A IDEIA É SE PASSAR POR "GENTE SIMPLES" E CONSUMIR QUE NEM DOIDO.
Nosso país vive uma fase bizarra. Na pressa de conquistarmos o Primeiro Mundo, por conta das promessas mirabolantes do presidente Lula, poucos se dão conta de que o Brasil está culturalmente deteriorado e socialmente falido, o que impede que, mesmo com a Economia aparentemente em ordem, nossa nação tenha condições de entrar no clube dos desenvolvidos.
Dizer essa verdade contundente revolta muitos internautas, para os quais a realidade tem que estar a serviço das fantasias, crendices e pensamentos desejosos dessa classe de privilegiados. São eles que monopolizam as narrativas predominantes nas redes sociais, de forma que a visão oficial da realidade brasileira quase nunca se liberte do fardo da mediocridade e das visões fantasiosas.
Se as redes sociais estivessem acessíveis àqueles que acumulam contas e dívidas há muito tempo não pagas, que vivem de vender caixas e papelão e latinhas esmagadas de bebidas, que trabalha no chão de fábrica e na aragem de terra ou que apenas vive o dia e noite numa calçada, a visão do nosso país seria diferente. Em vez de burguesinhos adorando “funk”, teríamos favelados falando de jazz.
Mas, paciência, se até a “sociedade do amor” tem uma ojeriza com apetite olavista para boicotar textos que falam que fumar cigarro causa câncer, a realidade hoje é escrava das fantasias da “gente bem” da Casa Grande pós-moderna e pós-tropicalista. Vivemos a República do Instagram, cujo nome completo é República Democrática do Instagram e do Tik Tok, o nome formalmente sociológico do Brasil de Lula 3.0.
Há um clima tóxico de hedonismo, divertimento e consumismo sem limites. Gente inescrupulosa capaz até de perturbar a vizinhança rindo de forma estridente e neurótica durante a madrugada, sem ter o cuidado de expor suas vidas particulares em piadas sem graça que só essa gente acha engraçadas.
A elite do bom atraso, autoproclamada “sociedade do amor”, é um monstro criado por breves anos de Temer, Bolsonaro e Covid-19. Depois desses períodos de suplício, que não atingiram a elite do bom atraso, sempre no bem bom em momentos de crise brasileira, essas pessoas passaram a ter um apetite desmedido em consumir bens e emoções baratas, achando que a vida é sempre uma festa.
E nada melhor para essa classe do que se mascarar de gente simples e se misturar com os grupos identitários, nesta festa que a “boa” sociedade acha que nunca terá fim. E aí vemos uma elite cheia de dinheiro que se acha “mais povo que o povo” só porque absorveu parcialmente hábitos que, em tese, estão associados às classes populares.
Se achando a “classe social mais legal do planeta“, a elite do bom atraso, que hoje se protege sob o paletó azul do presidente Lula, acha que só ela pode ser “o povo”. Essa classe se acha “a humanidade”, dona de tudo, da verdade ao futuro, e acha que só ela pode ser “povo”, daí seu mimetismo em esconder seu caráter de classe, falando português errado - mas acrescido de “dialetos” em portinglês, como “doguinho”, por exemplo - , “caprichando” na forma populista de ir a bares e estádios de futebol e a preferir ouvir o som popularesco, a música pseudopopular durante anos blindada pela intelectualidade “sem preconceitos” mas muito preconceituosa.
O povo é que não pode ser povo, perdendo voz e vez nas redes sociais, nos direitos e deveres de cidadão e de consumidor, do direito ao trabalho, à moradia, à alimentação digna. Se o pobre não é aquele estereótipo feliz da novela, realizando “festas de aniversário” todo fim de semana e podendo colocar vários aparelhos de TV em tudo quanto é cômodo na casa, o pobre da vida real só tem a calçada suja como seu leito de amarguras.
E depois das restrições sociopolíticas do bolsonarismo e das sanitárias da pandemia, a elite do bom atraso quintuplicou seu apetite consumista bem mais do que nos tempos do “milagre brasileiro”. Com muito dinheiro no volso, seus indivíduos querem tudo para si, mas num consumo tão voraz de bens e emoções baratas que já nem sentem os sabores das pizzas, vitaminas de açaí, hambúrgueres, croissants, feijoadas e outros pratos e bebidas. E trocaram cerveja nacional pelas franquias de marcas estrangeiras abalados pelos rumores de que a bebida local tem “gosto de mijo”.
Com isso, a “sociedade do amor”, ocupada em consumir e divertir de forma frenética e obsessiva, se fantasia de povo para tentar nos fazer crer que tudo está bem neste Brasil sem medo e sem amor.
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