As esquerdas sucumbiram porque não conseguiam enxergar a "quinta coluna" localizada no seu entorno.
Nos anos 1960, as esquerdas cometeram três erros grosseiros, que abriram caminho para a ditadura militar.
Um erro conhecidíssimo: apoiar Cabo Anselmo, que encenou o papel de "bom esquerdista" até mais ou menos no ano de 1970, quando foi desmascarado como colaborador do governo dos EUA, desde quando fingia ser "marxista desde criancinha".
Outro erro, descrito por Arnaldo Jabor nos momentos de autocrítica dos anos 1990: adotar uma visão idealizada e romântica do subdesenvolvimento humano, poetizando a miséria, como se isso pudesse resolver alguma coisa.
Outro erro, este menos conhecido: pegar carona no fenômeno do médico húngaro radicado no Brasil, Peter Kellemen, que pelo nome não pode ser confundido com um compatriota esportista, que tem Kelemen, com um "l", como sobrenome.
Kellemen lançou em 1959 o livro Brasil Para Principiantes. O livro parece divertido (eu o li), mas seu humor se equipara ao que o Casseta & Planeta, em surtos tucanos, costumava fazer.
As esquerdas fizeram o livro tornar um sucesso editorial, tanto que teve reedições em 1960 e 1961, pelo menos.
Em 1964, Kellemen, também empresário, criou empresas de crédito e uma armação chamada Carnê Futura, pela qual cometeu uma série de fraudes.
Isso virou um escândalo, e o médico teve que sumir. Aparentemente, não se tem mais notícia dele.
As esquerdas acham que se livraram dos Cabos Anselmos da vida, ou, quando aparece alguém que "desembarca" de repente, o veem erroneamente como equivalentes (mesmo civis) contemporâneos do antigo militar.
Como, por exemplo, o ex-ministro de Lula, Antônio Palocci, hoje em oposição ao ex-presidente.
Grande erro. Os Cabos Anselmos modernos são "mais amigos", pagam a cerveja, dão abraços "fraternos" - na verdade, terríveis "abraços de urso" de "amigos da onça" - e aparecem ao lado de pobres sorridentes, ainda que estes sejam tratados como animais domésticos.
A intelectualidade pró-brega é, atualmente, um equivalente ao "Cabo Anselmo", ao lado de dirigentes do "funk".
Eu escrevi um texto, que deveria ser lido e divulgado para mais gente, desmascarando, com exclusividade, a Liga do Funk.
Isso se deu porque eu fui pesquisar o protesto no qual a entidade supostamente apoiou contra a TV Globo de São Paulo e a posterior participação da mesma entidade no Fantástico, da mesma emissora.
Eu juntei as peças, e descobri que a Liga do Funk atuava como uma "quinta coluna" do petismo, ao lado de Rômulo Costa, da Furacão 2000.
Sabe-se, através deste blogue, que, apesar de muitos acreditarem que Rômulo Costa era "marxista", ele, na verdade, era aliado dos políticos golpistas do Congresso Nacional. Rômulo é ligado à Bancada da Bíblia e a políticos fluminenses de partidos direitistas de menor porte.
Rômulo também premiou o amigo e apresentador Luciano Huck com o título de "embaixador nacional do funk". Foi Huck um dos responsáveis pela popularização do "funk" no Brasil, fato que as esquerdas fazem vista grossa.
E por que as esquerdas fazem vista grossa? É porque elas não percebem a nova "quinta coluna" que está ao lado dela.
"Quinta coluna" é um termo do jargão político que se refere a um falso aliado, seja infiltrado ou traidor, que faz o serviço de algum líder ou organização rival.
O termo veio da Guerra Civil Espanhola, quando os simpatizantes do ditador Francisco Franco se infiltraram nas forças rivais a ele, para garantir o poder do tirano.
Hoje a "quinta coluna" é justamente a intelectualidade "bacana" que desejava a bregalização do país e blindava uma pseudo-cultura que tratava as classes pobres de maneira caricatural.
Essa "cultura" é o brega-popularesco, que no âmbito musical vai desde os ídolos cafonas do passado, como Waldick Soriano, até o "funk" e o atual ultracomercialismo do "pop popularesco atual" (Anitta, Wesley Safadão, Pabblo Vittar, Marília Mendonça, Kevin O Chris etc).
Essa pretensa "cultura popular" é, na verdade, submissa às regras comerciais do pop estadunidense - mesmo os caricatos boleros de Waldick remetiam a uma "latinidade" hollywoodiana - , e seguiu interesses muito estratégicos e suspeitos.
Tanto que é estranho que esse discurso pró "funk", pró-sertanejo, pró-brega, foi difundido com maior intensidade justamente no momento em que estourou o escândalo do "mensalão", do chamado "valerioduto", esquema de propinas operado pelo publicitário mineiro Marcos Valério.
QUANDO ESTOUROU O ESCÂNDALO DO "MENSALÃO" (NA FOTO, MARCOS VALÉRIO, DE CAMISA VERMELHA), TORNARAM-SE INTENSAS ÀS CAMPANHAS DE BLINDAGEM DA BREGALIZAÇÃO, COMO FILMES SOBRE ÍDOLOS POPULARESCOS.
Filmes como Os Dois Filhos de Francisco e Sou Feia Mas Tô Na Moda, além de artigos da tal campanha "contra o preconceito" pela bregalização, foram lançados com maior intensidade.
A ideia é criar uma "cortina de fumaça", a exemplo da revolta dos marinheiros de 1963-1964, justamente quando João Goulart irritava a direita prometendo desapropriar fazendas improdutivas a partir de propriedades localizadas em rodovias federais.
E, pior: Jango, naquela época, ameaçava também confiscar boa parte do faturamento das empresas estrangeiras instaladas no Brasil, através da "lei da remessa de lucros". Esse motivo teria sido um dos principais para o golpismo político, a partir da armação do Cabo Anselmo.
Em 2005, quando estourou o "mensalão", a ideia é evitar que as classes populares se mobilizassem em favor do então presidente Luís Inácio Lula da Silva, acusado de envolvimento no "valerioduto".
Foi a primeira campanha da mídia venal para derrubar o presidente, só que de maneira mais sutil e enrustida. Tanto que, nas redes sociais (Orkut e Facebook), as "milícias digitais" eram reacionárias, mas fingiam esquerdismo.
Afinal, os "milicianos digitais" (que adoram ofender os outros que discordam de qualquer coisa do establishment) tinham que atrair para si o apoio de esquerdistas que apoiavam PT, PSOL, PC do B etc.
Era uma armadilha para que, quando houvesse uma crise maior, se instalasse a onda do anti-petismo. Foi aí que surgiram os tais "petistas que votaram em Jair Bolsonaro", muitos deles, aliás, nunca de fato esquerdistas.
SE NÃO FOSSEM AS PREGAÇÕES PRÓ-BREGA DO "INTOCÁVEL" PEDRO ALEXANDRE SANCHES, NÃO HAVIA ASSUNTO PARA RODRIGO CONSTANTINO SE DESTACAR NA OPINIÃO PÚBLICA.
Nesses idos de 2005-2006, quando o "funk", que havia sido a "menina dos olhos" das Organizações Globo em 2003-2004, se destacou a "santíssima trindade" de intelectuais até hoje "canonizados" na maioria das páginas da web.
Essa "trindade" comandava toda uma multidão de antropólogos, cineastas, jornalistas, artistas, acadêmicos e famosos em geral que, como uma espécie de IPES-IBAD pós-tropicalista, lutava para promover a supremacia absoluta do "popular demais" (ou brega-popularesco) no imaginário popular.
Era a "quinta coluna", um think tank não-assumido de intelectuais pró-bregas que primeiro faziam sua trincheira na mídia venal (sobretudo Globo, Folha e Abril), para depois fazer proselitismo na mídia de esquerda (principalmente Caros Amigos, Carta Capital e Fórum).
Com nomes sacros como Paulo César de Araújo, Pedro Alexandre Sanches e Hermano Vianna, a "santíssima trindade" da intelectualidade "bacana" lutava para bregalizar o Brasil e enfraquecer a cultura popular através do mito da "pobreza linda".
Suas teses são cheias de pensamentos desejosos que destoam da necessidade de alguma objetividade na abordagem de um tema.
Paulo César de Araújo usava o pensamento desejoso para "indagar" se canções bregas de amor como "Eu Não Sou Cachorro Não" seriam "canções de protesto".
Da mesma forma, Pedro Alexandre Sanches, perguntando ao MC Leonardo - dirigente da APAFUNK e também funqueiro, mas também outro membro desse think tank cultural - , sobre uma hipotética associação do "funk" com o Movimento dos Sem-Terra, sugeriu uma pretensa equiparação.
É verdade que esse vínculo é uma falácia. O "funk" é apoiado pelo coronelismo fluminense, o ritmo não podia estar associado ao movimento dos camponeses.
As ideias desses "pensadores" e de outros que vêm a reboque - como, por exemplo, Mônica Neves Leme, Ivana Bentes e, antes de todo mundo, o baiano Milton Moura - são desprovidas de qualquer lógica ou objetividade.
São discursos ideológicos, nos quais a preocupação é defender uma leitura midiática e mercadológica do povo pobre, como se ela fosse a "verdadeira".
Estou lendo alguns textos, já li outros, para um livro que estou fazendo sobre essa elite intelectual.
E, curiosamente, eu li com mais atenção os textos de Pedro Alexandre Sanches, mais do que seus seguidores que leem os textos dele às pressas e só "pescam" palavras soltas.
Fiquei abismado. O "esquerdismo" de Pedro Alexandre Sanches é de uma vergonhosa canastrice, que nem Tábata Amaral teria coragem de encenar. Deixemos o esquerdismo para o quase homônimo primeiro-minstro espanhol Pedro Sanchez.
Textos panfletários, forçados ataques aos direitistas da moda, falsas pregações de esquerda. Não há produção de conteúdo, quando leio os textos de Sanches tenho a constatação de que eles não passam de meras papagaiadas textuais que nada acrescentam de útil para o pensamento de esquerda.
Ele era a principal cria do Projeto Folha que, vale ressaltar, era um projeto anti-esquerdista.
Sobre o Projeto Folha, não sou eu que digo, é só ler Showrnalismo: A Mídia Como Espetáculo, de José Arbex Jr..
Como é que um jornalista que se tornou o maior nome desse projeto editorial, voltado para exaltar o PSDB e esculhambar o PT, vai ser levado a sério como um "intelectual de esquerda"?
Pedro Alexandre Sanches é um dos símbolos dessa "quinta coluna" intelectual que fingiu apoio ao PT e abriu caminho para o golpe político de 2016, depois dessa intelectualidade pró-brega arrancar da Lei Rouanet e dos demais cofres do Ministério da Cultura petista a grana que queriam.
O efeito dessa "quinta coluna" intelectual, na verdade colaboradora free lancer dos barões da mídia, é mais devastador do que se imagina.
As pregações pró-brega de Pedro Alexandre Sanches, feitas com o objetivo de ridicularizar as esquerdas brasileiras - a serem acusadas de apoiar a degradação da "cultura popular" com o mito da "pobreza linda" e da "periferia legal" - , geraram "pensadores" como Rodrigo Constantino.
Sem assunto para se projetar, Constantino pegou o gancho da intelectualidade pró-brega para fazer o contraponto, condenando as esquerdas porque elas foram passar pano na imbecilização cultural expressa no brega-popularesco.
Os ataques de Sanches a Chico Buarque - o cantor que mais apoia o PT - e, a reboque, os gracejos que as supostas esquerdas "identitárias" (como o escritor Gustavo Alonso, de QI "coxinha") - também são notórios em relação ao "esquerdismo" canastrão do farofafeiro "filho da Folha".
As esquerdas morderam a isca, com a desculpa de "combater o preconceito", achando que o "funk" traria o socialismo bolivariano para o Brasil, e o que foi combatido, na verdade, foi a Lei Rouanet, o Ministério da Cultura e as verdadeiras manifestações culturais populares.
Enquanto isso, os ídolos popularescos, blindados pelo discurso intelectual, continuam se apresentando nos palcos da Globo, do SBT, da Record, e nas páginas da Folha de São Paulo e Caras.
É hora das esquerdas começarem a desconfiar de falsos aliados de conversa bem articulada, para evitar cair em armadilhas piores que as de Cabo Anselmo.
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