Pular para o conteúdo principal

PAUTA OBSCURANTISTA ANTI-ABORTO É ALERTA DE QUE O REACIONARISMO POLÍTICO CONTINUA


O horrendo projeto de lei 1904 (PL 1904) mostra que o reacionarismo político continua de pé, num país que não consegue definir se já está reconstruído ou ainda vai reconstruir. Pelo jeito, o Brasil vai ser reconstruído, e a reconstrução será bem longa.

O projeto em questão é assinado pela bancada bolsonarista, mencionada depois deste texto, e compara o aborto, mesmo legal, ao homicídio. A proposta altera artigo do Código Penal ao defender que o aborto de fetos com mais de 22 semanas seja punido conforme a lei prevê para homicídio simples. As condições descritas são as seguintes:

1) Quando a gestante provoca o aborto ou consente que outra pessoa faça tal tarefa, a pena prevista passa de um a três anos de prisão para seis a vinte anos;

2) Quando a gestante tenha o aborto provocado por terceiro com ou sem o consentimento da mesma, a pena muda de um a quatro anos de prisão, para o caso de haver consentimento, e de três a dez anos, para o caso de não haver consentimento, para o prazo de seis a vinte anos, nas duas situações.

Grandes protestos ocorreram ontem em São Paulo (Avenida Paulista), no Rio de Janeiro (Cinelândia) e em Brasília (próximo ao Congresso Nacional). A justa revolta alerta para a dor das vítimas de estupros para as quais a gravidez acidental é traumatizante, e também pelo fato de que, em certos casos, quando a gravidez pode ameaçar a saúde, principalmente em crianças sem a formação corporal para aguentar a gestação, permitem o aborto legal, previsto em lei.

O aborto é condenado por correntes religiosas retrógradas e ultraconservadoras, que, sob o pretexto de "defesa da vida", condenam a prática de interromper a gravidez sob qualquer hipótese, como se uma gestante abortasse por pura diversão. O moralismo religioso retrógrado não vê que, em situações danosas à saúde da gestante, é preferível sacrificar a vida do feto para salvar a vida daquela que seria sua mãe.

A causa anti-aborto, de forma hipócrita, é defendida pelas mesmas forças sociais retrógradas que passam pano no feminicídio. Religiões neopentecostais costumam defender a causa, mas o Espiritismo brasileiro, que muitos incautos imaginam ser um oásis de progressismo e modernidade, também condena o aborto sob qualquer hipótese, com o agravante de sugerir para, nos casos de estupro, a vítima negociasse a guarda da criança com o agressor e, se possível, até se casar com ele.

O "médium da peruca" (iniciais são as consoantes da palavra "caixa") repudiava o aborto legal com certa veemência, alegando que a prática "iria interromper a missão reencarnatória de um filho". Para a religião "espírita", é preferível até sacrificar a gestante do que o feto, pouco importando se a grávida em questão tem muitos projetos de vida pela frente. É uma visão, portanto, que não é menos perversa e cheia de juízo de valor do que muita hidrofobia bolsonarista.

Para piorar as coisas, o Espiritismo brasileiro, em seu moralismo punitivista, culpabiliza as vítimas e, no caso do estupro, chega mesmo a dizer que a culpa é da vítima, que além de "transmitir energia sexual" para o estuprador, estaria, ao ser estuprada, "pagando pelas faltas passadas".

A Câmara dos Deputados aprovou com urgência a votação do PL 1904, cujos signatários são gente muito conhecida da turma bolsonarista, a começar pelo próprio filho do ex-presidente, Eduardo Bolsonaro, militante da causa ultraconservadora, e as hidrófobas de carteirinha, Bia Kicis e Carla Zambelli, além do jovem Nikolas Ferreira, com apetite reacionário atípico para sua idade de 28 anos.

Com a urgência, o projeto de lei entra em plenário tanto na Câmara quanto no Senado, e, no caso de ser aprovado, o PL 1904 será entregue à sanção ou ao veto do presidente da República. Pelo menos sabemos do ponto positivo de Lula, que neste caso, tende a vetar firmemente o projeto de lei, mantendo as condições autorizadas do aborto legal.

Aqui neste blogue manifestamos o repúdio total ao PL 1904 e exigimos respeito e apoio às sofridas vítimas de estupro que motivaram, motivam ou deveriam motivar as práticas de aborto autorizadas por lei, porque elas sofrem os traumas desse crime cruel, que muitas vezes lhes traz problemas psicológicos graves, devido à violência dos estupradores. São traumas que costumam durar a vida inteira e provocam até insegurança e medo.

Portanto, ficamos solidários a essas vítimas e apoiamos o aborto legal. E, para conscientizar as pessoas, vamos publicar a lista dos autores do horrendo projeto de lei, bolsonaristas que já estão sendo jocosamente apelidados de "bancada do estupro". São eles:

Sóstenes Cavalcante – (PL-RJ)
Evair Vieira de Melo – (PP-ES)
Paulo Bilynskyj – (PL-SP)
Gilvan da Federal – (PL-ES)
Filipe Martins – (PL-TO)
Luiz Ovando – (PP-MS)
Bibo Nunes – (PL-RS)
Mario Frias – (PL-SP)
Palumbo – (MDB-SP)
Ely Santos – (Republicanos-SP)
Simone Marquetto – (MDB-SP)
Cristiane Lopes – (União-RO)
Renilce Nicodemos – (MDB-PA)
Abilio Brunini – (PL-MT)
Franciane Bayer – (Republicanos-RS)
Carla Zambelli – (PL-SP)
Frederico – (PRD-MG)
Greyce Elias – (Avante-MG)
Ramagem – (PL-RJ)
Bia Kicis – (PL-DF)
Dayany Bittencourt – (União-CE)
Lêda Borges – (PSDB-GO)
Junio Amaral – (PL-MG)
Coronel Fernanda – (PL-MT)
Eurico – (PL-PE)
Alden – (PL-BA)
Cezinha de Madureira – (PSD-SP)
Eduardo Bolsonaro – (PL-SP)
Pezenti – (MDB-SC)
Julia Zanatta – (PL-SC)
Nikolas Ferreira – (PL-MG)
Eli Borges – (PL-TO)
Fred Linhares – (Republicanos-DF)
 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

BRASIL TÓXICO

O Brasil vive um momento tóxico, em que uma elite relativamente flexível, a elite do bom atraso - na verdade, a mesma elite do atraso ressignificada para o contexto "democrático" atual - , se acha dona de tudo, seja do mundo, da verdade, do povo pobre, do bom senso, do futuro, da espécie humana e até do dinheiro público para financiar seus trabalhos e liberar suas granas pessoais para a diversão. Controlando as narrativas que têm que ser aceitas como a "verdade indiscutível", pouco importando os fatos e a realidade, essa elite brasileira que se acha "a espécie humana por excelência", a "classe social mais legal do planeta", se diz "defensora da liberdade e do humanismo" mas age como se fosse radicalmente contra isso. Embora essa elite, hoje, se acha "tão democrática" que pretende reeleger Lula, de preferência, por dez vezes seguidas, pouco importando as restrições previstas pela Constituição Federal, sob o pretexto de que some

A GAFE MUNDIAL DE GUILHERME FIÚZA

Há praticamente dez anos morreu Bussunda, um dos mais talentosos humoristas do país. Mas seu biógrafo, Guilherme Fiúza, passou a atrair as gargalhadas que antes eram dadas ao falecido membro do Casseta & Planeta. Fiúza é membro-fundador do Instituto Millenium, junto com Pedro Bial, Rodrigo Constantino, Gustavo Franco e companhia. Gustavo Franco, com sua pinta de falso nerd (a turma do "cervejão-ão-ão" iria adorar), é uma espécie de "padrinho" de Guilherme Fiúza. O valente Fiúza foi namorado da socialite Narcisa Tamborindeguy, que foi mulher de um empresário do grupo Gerdau, Caco Gerdau Johannpeter. Não por acaso, o grupo Gerdau patrocina o Instituto Millenium. Guilherme Fiúza escreveu um texto na sua coluna da revista Época em que lançou uma tese debiloide. A de que o New York Times é um jornal patrocinado pelo PT. Nossa, que imaginação possuem os reaças da nossa mídia, que põem seus cérebros a serviço de seus umbigos! Imagine, um jornal bas

POR QUE A GERAÇÃO NASCIDA NOS ANOS 1950 NO BRASIL É CONSIDERADA "PERDIDA"?

CRIANÇA NASCIDA NOS ANOS 1950 SE INTROMETENDO NA CONVERSA DOS PAIS. Lendo as notícias acerca do casal Bianca Rinaldi e Eduardo Menga, este com 70 anos, ou seja, nascido em 1954, e observando também os setentões com quem telefono no meu trabalho de telemarketing , meu atual emprego, fico refletindo sobre quem nasceu nos anos 1950 no Brasil. Da parte dos bem de vida, o empresário Eduardo Menga havia sido, há 20 anos, um daqueles "coroas" que apareciam na revista Caras junto a esposas lindas e mais jovens, a exemplo de outros como Almir Ghiaroni, Malcolm Montgomery, Walter Mundell e Roberto Justus. Eles eram os antigos "mauricinhos" dos anos 1970 que simbolizavam a "nata" dos que nasceram nos anos 1950 e que, nos tempos do "milagre brasileiro", eram instruídos a apenas correr atrás do "bom dinheiro", como a própria ditadura militar recomendava aos jovens da época: usar os estudos superiores apenas como meio de buscar um status profissional

ADORAÇÃO AO FUTEBOL É UM FENÔMENO CUJO MENOS BENEFICIADO É O TORCEDOR

Sabe-se que soa divertido, em muitos ambientes de trabalho, conversar sobre futebol, interagir até com o patrão, combinando um encontro em algum restaurante de rua ou algum bar bastante badalado para assistir a um dito "clássico" do futebol brasileiro durante a tarde de domingo. Sabe-se que isso agrega socialmente, distrai a população e o futebol se torna um assunto para se falar para quem vive de falta de assunto. Mas vamos combinar que o futebol, apesar desse clima de alegria, é um dos símbolos de paixões tóxicas que contaminam o Brasil, e cujo fanatismo supera até mesmo o fanatismo que já existe e se torna violento em países como Argentina, Inglaterra, França e Itália. Mesmo o Uruguai, que não costuma ter essa fama, contou com a "contribuição" violenta dos torcedores do Peñarol, que no Rio de Janeiro causaram confusão, vandalismo e saques, assustando os moradores. A toxicidade do futebol é tamanha que o esporte é uma verdadeira usina de super-ricos, com dirigente

"BALADA": UMA GÍRIA CAFONA QUE NÃO ACEITA SUA TRANSITORIEDADE

A gíria "balada" é, de longe, a pior de todas que foram criadas na língua portuguesa e que tem a aberrante condição de ter seu próprio esquema de marketing . É a gíria da Faria Lima, da Jovem Pan, de Luciano Huck, mas se impõe como a gíria do Terceiro Reich. É uma gíria arrogante, que não aceita o caráter transitório e grupal das gírias. Uma gíria voltada à dance music , a jovens riquinhos da Zona Sul paulistana e confinada nos anos 1990. Uma gíria cafona, portanto, que já deveria ter caído em desuso há mais de 20 anos e que é falada quase que cuspindo na cara de outrem. Para piorar, é uma gíria ligada ao consumo de drogas, pois "balada" se refere a um rodízio de ecstasy, a droga alucinógena da virada dos anos 1980 para os 1990. Ecstasy é uma pílula, ou seja, é a tal "bala" na linguagem coloquial da "gente bonita" de Pinheiros e Jardins que frequentava as festas noturnas da Zona Sul de São Paulo.  A gíria "balada", originalmente, era o

BRASIL TERRIVELMENTE DOENTE

EMÍLIO SURITA FAZENDO COMENTÁRIOS HOMOFÓBICOS E JOVENS GRITANDO E SE EMBRIAGANDO DE MADRUGADA, PERTURBANDO A VIZINHANÇA. A turma do boicote, que não suporta ver textos questionadores e, mesmo em relação a textos jornalísticos, espera que se conte, em vez de fatos verídicos, estórias da Cinderela - é sério, tem muita gente assim - , não aceita que nosso Brasil esteja em crise e ainda vem com esse papo de "primeiro a gente vira Primeiro Mundo, depois a gente conversa". Vemos que o nosso Brasil está muito doente. Depois da pandemia da Covid-19, temos agora a pandemia do egoísmo, com pessoas cheias de grana consumindo que em animais afoitos, e que, nos dois planos ideológicos, a direita reacionária e a esquerda festiva, há exemplos de pura sociopatia, péssimos exemplos que ofendem e constrangem quem pensa num país com um mínimo de dignidade humana possível. Dias atrás, o radialista e apresentador do programa Pânico da Jovem Pan, Emílio Surita, fez uma atrocidade, ao investir numa

A LUTA CONTRA A ESCALA 6X1

Devemos admitir que uma parcela das esquerdas identitárias, pelo menos da parte da deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), se preocupa com as pautas trabalhistas, num contexto em que grande parte das chamadas "esquerdas médias" (nome que eu defino como esquerdismo mainstream ) passam pano no legado da "Ponte para o Futuro" de Michel Temer, restringindo a oposição ao golpe de 2016 a um derivado, o circo do "fascismo-pastelão" de Jair Bolsonaro. Os protestos contra a escala 6x1, que determina uma jornada de trabalho de seis dias por semana e um de descanso, ocorreram em várias capitais brasileiras, como Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Salvador e Porto Alegre, e tiveram uma repercussão dividida, mesmo dentro das esquerdas e da direita moderada. Os protestos foram realizados pelo Movimento Vida Além do Trabalho (VAT). A escala 6x1, junto ao salário 100% comissionado de profissões como corretor de imóveis - que transformam a remuneração em algo tão

DERROTA DAS ESQUERDAS É O GRITO DOS EXCLUÍDOS ABANDONADOS POR LULA

POPULAÇÃO DE RUA MOSTRA O LADO OBSCURO DO BRASIL QUE NÃO APARECE NA FESTA IDENTITÁRIA DO LULISMO. A derrota das esquerdas nas recentes eleições para prefeitos em todo o Brasil está sendo abastada pelas esquerdas médias, que agora tentam investir nos mesmos apelos de sempre, os "relatórios" que mostram supostos "recordes históricos" do governo Lula e, também, supostas pesquisas de opinião alegando 60% de aprovação do atual presidente da República. Por sorte, a burguesia de chinelos que apoia Lula tenta convencer, através de sua canastrice ideológica expressa nas redes sociais, de que, só porque tem dinheiro e conseguem lacrar na Internet, está sempre com a razão, e tudo que não corresponder à sua atrofiada visão de mundo não tem sentido. A realidade não importa, os fatos não têm valor, e a visão realista do cotidiano nas ruas vale muito menos do que as narrativas distorcidas compartilhadas nas redes sociais. Por isso, não faz sentido Lula ter 60% de aprovação conform

SUPERESTIMADO, MICHAEL JACKSON É ALVO DE 'FAKE NEWS' NO BRASIL

  O falecido cantor Michael Jackson é um ídolo superestimado no Brasil, quando sabemos que, no seu país de origem, o chamado "Rei do Pop" passou as últimas duas décadas de vida como subcelebridade, só sendo considerado "gênio" pelo viralatismo cultural vigente no nosso país. A supervalorização de Michael no Brasil - comparado, no plano humorístico, ao que se vê no seriado mexicano  Chaves  - chega aos níveis constrangedores de exaltar um repertório que, na verdade, é cheio de altos e baixos e nem de longe representou algo revolucionário ou transformador na música contemporânea. Na verdade, Michael foi um complexado que, por seus traumas familiares, teve vergonha de ser negro, injetando remédios que fragilizaram sua pele e seu organismo, daí ter abreviado sua vida em 2009. E forçou muito a barra em querer ser roqueiro, com resultados igualmente supervalorizados, mas que, observando com muita atenção, soam bastante medíocres, burocráticos e sem conhecimento de causa.

SOCIEDADE COMEÇA A SE PREOCUPAR COM A "SERVIDÃO DIGITAL" DOS ALUNOS

No último fim de semana, a professora e filósofa Marilena Chauí comparou o telefone celular a um objeto de servidão, fazendo um contundente comentário a respeito do vício das pessoas verem as redes sociais. Ela comparou a hiperconectividade a um mecanismo de controle, dentro de um processo perigoso de formação da subjetividade na era digital, marcada pela necessidade de "ser visto" pelos outros internautas, o que constantemente leva a frustrações que geram narcisismos, depressão e suicídios. A dependência do reconhecimento externo faz com que as redes sociais encontrem no Brasil um ambiente propício dessa servidão digital, que já ocorria desde os tempos do Orkut, em 2005, onde havia até mesmo os "tribunais de Internet", processos de humilhação de quem discorda do que "está na moda". Noto essa obsessão das pessoas em brincarem de serem famosas. Há uma paranoia de publicar coisas no Instagram. Eu tenho um perfil "clandestino" no Instagram, no qual