LULA INVESTE NO MUNDO DE SONHO E FESTA, QUE NÃO CONOVE QUEM ESTÁ FORA DA BOLHA LULISTA.
As esquerdas, na semana passada, ficaram apreensivas. Depois da boa adesão de bolsonaristas na passeata da Avenida Paulista, no último 25 de fevereiro, as supostas pesquisas de opinião apontavam queda de popularidade do presidente Lula, mesmo quando aparentemente foram divulgados resultados positivos na Economia.
Crentes num protagonismo pleno e numa certeza absoluta de triunfo do Brasil, como se seu processo de transformação em país desenvolvido fosse inevitável e inabalável, as esquerdas brasileiras se recusam a admitir a realidade, a de que elas não são tão protagonistas quanto imaginam.
Na verdade, as esquerdas "alugaram" seu espaço político aproveitando as brechas jurídicas do Supremo Tribunal Federal (STF), que só passou a reagir contra a Operação Lava Jato preocupados com a ascensão abusiva de Sérgio Moro e Deltan Dallagnol ao poder.
Era o velho fenômeno do capanga querendo tomar o poder. Na ditadura militar, os generais começaram a se preocupar quando sargentos e delegados do DOI-CODI começaram a punir presos políticos por conta própria. O assassinato de Vladimir Herzog, o Vlado, ex-chefe de Jornalismo da TV Cultura, é um sintoma disso. E é irônico que, dentro da ditadura, existam seus Cabos Anselmos quebrando hierarquia com fogo amigo.
No caso do Judiciário, foi a mesma coisa. Moro e Dallagnol fizeram seu papel no inverno golpista de 2014-2018, mas cresceram tanto que poderiam ameaçar o Poder Judiciário e o do Ministério Público (entidade parecida com o Judiciário, mas é uma parte separada dele), numa ascensão descontrolada ao poder. Daí a revogação da prisão de Lula, um episódio menos maravilhoso do que se possa pensar.
Lula tenta desmentir a todo custo que tenha negociado para sair da prisão. Mas fez, sim, e os fatos posteriores demonstram isso. Há um esforço de as esquerdas acreditarem que Lula, se não voltou às suas raízes sindicais, teria retornado aos primórdios de sua trajetória presidencial, em tese pronto para estabelecer o prometido "governo da mudança" que não conseguiu fazer totalmente nos dois primeiros mandatos.
Ou seja, muita expectativa foi criada para esse terceiro mandato de Lula. Imaginava-se voos políticos mais audaciosos, realizações mais transformadoras e o ingresso certeiro do Brasil no seleto grupo de nações desenvolvidas do planeta. Tudo isso era visto como certo como o nascer e o pôr do Sol. Só haveria os problemas da "tempestade bolsonarista" que seriam depois contornados no caminho considerado aberto para o Primeiro Mundo.
Lula também teria voltado para ser o "líder" de um "gigantesco processo de redemocratização do país", com um comício no Vale do Anhangabaú, no Centro de São Paulo, como um "divisor de águas". Em seguida, Lula seria o "grande líder mundial", a promover o processo de paz planetária, intermediando acordos políticos com nações estrangeiras em conflito.
Só que para realizar essas façanhas, Lula agiu errado, com muita precipitação. Para ser o "líder democrático", Lula sabotou a competitividade eleitoral e violou o compromisso democrático de encarar concorrentes, apostando numa ideia, estranha e nada democrática, da "democracia de um candidato só". Cooptou rivais, forçando a desistirem das candidaturas, e por outro lado, em vez de encarar o forte concorrente Ciro Gomes no sadio debate das ideias, Lula preferiu chamar seus adeptos para agredirem e caluniarem o pedetista, para depois usar a projeção de Freud para dizer que "foram agredidos".
Outro erro é Lula adotar como primeira medida fazer viagens ao exterior, sob o pretexto de, priorizando a política externa, melhoraria a imagem do Brasil no exterior e traria investimentos estrangeiros para turbinar nossa Economia. Grande e vergonhoso erro.
Lula acabou causando polêmicas desnecessárias aqui e ali. Brincou de ser o protagonista no encontro do G-7, quando em verdade era apenas um convidado ouvinte. O ápice dessas polêmicas foram os comentários recentes sobre Israel, que abafou os temas internos brasileiros, como se Gaza fosse um bairro da Zona Leste de São Paulo.
E isso piora quando percebemos que a bandeira da campanha presidencial de Lula era o combate à fome, que fez o petista chorar feito um bebê para pedir votos à população. Quando assumiu o atual mandato, Lula foi viajar ao exterior e adiou para nove meses o lançamento de alguma medida concreta contra a fome.
Ou seja, Lula fez erros que sacrificaram sua popularidade. Pensou tanto na sua "candidatura única" de uma frente ampla demais para derrotar Jair Bolsonaro em primeiro turno que só conseguiu derrotá-lo em segundo turno numa margem de diferença equivalente à população de Manaus, que nem é das maiores capitais do Brasil.
Ou seja, houve muita perda, por conta de tantos erros de Lula que, impulsivo, prefere errar primeiro para depois verificar os estragos. É bem conhecido o eufemismo dos lulistas em denominar "estratégia" toda atitude precipitada de Lula que, supostamente, traz um resultado positivo.
Mas isso tem seu preço, que é caro, e Lula acabou decepcionando aliados e apoiadores com a obsessão em conquistar forças divergentes, sob o ok rótulo de "frente ampla" ou "Centrão", e sob a desculpa da "governabilidade democrática".
Isso faz com que a instabilidade política se agrave, não bastasse o fato de que o antipetismo esteja bem forte. E o fato de que as esquerdas não só não romperam com o sistema de valores retrógrados do nosso país, como os "brinquedos culturais", como sentem certa complacência com parte do legado de Michel Temer.
Você vê Gleisi Hoffmann, Dilma Rousseff e Lindbergh Farias criticando Temer. Lula, nem tanto. O atual presidente do Brasil trata Temer como se fosse um "mal menor", e sinalizou que não iria romper com o conjunto da obra, só tirando "alguns aspectos negativos".
Desse modo, agente percebe a crise em que vive nossas esquerdas, que fazem de suas bolhas seu universo, enquanto a oposição a Lula cresce, a situação ainda não chegou ao extremo, mas mostra as contradições de uma esquerda que negocia com a direita moderada o seu protagonismo e depois imagina dominar todo o processo, mesmo com o país em crise e as classes populares decepcionadas com Lula.
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