Dois episódios nos últimos dias sinalizam que o apresentador Luciano Huck se prepara para "jantar" as esquerdas brasileiras.
Um é a pesquisa do Datafolha que, considerando 12 personalidades do cenário político que seriam virtuais presidenciáveis, apontou semelhança entre apoiadores de Luciano Huck e Lula.
Esta pesquisa considerou as seguintes personalidades:
Jair Bolsonaro, Sérgio Moro, Lula, General Antônio Hamilton Mourão, Ciro Gomes, Manuela d'Ávila, Fernando Henrique Cardoso, João Dória Jr., Marina Silva, Rodrigo Maia, Luciano Huck e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre.
Em maioria, os apoiadores de Huck e Lula são moradores do Nordeste e possuem apenas o ensino fundamental completo.
Outro episódio é a conversa que o governador do Maranhão, Flávio Dino, teve com o apresentador e empresário, que fez surgirem rumores, divulgados por Lauro Jardim, de O Globo, de que Dino e Huck estariam montando uma chapa, da qual o jurista e governador seria o vice.
Dino negou essa intenção, mas afirmou que prefere Luciano Huck conversando com ele do que com Jair Bolsonaro.
O pretexto é "furar" a bolha das esquerdas e dialogar com não-esquerdistas.
Flávio Dino também conversou com Fernando Henrique Cardoso.
A ideia de dialogar com não-esquerdistas, em si, não é ruim, mas o problema está em escolher as pessoas erradas para a empreitada.
Esse foi o mal das esquerdas: acolheu aliados políticos direitistas e partidos que tinham como filiados nomes como Jair Bolsonaro, Marco Feliciano e Eduardo Cunha.
Mas o pior não é isso. Está na esfera cultural. As esquerdas receberam de braços abertos a intelectualidade pró-brega que, na verdade, fazia serviço free lancer para a mídia venal.
Na prática, isso é "dialogar" com Luciano Huck porque as esquerdas, ao acolherem os referenciais da centro-direita, acabam, mesmo sem querer, se afinando com o apresentador.
Dele acolheram referenciais como o "funk", os "médiuns espíritas de direita (e, em um caso, com peruca)", os jogadores de futebol "pegadores" e até as mulheres-objetos.
Para piorar, as esquerdas acolheram musas piores do que Tiazinha e Feiticeira, porque suas respectivas intérpretes, Susana Alves e Joana Prado, não eram vulgares e, após a carreira, decidiram viver para seus maridos e filhos.
Aliás, esse era o temor de um empresário de um famosíssimo grupo de "pagode baiano", sucesso dos anos 1990, com uma dançarina mulher de um atleta. Consta-se que o empresário "comprou" o divórcio, porque precisa ver sua cliente solteira para não frustrar os fãs.
Mas recentemente essa dançarina foi vista abraçando a "ex" enteada, numa interação com a família do "ex" marido que não se vê nas it girls casadas com empresários.
Estas quase sempre aparecem sozinhas. Mas, quando o marido aparece, ele fica atrás, como se fosse um guarda-costas ou um personal trainer da esposa.
Quanto às outras musas, á o silêncio das esquerdas para nomes como Mulher Melão, Geisy Arruda e Solange Gomes, claramente militantes de uma forma machista de entretenimento "sensual".
As esquerdas ficam acolhendo tudo que pareça fazer o povo pobre sorrir, ainda que seja um sorriso manipulado, de boa-fé.
E aí cometem o erro, gravíssimo, de acolher a chamada cultura de centro-direita, apenas por ela evitar adotar um discurso raivoso e adotar um tom cordial, ainda que paternalista, diante do povo pobre.
Foi essa atitude que fez as esquerdas perderem o poder, porque achava que o povo pobre estava sendo abordado de maneira natural e realista.
Não estava. As esquerdas estavam acolhendo aqueles que exploravam o povo pobre de maneira caricatural, estereotipada e profundamente etnocêntrica e paternalista.
Funqueiros, "médiuns" e craques de futebol patrocinados pela mídia venal simbolizaram essa "pobreza de contos de fadas" que as esquerdas acreditaram como sendo "progressismo revigorante".
Acreditando nessa lorota, sem perceber o reacionarismo de muitos de seus agentes, as esquerdas abriram as portas para o golpismo político de 2016.
Foi a mesma crença que, em 1964, se deu à burguesia nacional. Achava-se que ela iria trazer o socialismo para o Brasil. Mas o que trouxe foi o apoio, principalmente financeiro, para a ditadura militar.
O discurso pró-brega, exaltando os funqueiros, "sertanejos", ídolos cafonas do passado etc, teve por fim tirar o povo das manifestações de rua, ocupados com o entretenimento popularesco.
Foi isso que abriu caminho para a direita criar suas "manifestações". E para os bolsonaristas lutarem para criminalizar os protestos de rua. Tudo porque as esquerdas acolheram a intelectualidade "bacana" e apoiaram sua lorota de "combate ao preconceito".
Até mesmo a tal "Pátria do Evangelho" que as esquerdas acreditavam ser a volta de Lula e "sua espiritualidade" ao poder, era, pelo contrário, um projeto fascista trazido por um "médium" que acreditava que os sofredores deveriam aceitar suas desgraças calados.
E os jogadores de futebol com apetite de, na primeira fortuna, gastar com luxo e mulheres, também deixaram as esquerdas iludidas achando que seus gols seriam também os gols para as forças progressistas.
O apoio de alguns craques da seleção que jogou a Copa de 2002 a Jair Bolsonaro, respaldado também pelo técnico Felipão, foi um balde de água fria nas esquerdas deslumbradas.
E tudo isso - funqueiros, "médiuns" e craques - apoiados por um único homem: Luciano Huck.
E agora as esquerdas, desesperadas, querem negociar com não-esquerdistas pouco recomendáveis.
Deveria-se observar o contexto e o fato do não-esquerdista não ser estranhamente aberto demais para as forças progressistas.
Na metáfora das galinhas, é melhor elas negociarem com os urubus do que com as raposas. Os urubus, pelo menos, são aves, como as galinhas. Mas estas têm sempre a mania de negociarem com as raposas, que lhes soam, na aparência, "menos ofensivas".
E aí veremos que as esquerdas não retomarão o poder em 2022. E isso será por conta das próprias debilidades.
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