O terrível pragmatismo que os brasileiros médios herdaram dos cariocas insiste em naturalizar os erros do golpe político de 2016 para cá.
Desde que haja um pátio para a criançada brincar de "Fora Temer" ou "Fora Bolsonaro", ou ver bobagens nas redes sociais, tudo bem.
O que é a destruição do Brasil para quem acha que dá para ser feliz com isso, não é mesmo?
Pois mais um episódio vai deixar o típico brasileiro médio revoltadinho por alguns minutos, fazendo seu "ativismo de smartphone" com seus memes, até que depois ele deixe tudo para lá.
O chefe da Secretaria de Comunicação (SECOM) da Presidência da República - cujo titular, sabemos, é Jair Bolsonaro - , Fábio Wajngarten (lê-se "Vaingarten"), está enrolado em corrupção.
Ele não deixou o cargo de sócio da FW Comunicação e Marketing e acumula os dois cargos.
Em tese a FW, que também tem como sócia a mãe de Fábio, Clara Wajngarten, que só tem 5% de ações (o filho tem dezenove vezes esta porcentagem), realiza estudos e consultoria sobre a concorrência dos veículos de mídia.
A FW também verifica o desempenho dos anunciantes nas programações dos veículos da mídia.
O problema é que a empresa de Fábio Wajngarten tem contratos com empresas de Comunicação que recebem dinheiro de Jair Bolsonaro, entre elas a Band, Record, SBT e Rede TV!.
Isso é ilegal e vai contra a transparência da consultoria.
Jair Bolsonaro passou o pano no episódio e disse, com um erro de gênero na palavra "porcaria":
"Se foi legal, a gente vê lá na frente. Mas, pelo que vi até agora, está tudo legal, vai continuar. Excelente profissional. Se fosse um porceria, igual alguns que tem por aí, ninguém estaria criticando ele".
Para piorar, Bolsonaro insultou um jornalista da Folha, sobre o escândalo da FW.
"Você está falando da tua mãe?", respondeu Bolsonaro com uma pergunta ríspida.
"Não, estou falando do secretário de Comunicação, do Fábio Wajngarten", disse o jornalista.
A SECOM é responsável pela distribuição de publicidade do governo na mídia, mas desde o golpe de 2016 o órgão anda presenteando a mídia amiga com verbas polpudas, em troca de apoio às propostas retrógradas dos governos Temer e Bolsonaro.
Antes dessa ofensa, Jair fez outra pior ainda.
Foi contra a jornalista e escritora Thaís Oyama, autora do livro Tormenta - O Governo Bolsonaro: Crises, Intrigas e Segredos.
"A nossa imprensa tem medo da verdade. Deturpam o tempo todo. Mentem descaradamente. Trabalham contra a democracia, como o livro dessa japonesa, que eu não sei o que faz no Brasil", disse o presidente.
Ele acrescentou, alegando que não irá censurar (até porque, mesmo de extrema-direita, o governo Bolsonaro tenta apresentar um verniz de "democracia"):
"Essa imprensa que está me olhando, não tomarei nenhuma medida para censurá-los, mas tomem vergonha na cara. Deixem nosso governo em paz, para levar harmonia ao nosso povo".
O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, General Heleno, ainda que em outro depoimento tenha admitido que seu chefe no Executivo federal é um "despreparado", desta vez corroborou com o presidente, escrevendo no seu perfil no Twitter:
"Sites fanaticamente antigovernistas publicaram trechos de um futuro livro, cuja autora é uma jornalista medíocre e desapegada à verdade. O objetivo é fomentar a discórdia entre membros do governo. O texto é a cara dela: malfeito, pouco confiável e inútil, sob qualquer aspecto".
O motivo foi a passagem do livro de Thaís Oyama na qual ela relata uma conversa ente Jair e Heleno sobre a intenção do presidente em demitir o ministro da Justiça Sérgio Moro.
Heleno teria impedido Jair de levar a ideia adiante, segundo o livro, que registrou a resposta do general: "Se você demitir Moro, seu governo estará acabado".
A informação Thaís colheu dos bastidores, mas Heleno e Jair não gostaram do vazamento da informação.
Quem deve, teme, pois Jair Bolsonaro tem em Sérgio Moro, a exemplo de Paulo Guedes, seus únicos sustentáculos do governo.
Por sorte, a "maioria silenciosa" dos brasileiros médios também consente com Bolsonaro, assim que consentiu com Temer.
E, por sorte, temos uma esquerda que, muitas vezes, erra muito e desperdiça seu potencial, acolhendo a cultura de centro-direita que fez o povo pobre esquecer a mobilização social para "brincar" com a "provocatividade de resultados" do entretenimento popularesco.
O governo Jair Bolsonaro é suficientemente fraco para ser derrubado com facilidade. O problema é que os opositores são ainda mais fracos.
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