CRACOLÂNDIA EM SÃO PAULO, NA AVENIDA NORMA PERUCCHINI GIANOTTI, PRÓXIMO À SEDE DA LEGIÃO DA BOA VONTADE.
Quando este blogue alertou sobre o perigo do mero contraste simbólico entre "raiva" e "alegria", os artigos tiveram baixa adesão de leitura e um boicote de muitos leitores, afoitos com o fim do governo rancoroso de Jair Bolsonaro. As pessoas preferiram boicotar do que ler com atenção para entender o real propósito de meus artigos.
Quando este blogue alertou sobre o perigo do mero contraste simbólico entre "raiva" e "alegria", os artigos tiveram baixa adesão de leitura e um boicote de muitos leitores, afoitos com o fim do governo rancoroso de Jair Bolsonaro. As pessoas preferiram boicotar do que ler com atenção para entender o real propósito de meus artigos.
Muita gente se esquece que as pessoas mais traiçoeiras são aquelas que tentam parecer dóceis e afetuosas. Os autores de feminicídios não conquistam suas mulheres-vítimas puxando pelos cabelos delas e fazendo ameaças. Os golpistas financeiros não ficam gritando agressivamente para suas vítimas aderirem a suas armadilhas econômicas. Os inimigos internos não são os rabugentos a ficar escondidos por trás de uma multidão. O mentiroso não é aquele que, cinicamente, avisa ao seu público "Tomem cuidado comigo, que eu minto!".
Assim como os animais venenosos têm aparência dócil e as plantas venenosas possuem aparência bonita e frutos saborosos, as piores armadilhas humanas são aquelas que se sustentam pelo aparato da suavidade, da doçura e da simpatia.
Feminicidas são, inicialmente, bons conquistadores e muito bem humorados e gentis. Golpistas financeiros atraem suas vítimas anunciando, sorridentes, a falsa sorte grande. Os inimigos internos de verdade estão na nossa frente, cumprimentando com cordial alegria e aparente comoção as pessoas em sua volta. E o mentiroso fica jurando o tempo todo que "sempre fala a verdade".
Na religiosidade brasileira, o maior perigo não está nas religiões neopentecostais que, de fato, extorquem dinheiro dos fiéis e montam impérios midiáticos que lhes garantem fortunas soberbas e exorbitantes. Essas seitas nem assustam, pois já são identificadas como grandes máquinas de fraudes e manipulação das mentes. Um Silas Malafaia não assusta com seus rosnados raivistas abertamente reacionários.
O não-raivismo não é garantia de progressismo, de humanismo, de demonstração de verdadeiro altruísmo. É certo que tais qualidades devem envolver simpatia e afetuosidade, mas isso não significa que tudo que parece simpático e afetuoso seja necessariamente "tudo de bom". Só é "tudo de bom" para uma parcela da sociedade que não é tão humanitária assim.
E aí vemos os exemplos do Espiritismo brasileiro e de seitas "ecumênicas" como a Legião da Boa Vontade, marcada pela filantropia-ostentação de seu presidente José de Paiva Netto, e percebe-se que essas instituições sempre capricham no discurso não-raivoso, numa retórica dócil que chega aos níveis da mais enjoativa pieguice. Tudo soa maravilhoso para a elite do bom atraso, a única que vai para a cama tranquila diante do assistencialismo dessas seitas neomedievais, mas fora dessa bolha que, praticamente, monopoliza o "bom senso" e o "consenso fácil" nas redes sociais, o buraco é mais embaixo.
Falemos da LBV, neste caso, por sinal alvo de denúncias escandalosas quando, em 2000, eu tentei um estágio numa editora "espírita" que pagava mal e atrasado os empregados, inclusive eu, experiência bastante negativa e amaldiçoada que emporcalhou minha carteira de trabalho e me trouxe dificuldades para obter os empregos que eu mais desejava. Isso mostra o quanto a religião "espírita" é um fétido e asqueroso lodo de azar, de mau agouro, desejando o mal do próximo sob um discurso melífluo e promessas de uma "vida melhor". Um verdadeiro estelionato da fé.
As denúncias da LBV eram corretas, mostrando os abusos de Paiva Netto, acusado de enriquecimento ilícito, embora tivessem o ingrediente tendencioso do jornal O Globo, que não aceitava ver concorrentes montando redes de televisão. Na época a LBV queria montar uma rede, como foi a Igreja Universal com a Record. Neste sentido, o Espiritismo brasileiro evita essa empreitada, até porque é um braço religioso dos barões da grande mídia, blindado hoje pelas famílias Marinho e Frias.
E aí eu percebo que a LBV brinca de ser "escola pública" com seus alunos obedientes indo e vindo dos cursos realizados pela seita, "caridades gratuitas" feitas sob o preço do proselitismo religioso supostamente "sem compromissos", pois as religiões traiçoeiras não obrigam imediatamente as pessoas a aderirem a elas, tudo é feito com o máximo de sutileza possível.
E isso sob o culto à personalidade de Paiva Netto, que é um simpatizante informal do Espiritismo brasileiro, marcado também pelo culto à personalidade dos "médiuns", um fenômeno inexistente na França de Allan Kardec. Não gosto desses cultos à personalidade, o que me fez, em outros âmbitos, me recusar a trabalhar na Rádio Metrópole do "astro-rei" Mário Kertèsz e a desistir definitivamente de votar em Lula, hoje convertido em mascote da burguesia ilustrada.
Mas a farsa do discurso dócil da religiosidade melíflua, embora faça a quase totalidade das pessoas que consomem redes sociais dormirem tranquilas o sono dos anjos, se desmorona de vez quando se trata do sofrimento humano.
Assim como o Espiritismo brasileiro, através das ideias medievais do "médium da peruca", figura nefasta e traiçoeira mas cujas frases as pessoas publicam nas redes sociais para "alegrar o dia", pede para os sofredores aguentarem calados as piores desgraças e adversidades, a LBV deixa ocorrer, a poucos metros de sua instituição, uma verdadeira tragédia social desprezada pela instituição.
Por trás da imagem dócil de aluninhos com o uniforme amarelo da LBV indo e vindo de ônibus com sua traquilidade obediente e ingênua, há, nos arredores da Várzea da Barra Funda, sub-bairro da região da Barra Funda, das avenidas Rudge e Norma Perucchini Gianotti, pessoas em situação de rua consumindo drogas porque não têm a quem recorrer.
Tratam-se de extensões da Cracolândia que assusta moradores de bairros como Santa Cecília, Luz, Bom Retiro e Campos Elíseos, obrigando as pessoas a ter um toque de recolher já pelas 17h30, vide a ampla revolta dos miseráveis extremos que desejariam mais do que receber donativos e marmitas, mas são tratados como bichinhos pelos filantropos de ocasião.
São pessoas embrutecidas pelas adversidades sem fim, pela falta de oportunidades dignas de recuperação social, e que eventualmente são assistidas pela hipocrisia religiosa de assistencialistas conservadores que se limitam apenas a tornar a miséria mais "suportável", o que indigna esses miseráveis.
Nota-se que o "lindo mundo de cor e fantasia" da LBV vive na indiferença a esse problema social crônico ou, talvez, se aparecerem as cobranças, venham ações de tendencioso assistencialismo, com festinhas piegas e muitos sorrisos hipócritas dos "altruístas" temporários, sempre falando em "Natal todos os dias", largamente alegres pensando nas vantagens sociais dessa "solidariedade de fachada", igualzinho aos "espíritas" nos tempos do "médium da peruca" e sua constrangedora caridade de cartinhas fake e de doação precária de uns poucos mantimentos que se esgotavam rapidamente.
Tratam-se de falsas ações de solidariedade, que servem mais para projetar pessoalmente instituições e filantropos de ocasião. Nada muito diferente das manobras eleitoreiras do interior, com candidatos coronelistas oferecendo cestas básicas para atrair votos. Tudo muito hipócrita, pois os pobres continuam sendo tratados como meros animais, enquanto aqueles que, supostamente, os ajudam vêm com seus sorrisos largos e piegas mostrando seu claro paternalismo marcado de muita falsidade.
Uma caridade que se volta mais para o caridoso de ocasião, pouco importando quem e como são os mais necessitados. "Fazer o bem sem olhar a quem"? Frase hipócrita, até porque os mais necessitados não são tratados como pessoas, eles são meros "ninguéns" a receber mantimentos que se esgotam em dois dias. O que importa, mesmo, é o prestígio e a popularidade do filantropo da vez, não é mesmo?
É preciso aprender que a falsidade pode se utilizar da suavidade, da alegria e do discurso não-raivoso para enganar as pessoas. Ninguém engana as pessoas fazendo cara feia. Os maiores enganadores estão sempre sorrindo, falando macio e realizando pretensas generosidades. Quem menospreza essas advertências é um otário em potencial.
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