Quando as coisas parecem evoluir fáceis demais, paremos para pensar. Não vamos aceitar os relatórios de bandeja. Reflitamos para ver se tudo não passa de um balé de números e palavras agradáveis. E vejamos se a realidade não combina com os dados divulgados, evitando a reação confortável de recortar a realidade para mostrar aquilo que está de acordo com a vontade dos beneficiadosde plantão.
Uma compilação de dados de diversos órgãos ligados ao Governo Federal mostra que 66 dos 99 índices haviam melhorado no primeiro ano do governo Lula. Educação, Saúde e Economia, aparentemente, tiveram melhoras sognificativas, apesar das dificuldades de aplicação de recursos. As contas públicas pioraram, mas vamos combinar que nós, brasileiros, financiamos as supérfluas e desnecessárias viagens de Lula no exterior.
Tudo bem. Alguma coisa melhorou, temos uma normalidade institucional que garante a liberdade democrática formal, embora temos a "censura social" do pensamento crítico, que faz muitos fugirem de temas delicados que ameacem suas zonas de conforto da "paz sem voz" em que os microfones só se abrem para os bem de vida, mesmo os pobres remediados que, obedientes, exercem os papéis determinados pela sociedade dominante.
Ou seja, mesmo a expressão democrática tem limites e nem sempre é o bom senso que garante esses limites. Se fosse assim, não haveria problema, porque isso poderia prevenir abusos. Mas a verdade é que o pensamento crítico é alvo de profunda discriminação porque nosso país vive a supremacia de uma ordem social que está no poder há 50 anos e não quer largar o osso. É a mesma elite civil que derrubou João Goulart e que, se livrando dos diamantes para salvar seus dedos, pulsos e pescoços, agora se considera uma classe "democrática" e até, em certos casos, "de esquerda".
Nosso Brasil passa por uma situação estranha. Uma suposta reconstrução é comemorada antes da hora. É uma "reconstrução" que rejeita a remoção de velhos entulhos. Nunca conseguimos retornar aos níveis civilizados e amplos do raciocínio crítico de 1958. A casa uso de cérebro, uma flanelinha para passar pano nas sujeiras mais sutis, para que se evite desfazer do sistema de valores vigente a partir do "milagre brasileiro".
Tudo parece fácil. Lula anunciou aparentes proezas que fazem seus seguidores orem para a cama tranquilos e dormirem o sonho dos anjos. Mas vendo a linha do tempo do golpe político de 2016, do qual Lula não pareceu romper em sua totalidade, vemos que o crescimento foi rápido demais para um contexto delicado do nosso país.
Na vida real, ou seja, fora do conforto dos abastados com mania de dar invertida a todo aquele que contestar suas convicções, não raro fazendo textão, as coisas são diferentes. Ver a realidade das ruas é algo que escapa do lulismo mas também não tem a ver com as narrativas raivosas do bolsonarismo.
Pobres criticando Lula, se sentindo abandonados pelo presidente todas as vezes em que ele está fora do país e reclamando dos problemas que nem o otimismo dos relatórios governamentais resolvem, tudo isso é uma realidade dolorosa que ocorre em Niterói, Florianópolis, São Paulo, Porto Velho, Blumenau, Petrolina ou Aracaju.
O Brasil vive convulsões sociais muito graves, os preços das mercadorias aumentam, os brasileiros cada vez mais têm dificuldade de arrumar um emprego - pois os recrutadores, "santificados" pela opinião pública, estão cheios de frescuras que os impedem de contratar pessoas visando o talento - e as escolas com uma pedagogia de faz-de-conta que não possibilita preparar o aluno para encarar a realidade. Tudo isso fora do "Brasil fácil demais" do Lula 3.0.
Lula virou a mascote da burguesia brasileira que fez com gosto o golpe contra Dilma Rousseff e abriu caminho para Jair Bolsonaro só para arrumar alguém para pagar a conta dos 524 anos de atrocidades da aristocracia brasileira, que agora, para se manter no poder, se repaginou para se transformar na "classe social mais fofa e elgal do mundo".
Daí que ela não quer largar o osso, agora que atingiu o máximo de sua plenitude. Uma elite privada que há séculos se achava dona do Brasil, que, disfarçada de "gente simples", passou a ser dona do povo brasileiro, agora vê a possibilidade de, sob Lula, virar "dona do mundo", por se achar "a mais equilibrada espécie humana do planeta", sem aquilo que suas mentes entendem ser o "pessimismo existencialista europeu " e o "fundamentalismo ressentido afro-asiático). O Brasil oferece então, como um pretenso diferencial para dominar o mundo, a "alegria do povo brasileiro" e a "lição de paz e fraternidade para a humanidade da Terra".
Com isso, mais uma vez se coloca uma pá de cal na verdade histórica. A velha elite que fez, com gosto o golpe de 2016, agora bota tudo na conta de Sérgio Moro, Kim Kataguiri, Carla Zambelli, Silas Malafaia, Deltan Dallagnol e, principalmente, Jair Bolsonaro e sua "familícia", e se recusa a admitir responsabilidade direta pelos estragos feitos ao país.
Daí ser fácil forjar um "Brasil único" em que uns poucos são mais "únicos" que os outros. E vemos que o "progresso rápido demais" do governo Lula não reflete na realidade dos brasileiros. Também, quem gosta é quem está bem de vida, mesmo o chamado "pobre de novela". Todos felizes com este simulacro de "grandes realizações" que o ilusionista político Lula forja com canetadas, cerimônias, relatórios, estatísticas, encenações, discursos e outros artifícios.
É fácil apelar para números, palavras, encenações e visuais. Todo o "sucesso rápido" do governo Lula seria realmente bom se refletisse na vida dos brasileiros. Mas é o que não acontece. Quem ganha com Lula é a elite que pensa ser mais povo que o povo e usa freneticamente as redes sociais para impor as suas narrativas para o país em geral.
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