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PANDEMIA DO EGOÍSMO HUMANO

NEM POSSUINDO BENS DE CONSIMO CAROS CONSEGUE FAZER A "BOA" SOCIEDADE BRASILEIRA FELIZ.

O hedonismo festivo e frenético da classe média abastada, cheia de dinheiro mas sem saber o que gastar e sem necessidade para ter tanta grana assim, está no auge, se bem que a “felicidade” dessa “sociedade do amor” já nem está assim tão feliz como se parece.

Depois da pandemia da Covid-19, quando as restrições sanitárias foram aos poucos descartadas, houve uma euforia de dimensões bíblicas de muito consumismo, emoções baratas e a falta de prazer por causa da própria rotina de ter mais do que precisa, com os desejos acima das próprias necessidades naturais.

Gente querendo demais e nunca satisfeita. Quer ter sempre mais do que possui. Gente dominada pelos instintos, agindo pelo piloto automático da rotina repetitiva. Por exemplo as “horas felizes” de sextas-feiras à noite, com rodadas de cerveja consumidas em doses diluvianas, frequentemente acompanhadas de cigarros que enfraquecem os pulmões a cada dia, até os corações não aguentarem mais.

Compras de carros do ano, viagens supérfluas ao exterior, consumo de bens caros e de objetos de luxo sem serventia, as cervejas cada vez mais caras - as pessoas praticamente trocaram marcas nacionais, como Skol, Antarctica, Brahma e Bohemia, pelas franquias gringas Corona, Budweiser, Stella Artois e, principalmente, Heineken, pelos rumores de que cerveja brasileira passou a ter sabor de urina fernentada - , cada aparelho de TV instalado em cada compartimento da casa de cada um desses abastados. Festas ou reuniões com altas risadas e muito barulho de madrugada, perturbando o sono da vizinhança. O "ser" em função da obsessão em "ter". A frenesi consumista virou uma doença grave, uma terrível insanidade mental vinda de pessoas que ganham dinheiro demais sem necessidade.

Até no serviço público, quando pessoas passam fácil em provas de concursos sem necessidade, os beneficiados da sorte acidental não ficam felizes, pois o salário que recebem não permite a vida nababesca sonhada. Numa comunidade do IPHAN no Orkut, em 2006, eu via servidores reclamando da autarquia a ponto de mentirem dizendo que não se faz inventário de bens culturais no referido instituto. Pelo que eu saiba, o IPHAN sempre fez inventário de bens e faz normalmente. É chilique de servidor estável que não tem tempo de férias nem dinheiro para viajar para os EUA e Europa.

E o mercado de trabalho, cujos recrutadores, pelo jeito, perderam a capacidade de discernimento entre reportagem jornalística e comédia de estandape, a preferência por pessoas “ágeis e divertidas” em detrimento dos realmente talentosos - inclusive os de talento latente, que começam errando, mas depois do aprendizado tiram de letra qualquer tarefa - , está exigindo demais sem necessidade. Já se pede experiência com carteira assinada até para desentortar banana. Tudo mediante critérios que apontam preconceitos que incluem meritocracia e etarismo.

O egoísmo humano virou uma onda, embora sempre tovesse sido uma tradição entre essa “boa” sociedade que se mascara de “gente simples” para ocultar seu DNA golpista, escravocrata, racista (no sentido do “racismo científico” de Jessé Souza, mais de classe do que de cor de pele), autoritária e até genocida. 

Mas em dado momento até a “sociedade do amor” mostra sua arrogância, seu autoritarismo e seu desprezo com a dor do próximo. “Está com problemas? Ore para Deus e tudo resolve”, “Quer mais salário? Peça ao seu patrão” e “Quer emprego? Se vira para arrumar um” são algumas das frases que os egoístas enrustidos costumam falar. E isso incluindo a classe que suplicou em 1964 a queda de João Goulart e hoje defende a reeleição de Lula.

O presidente Lula, aliás, está fazendo aumentar as desigualdades sociais, criando um novo clube de super-ricos. Enchendo de fortunas os famosos, os esportistas e os respectivos empresários do entretenimento e dos esportes, além de outros agentes, Lula também não mexe nos interesses dos banqueiros e juristas, dotados de fortunas exorbitantes, e, o que é pior, o presidente brasileiro, sob o eufemismo das “verbas para emendas”, cometendo o que o povo abomina há décadas: o enriquecimento abusivo de deputados e senadores, premiados com milhões de reais pelo voto concordante ao proposto por Lula.

Se as esquerdas médias chegaram a esse ponto de desdenhar trabalhadores e gostar de ver políticos se enriqecendo abusivamente através de um esquema de compra de votos, numa sociedade em que jogar comida fora e fumar um cancerígeno cigarro são motivos de orgulho, nota-se o quanto o nosso país está doente. E o egoísmo de uns privilegiados só é sintoma de uma sociedade que não parece sair dos tempos do general Ernesto Geisel. O Brasil anda fedendo a mofo tóxico.

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