Morto em 2014, o ator José Wilker estaria, sem dúvida alguma, no lado oposto de Regina Duarte, sua colega na novela Roque Santeiro, da Rede Globo de Televisão, transmitida entre 1984 e 1985.
Tendo sido um dos ativistas da cultura brasileira e presidido a Riofilme, Wilker tinha uma postura progressista em relação à cultura.
Sua morte deixou uma grande lacuna e subtraiu de nós um grande e influente opositor das manobras que Michel Temer e Jair Bolsonaro fizeram contra o setor da Cultura no Brasil.
É bastante irônico que, em que pese vários atores mortos da antiga novela, como foi o caso de Wilker, alguns outros atores são hoje protagonistas de controvérsias políticas e ideológicas dos últimos anos.
Curiosamente, por exemplo, Patrícia Pillar e Alexandre Frota estiveram num mesmo núcleo de personagens, que era uma equipe de cinema que, no enredo, se envolveu na produção de um filme sobre Roque Santeiro.
Patrícia Pillar foi casada com Ciro Gomes e hoje milita na causa progressista.
Já Alexandre Frota virou direitista, chegou a apoiar Jair Bolsonaro, mas hoje é um dos mais enérgicos opositores do presidente. Virou direitista moderado, ao lado de Lobão, Joyce Hasselmann e Janaína Paschoal, entre outros.
Antiga namoradinha do Brasil, Regina Duarte tornou-se uma das militantes do ultraconservadorismo brasileiro de maior destaque.
E ela, como secretária de Cultura, seguirá no mesmo projeto político das gestões anteriores, mas talvez sem o extremismo germânico de Roberto Alvim.
Bem ou mal, Regina Duarte é ultraconservadora, mas de um jeito, digamos, "bem brasileiro" de aderir ao fascismo.
O que não impede que a tal "nova cultura", a tal "nova arte", possa ser implementada, inclusive com o tal Prêmio Nacional das Artes anunciado pelo antecessor.
O que podemos também dizer é que Regina Duarte, no que se diz a Lula, teve sintonias espirituais com um famoso "médium espírita", tido como "símbolo de paz, caridade e amor ao próximo". Sim, aquele que usava peruca e óculos escuros e fazia literatura fake creditada aos mortos.
Os dois manifestaram o mesmo horror ao petista, tinham medo de ver um ex-torneiro mecânico governando o Brasil. Na época, rezavam para Deus trazer a vitória eleitoral a um candidato do PSDB, que era o partido preferido das elites conservadoras da época.
Regina Duarte ficou "sozinha" nessa comparação, porque o tal "médium" morreu meses antes de Lula ter sido eleito presidente do Brasil. E ainda há esquerdistas que pensam que o tal "médium" era "progressista". Coitados.
Mas é isso mesmo. As esquerdas se iludindo com referenciais de centro-direita, e o apoio aos mesmos criou condições para o golpe político de 2016.
Agora as esquerdas começam a entender suas debilidades. Ainda não conseguem um meio de criar mobilizações monstro que pressionassem Jair Bolsonaro até ele renunciar ao poder.
Ficam discutindo que meios, com que roupa, qual o patrocínio, que batom usar, se vai chamar até o cachorrinho de estimação para participar, se vai ter rodízio de chope, se Odair José vai tocar.
Confundem manifestação com espetáculo, ativismo com entretenimento, e engolem a chamada Revolução Popular Híbrida como se fosse um protesto popular de verdade.
As esquerdas ainda estão em estado de choque diante do risco do desmascaramento oficial do tal "baile funk" que a Furacão 2000 armou para cooptar as esquerdas.
Oficialmente, o "baile funk" de Copacabana, em 2016, foi um "ato contra o golpe político", mas a verdade é que foi o contrário.
Quantas vezes terá que se dizer que Rômulo Costa é amigo de Luciano Huck, aliado dos barões da grande mídia, e agiu não em favor das forças progressistas, mas contra elas, usando o "funk" para abafar e neutralizar o teor do protesto?
Infelizmente, a verdade sobre certos fatos históricos não aparece no calor do acontecimento.
Será preciso esperar uns 20 anos para explicar para as esquerdas que o "funk" nunca foi seu aliado e que o gênero era usado como "cortina de fumaça" para desviar as forças progressistas de pautas mais prioritárias, como a reforma agrária e a manutenção dos direitos trabalhistas.
Infelizmente, as esquerdas ainda pensam estar em 2002 e acham que acolher referenciais culturais de centro-direita irá trazer a paz social e o progresso do Brasil.
Enquanto isso, o governo Jair Bolsonaro segue em frente, enquanto as esquerdas insistem em gostar de tudo que Luciano Huck gosta, apesar de não gostarem deste.
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