TEATRO QUE LEVA O NOME DA GRANDE ATRIZ SE PRESTA, HOJE, A HUMILHANTE FUNÇÃO DE ACOLHER PEÇAS TEATRAIS MEDÍOCRES, MORALISTAS E PIEGAS DE PURO OBSCURANTISMO RELIGIOSO.
Nosso Brasil está muito atrasado. É preocupante que, mediante essas condições, marcadas pela supremacia de uma ordem social que tomou o poder ainda nos tempos da ditadura militar, seus valores culturais ainda permanecessem e tivessem a arrogância megalomaníaca de querer dominar o mundo, se aproveitando do atual momento político da promessa ilusória de botar nosso país no Primeiro Mundo.
E isso se reflete na religião, como vemos no chamado Espiritismo brasileiro, na prática o Catolicismo medieval de botox com suas ideias dignas do século XII, fundamentadas na trevosa Teologia do Sofrimento.
Hoje mesmo o perfil Olhares de Sampa, no Instagram, dedicado à querida cidade de São Paulo, mordeu a isca e mostrou uma foto com uma banca que vende aqueles horrendos livros de um picareta religioso, o tal "médium da peruca" cujas iniciais são as duas consoantes de "caixa".
O "médium", blindado até o limite mais extremo, é oficialmente conhecido pela suposta missão de caridade, com uma narrativa cheia de fantasias e inverdades montada pela ditadura militar junto ao "movimento espírita" e a Rede Globo de Televisão, que passou a blindar essa religião medieval travestida de "moderna" depois que a novela A Viagem, da Rede Tupi, trouxe energias de mau agouro que derrubara aquela que foi a rede de televisão pioneira no nosso país.
A novela de 1975 também transformou o bairro da Casa Verde, em São Paulo, onde se realizaram boa parte das filmagens, numa área urbanisticamente paralisada, a exemplo de Várzea das Moças, em Niterói, onde um "centro espírita" impede, pela obsessão espiritual, que a população reivindique e lute pela construção de uma rodovia de ligação com o Rio do Ouro, que desafogaria o sofrido tráfego da RJ-106, rodovia estadual que exerce o papel humilhante de "avenida de bairro" no trecho niteroiense.
Aliás, a onda da nostalgia fake, capaz de endeusar, como falsas vanguardas, as músicas constrangedoras de Michael Sullivan, É O Tchan, Bell Marques e a intragável dupla Chitãozinho & Xororó (com sua pavorosa versão para a já cafona "Evidências"), tenta colocar a segunda versão de A Viagem, produzida pela rede da família Marinho, como um fenômeno pseudocult, bem ao gosto de um país cuja sociedade adora "tomar no cool".
E se A Viagem original fez derrubar a TV Tupi e a deixar a Casa Verde parada no tempo - o bairro é pessimamente servido em transporte, sem metrô e com poucas linhas de ônibus, e não tem um miolo comercial, obrigando longos deslocamentos para obter produtos e serviços - , a versão de 1994 quase arruinou a carreira de cineasta do ator Guilherme Fontes, que no entanto passa pano na novela que quase lhe fez um criminoso, acusado de uso ilícito e abusivo de dinheiro para concluir seu filme sobre Assis Chateaubriand, justamente o dono da TV Tupi.
O Espiritismo brasileiro é uma religião macabra e dotada de muita falsidade. Por trás de sua fachada "alegre", seu verniz "científico" e pelas bocas cheias de mel dos seus pregadores, a religião é azarenta, marcada por literatura fake atribuída falsamente a autores mortos e ao moralismo punitivista.
O tal "médium da peruca", figura traiçoeira ainda muito adorada por milhares de incautos, é a personalidade mais deplorável que se viu na história contemporânea de nosso país. Apesar da imagem "caridosa" que encanta muitos trouxas, o "médium" era tão reacionário que faz o Silas Malafaia dos momentos de ira parecer o Che Guevara no modo ternura.
O "médium" que foi autoproclamado como "lápis de Deus" foi um defensor árduo e incorrigível da ditadura militar, e até colaborou com ela de maneira ainda mais decisiva e entusiasmada do que a já decisiva e entusiasmada contribuição de um Cabo Anselmo da vida. Tanto que o "médium" foi condecorado por nada menos que a Escola Superior de Guerra, o "cérebro" da ditadura militar.
Alguém com um pingo de lucidez e neurônios funcionando iria duvidar da gravidade dessa condecoração, achando que o "médium" teria sido "forçado" a receber o prêmio e a ESG lhe feito a condecoração a contragosto? Acreditar nisso é fake news! a Escola Superior de Guerra não iria premiar alguém se essa pessoa não tivesse feito uma contribuição certeira para defender e zelar pela ditadura militar, que o próprio "médium" defendia como um regime que preparava o "reino do amor" do Brasil futuro. Com Brilhante Ustra, Sérgio Paranhos Fleury e tudo.
O próprio "médium" também tem um dado bastante sombrio, mas que ninguém quer investigar. O consentimento da morte suspeita de um sobrinho que, em 1958, quis denunciar as fraudes do tio e, antes que fizesse uma devassa no "movimento espírita", sofreu calúnias e ameaças dessa religião que diz repudiar atacar até o pior inimigo. A morte do sobrinho teria sido por envenenanemto, conforme alertou matéria de Manchete, de 09 de agosto de 1958.
Até a "caridade" que serve de "carteirada" para o "médium" é fajuta e não passa de uma grande farsa. Sejam os pobres que eram humilhados a enfrentar horas de filas para receber, por mês, donativos que se esgotavam em dois dias, sejam os familiares de mortos que recebiam mensagens fake, as tais "cartinhas dos entes queridos" (fenômeno usado como "cortina de fumaça" para abafar a crise da ditadura militar após o "milagre"), as tais "cartas marcadas" tão traiçoeiras quanto um trote telefônico dos golpes financeiros.
Não há como blindar um sujeito desses, mas infelizmente as pessoas persistem. Vai e volta algum trouxa - me sinto forçado a classificar esse alguém como um "otário", mas com certo pesar porque muitos embarcam na boa-fé nessa farsa - decide usar frases do "médium" para "alegrar o dia", para depois contrair câncer, ser assaltado ou ter que ser socorrido rapidamente ao hospital por conta de um grave problema de saúde surgido "do nada".
E aí vemos que o portal Olhares de Sampa tornou-se a mais nova vítima dessa adoração tóxica ao "médium", meses depois de Mariana Rios, após publicar mensagens do charlatão de Uberaba, ser "premiada" com um grande assalto em sua casa. Meses atrás, dois corretores de imóveis de empreendimentos daqui de Sampa também foram para o hospital depois de se lembrarem do "lápis de Deus": um contraiu Covid-19 e outro teve sérios problemas cardíacos. Por pouco, não morreram.
Mas há também o caso humilhante do Teatro Bibi Ferreira, aqui em Sampa, que tem uma destinação nada digna com a grandeza da saudosa atriz e diretora, filha do gigante do teatro, o mestre Procópio Ferreira (que eu vi na TV através do filme Titio Não é Sopa, de 1959).
A casa teatral hoje abriga as medíocres peças "espíritas", dotadas de muita pieguice, eventual humorismo tolo e datado e temáticas simplórias de embolorado moralismo religioso. Peças que podem fazer muita gente cair em lágrimas - a tal "masturbação pelos olhos", ou seja, a comoção humana reduzida a um mero divertimento aleatório - , mas são de um vazio dramático e cultural gritantes.
O Espiritismo brasileiro, que ao lado da Igreja Universal do Reino de Deus e Igreja Internacional da Graça de Deus, formaram a frente patrocinada pela ditadura militar para combater a Teologia da Libertação católica, reflete o viralatismo cultural enrustido e essencialmente medieval que a elite do bom atraso, que monopoliza as narrativas nas redes sociais, defende como "valores perenes" para nosso país, perpetuando o atraso cultural e impedindo que o Brasil seja, ao menos, um país mais decente.
Ver nosso país, nessas condições degradantes, alcançar o Primeiro Mundo, é um acinte.
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