Evidentemente, não é agradável dizer que o governo Lula, em seu atual mandato, é o mais medíocre e o pior dos três períodos em que o atual presidente da República governou o Brasil. Mas é, ou pelo menos deveria ser, missão do jornalismo falar de fatos e não sucumbir ao pensamento desejoso ou à tietagem, por mais que o emissor da mensagem jornalística tenha alguma posição.
Infelizmente, temos que admitir que o atual governo Lula, e detrimento dos outros dois mandatos anteriores, que haviam sido bons, é mais voltado para a propaganda. Lula não sai do palanque, busca mais a promoção pessoal e esbanjou ainda mais nas alianças com a direita moderada, de tal forma que ele usa o eufemismo de "democracia" para se esbaldar nas concessões ao neoliberalismo.
Mas aí vemos o quanto as narrativas oficiais, trazidas pelos seguidores de Lula, tentam mascarar as coisas. Se Lula não é mais visto como o antigo sindicalista, já que os lulistas não conseguem mais esconder seu desprezo às pautas trabalhistas, mais concentrados no identitarismo sociocultural e no assistencialismo socioeconômico, o presidente brasileiro é visto, ao menos, como o "grandioso líder popular democrático do mundo". Sim, não só do Brasil, mas do mundo.
Muitas fake news de esquerda andam sendo difundidas. Sim, fake news, temos que admitir. Salário de R$ 1.412, um valor baixissimo, creditado como "impulsionador do desenvolvimento econômico do povo pobre". As ditas "verbas para emendas" do Congresso Nacional, uma narrativa feita em "tecniquês" que não esconde ser uma compra de votos, mas mesmo assim faz muitos lulistas irem para a cama dormir tranquilos.
Um esforço hercúleo de propaganda tenta glorificar Lula. Supostas pesquisas de opinião, difundidas pelo Atlas / CNN e pelo Datafolha, apontam aprovação de Lula em índices de 51% e 36%, respectivamente. Supostas realizações do governo Lula são difundidas como se tivessem sido feitas na velocidade da luz e com a facilidade de fadas-madrinhas. E ainda se mente dizendo que Lula, que demonstra peleguismo em muitas de suas atitudes, continua tendo enorme aprovação entre o povo pobre.
Não, amigos. Dói dizer, é verdade, mas Lula, que esbanjava, ainda em 2018, às vésperas da prisão arbitrária da Operação Lava Jato, uma cumplicidade com as classes populares, hoje se aproxima mais das elites, em comportamento tipicamente pelego, termo dado ao proletário que, representando os trabalhadores, comete traição ao se aliar aos interesses do patronato.
Lula, tornando-se um pelego político, passou a ser desprezado por aqueles que, em outros tempos, o apoiavam incondicionalmente. O povo pobre, as pessoas falidas, como os inadimplentes que viraram réus por falta de dinheiro para pagar contas e dívidas, como os desempregados que, nas entrevistas de emprego, são passados para trás por influenciadores e comediantes que roubam vagas de emprego movidos pelo prestígio, os sem-teto com suas barracas sujas e rasgadas, os catadores de papelão, de lixo e de latinhas de bebidas, estes se sentem decepcionados com Lula.
É doloroso, sim, dizer isso. Mas é a realidade. Só que muita gente nas redes sociais não aceita essa realidade, e há uma obsessão em idealizar o Lula como se ele ainda fosse o grande líder de centro-esquerda e definir seu governo sempre conforme seu pensamento desejoso impõe.
A gente vê as redes sociais investindo nessas narrativas. Só que essa gente não é necessariamente o povo, digamos que nem chega a ser realmente algo parecido com classes populares. O lulismo hoje é um movimento de classe média abastada, pequeno-burguês, e as narrativas a favor de Lula são defendidas por gente que vive bem de vida, com seu carrão, com suas muitas televisões espalhadas em seus apartamentos, com dinheiro para viajar, uma vez ao ano, para o exterior, e para comprar um monte de supérfluos. E por aí vai.
O problema é que essa burguesia de chinelos, a elite do bom atraso invisível a olho nu, se mimetiza como se fosse "gente simples e humilde". É aquela falsidade do internauta ou da internauta que se acham as "pessoas mais legais do mundo", e por isso lutam o tempo todo para ter a verdade ou, pelo menos, a palavra final, em suas mãos.
A realidade que se dane. A verdade, desagradável, não deve ser aceita. A fantasia, a mentira que conforta, a ilusão que alegra, tudo isso tem que prevalecer, pouco importando se Lula mudou para pior, estando aquém do gestor dos dois mandatos anteriores, substituído pelo superstar do PT que busca sua consagração apostando na "democracia do eu sozinho", em que só o presidente brasileiro decide e seus "súditos" vão brincar, festejar, dançar e "bebemorar".
Súditos? Sim, Lula manifestou desejo de exercer mais dez mandatos, o que a realidade não permite, apesar do presidente brasileiro jurar que pretende viver 120 anos. Só que Lula está visivelmente envelhecido, aparentando ter vinte anos a mais que sua idade de 79 anos, e com a voz debilitada, escondendo um câncer através da estória mal-contada da "dor no quadril", montada para evitar a reação dos bolsonaristas. Daí que Lula parece querer um "reinado" e não um mandato, e os lulistas são como se fossem os súditos do "Rei Luís", o "Rei Sol" brasileiro.
Os lulistas são uma espécie de "Clube de Assinantes VIP", ou aquele "clube de membros" que, nos canais do YouTube, pagam uma taxa para terem acesso ao conteúdo aprofundado que o serviço gratuito do respectivo canal bloqueia para o público comum. Só que os lulistas não pagam, eles são pagos para exaltar Lula, como as pessoas que integram coletivos culturais ou participam de esquemas de blindagem digital do atual governo.
Em todo caso, os lulistas são apenas uma elite seleta que vai do "pobre de novela", aquele pobre remediado que pode comprar grandes quantidades de cerveja no supermercado, ao famoso milionário e até bilionário, mas sem o poder de decisão das elites financeiras e magistradas. No meio desses extremos, uma classe média abastada que tenta ser a "dona da verdade", exercendo monopólio de influência na chamada opinião pública e no senso comum.
Eles nunca conheceram o chão de fábrica, ou, se conheceram, se esqueceram. Nunca viram uma favela ou, ao menos, as guardam em mente. Vivem no conforto de seus apartamentos de médio ou alto padrão, às vezes vivendo em mansão, ou transitam as ruas isolados em seus carrões ou confinados em seus jatinhos ou aviões de passageiros rumo ao exterior. Os lulistas, em grande e esmagadora maioria, hoje são constituídos dessa pequena burguesia que praticamente sequestrou as esquerdas.
E aí vemos o contraste entre o otimismo eufórico dos relatórios, estatísticas, cerimônias e comentários etc de Lula e seus seguidores, e a realidade dolorosa de quem não consegue entrar na festa identitária do lulismo. Lula fala num "Brasil único e para todo mundo", mas nem todo mundo pode ser "todo mundo" e, neste "país único", uns poucos privilegiados conseguem ser "mais únicos" do que outros. O resto que se vire para "ser feliz de novo".
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