Segundo matéria do jornal Folha de São Paulo, publicada ontem, houve uma enxurrada de propostas para restringir o direito de protestar encaminhadas por parlamentares no Congresso Nacional.
Somando propostas lançadas na Câmara dos Deputados e no Senado, há pelo menos 70 projetos com este objetivo, lançados a partir de 2013. Em 2019, foram apresentados 21 protestos.
Eles seguem a tendência do Brasil pós-golpe evitar que ocorram manifestações como as que aconteceram no Equador, Chile e Colômbia, que desgastaram governos conservadores.
Dessa maneira, a ideia é cortar pela raiz a indignação popular, o que mostra o caráter repressivo do golpe político de 2016, curiosamente consolidado pelas passeatas reacionárias anti-PT.
Aliás, as esquerdas deveriam prestar muita atenção a certas armadilhas. E não se fala do desmascarado plano por trás das "jornadas de 2013".
Fala-se da campanha que intelectuais que defendem a bregalização cultural, o tal "popular demais", sob a desculpa do "combate ao preconceito", fizeram com maior intensidade entre 2002 e 2016.
Sim, são antropólogos, historiadores, cineastas, jornalistas culturais e celebridades que forçavam a sociedade mais esclarecida a aceitar o "funk", os ídolos cafonas do passado, o "sertanejo", o tecnobrega, a axé-music etc.
A desculpa toda dessa choradeira era a tal "cultura das periferias", "expressão do povo pobre", como se isso fosse a cultura popular orgânica. Balela!
O que essa bregalização representa é, além de tendências velhas travestidas de "novas" - alguém, em sã consciência, vai considerar Waldick Soriano "vanguarda"? - , a glamourização da pobreza, da ignorância e dos valores sociais baixos, quando associados ao povo pobre.
Até o "feminismo de resultados" da intelectualidade "bacana" só pedia "chega de fiu-fiu" para as moças de classes mais abastadas. Nas "periferias", pode tudo, com a objetificação do corpo feminino travestida de "um tipo popular de feminismo".
Com esse discurso do "combate ao preconceito", que quase pôs à falência a mídia alternativa (só Caros Amigos foi "sacrificada" de tanto defender, sobretudo, o "funk"), o que se viu foi um "gentil" esforço da intelligentzia para evitar as manifestações populares.
Como se confundissem as coisas, nossos "admiráveis" intelectuais que falavam de "pobreza linda" e outras "maravilhas" do Brasil brega-popularesco, queriam que o povo pobre acreditasse na lorota de que o entretenimento "popular demais" já era um tipo de ativismo.
Não, não é. Nunca foi. Uma multidão ir que nem gado a um galpão para consumir a apresentação do ídolo do momento, num claro processo comercial e midiático, não é ativismo sócio-político.
Essa desculpa de que esse consumismo é um "soco na cara das elites", dessa aristocracia estereotipada na imaginação fértil da "intelectualidade mais legal do Brasil", é papo furado.
Há uma grande diferença entre gritar "Ei Bolsonaro, vai tomar no..." numa plateia de música popularesca e sair protestando de verdade contra as pautas do governo de Jair Bolsonaro.
Tanta palhaçada dizendo que os "bailes funk" de rua já são "protestos populares" e, qual foi o resultado? O fim do preconceito?
Não. Pelo contrário. Mas o fim que essa intelligentzia "amiga" das esquerdas acabou causando é o fim do governo Dilma Rousseff, o fim das políticas progressistas, o fim do Ministério da Cultura e da Lei Rouanet e a morte anunciada da Petrobras.
Falaram tanto que aceitar a bregalização era "inclusão social" e, graças a essa falácia toda, políticas de verdadeira inclusão social são as que mais estão ameaçadas de extinção.
Agora, pelo menos admitam, intelectuais pró-brega, que foram os Cabos Anselmos da vez.
As favelas que defendiam como "paraísos do povo pobre" deram lugar aos safáris humanos.
A prostituição tida como "profissão definitiva" só abriu caminho para o feminicídio nas áreas pobres.
A desesperada defesa do "funk" como suposta cultura teve como efeito colateral a ameaça de extinção das manifestações folclóricas pelas políticas "cristãs" dos golpistas há quatro anos no poder.
E todo esse blablablá de "combate ao preconceito" só gerou uma sociedade mais preconceituosa.
Há quinze anos, o povo não "podia" realizar protestos de rua porque era convidado pela "admirável intelectualidade" do "fim do preconceito" para se manifestar nos limites do entretenimento asséptico e inócuo do "popular demais".
Daqui a pouco, o povo não poderá realizar protestos de rua porque será considerado crime.
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