice do hit-parade ou a mediocridade da música comercial, e consomem mídia adoidado, embora finjam odiar a mídia e seus astros. Sua nostalgia musical é um horror: Michael Sullivan, É O Tchan, Chitãozinho & Xororó cantando "Evidências" e por aí vai.
É uma sociedade que adora esses horrendos parquiletes (parklets), "currais" humanos que se vendem como "praças públicas" para atender a interesses de comerciantes. Instaladas em plenas ruas, essas aberrações estruturais só servem para a elite do bom atraso, a burguesia de chinelos invisível a olho nu (já que ela se fantasia de "gente simples" para enganar o povo), posar de "americana", pois os parklets trazem uma estética que imita o clima do Route 66, da Califórnia, de Las Vegas.
Os parquiletes, pelo seu caráter supérfluo e pela poluição visual que traz junto à agressão à mobilidade urbana ao atrapalhar o trânsito e o estacionamento de veículos, estão virando residências de mendigos, alertando para o fim do modismo dessas instalações, algo que a burguesia enrustida não gosta, porque, para ela, tudo o que desejam e decidem fazer tem que prevalecer até o fim dos tempos. Já começam a admitir, mesmo por contragosto, que a gíria "balada" (© Jovem Pan) está decaindo como jargão de fofoqueiros.
O mais assustador é que essa elite do bom atraso se esconde na multidão. Não dá para identificá-la pelo simples olhar. A elite do bom atraso é fantasiada de "gente comum", escondendo seus privilégios abusivos, sua obsessão ao supérfluo, seu egoísmo sem limites, seu consumismo animal que os faz fumar cigarros feito chaminés de fábricas soltando fumaças e beber cerveja em quantidades diluvianas. A burguesia de chinelos vive em prol de seus instintos e impulsos e odeia ser contrariada.
Outra coisa assustadora é que essa elite já conseguiu desembarcar da nau bolsolavajatista, atribuindo todos os males da humanidade a Sérgio Moro e Jair Bolsonaro, culpados até pela extinção dos dinossauros. Esquecem que Moro e Bolsonaro, embora reconhecidamente nefastos, são subprodutos do maléfico sistema de valores que insiste em permanecer no Brasil.
E o pior é que Lula vem com a promessa de colocar o Brasil no Primeiro Mundo, uma causa que deveria ser considerada impossivel, pois com essa elite "iluminada" que temos, defensora do atraso que lhes garante vantagens diversas - seja para proteger seus privilégios, seja para disfarçá-la de "gente simples" - , nosso país se manterá escravo de seu próprio retrocesso.
O grande consolo é que será impossível o Brasil entrar no Primeiro Mundo. Até pela razão de que o Primeiro Mundo não vai deixar que um país de apenas 524 aninhos de idade se atreva a tais pretensões. Que a elite do bom atraso se contente com o simulacro de Primeiro Mundo que sempre viveu, no bem-bom da sua existência.
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