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LULA REPAGINA O "MILAGRE BRASILEIRO"

O TERCEIRO MANDATO DE LULA NÃO REPRESENTA RUPTURA COM OS PARADIGMAS SOCIOCULTURAIS VIGENTES NO PERÍODO DO GENERAL ERNESTO GEISEL, APENAS ADAPTANDO O "MILAGRE BRASILEIRO" PARA UM CONTEXTO "DEMOCRÁTICO".

Duas "boas notícias" envolvem o Brasil. 

Uma é a divulgação de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que aponta um aparente crescimento da renda per capita da população brasileira, tomando como critérios de avaliação o trabalho, a aposentadoria, os auxílios governamentais (como o Bolsa Família), o aluguel e outros rendimentos.

Segundo os dados divulgados, correspondentes a 2023, o maior nível de rendimentos médios está no Distrito Federal, com o valor de R$ 3.357, enquanto o Maranhão aparece em último lugar, com R$ 945. São Paulo teve o valor de R$ 2.492, estando em segundo. Em terceiro, o Rio de Janeiro ficou em terceiro, com R$ 2.367. 

Reduto do bolsonarismo, Santa Catarina, quinta colocada, ficou com R$ 2.269, seguida do berço da Operação Lava Jato, o Paraná, com R$ 2.115. Sergipe, com R$ 21.218, foi o Estado com ritmo mais lento de crescimento em relação ao levantar anterior, de R$ 1.187 em 2022. O mais rápido foi o Amapá, de R$ 1.177 para R$ 1.520, embora a unidade federativa esteja em posição baixa.

Nota-se que os Estados com maior renda per capita estão localizados no Sul, Sudeste e Centro-Oeste, enquanto os do Nordeste e Norte aparecem em posições mais baixas. A Bahia, considerada um Estado importante do Nordeste, está entre as cinco últimas colocações, com R$ 1.139.

Apesar disso, os dados foram comemorados pelo governo Lula como se fossem obras de seu governo, quando em verdade os dados são efeitos de fatores anteriores ao seu governo, e independem de forma direta com o presidente que esteja exercendo o governo no Brasil.

Com menos realismo, o banco de investimentos BTG Pactual, que patrocinou o golpe de 2016 e o governo Temer e teve o neoliberal Paulo Guedes como um dos fundadores, divulgou um levantamento "otimista" quanto à situação do Brasil no mundo. Um relatório da equipe de Carlos Siqueira, intitulado "A vez do Brasil finalmente chegou?", aponta que nosso país "estaria ingressando em um período de prosperidade", levando como fatores a exportação de alimentos e recursos minerais e a produção de recursos energéticos.

Segundo o levantamento, o Brasil estaria numa "posição única" na geopolítica mundial, distante dos principais conflitos internacionais e numa postura aparentemente estratégica de neutralidade política num mundo polarizado. O levantamento foi divulgado por matéria do jornal Valor.

Essas notícias - e ainda temos a do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2,9% - não diferem muito das que foram divulgadas nos períodos dos generais Emílio Garrastazu Médici e Ernesto Geisel, no período do "milagre brasileiro" da ditadura militar. As notícias seriam realmente muito boas se estivessem realmente refletindo no cotidiano da população. Só que não.

Há cinquenta anos, também foram divulgadas excelentes notícias de crescimento econômico e também havia "previsão" de que nosso país entraria num novo tempo de prosperidade e progresso plenos. Mas isso não refletiu na vida de quem ocupa posições inferiores da pirâmide socioeconômica brasileira.

Apenas os chamados "pobres remediados" e o proletariado "técnico" são beneficiados. Mas o povo que está fora da bolha lulista não sente os efeitos desse crescimento, comprando alimentos caros e pagando contas onerosas, que nem a soma do salário mínimo com o Bolsa Família conseguem resolver.

Com isso, vemos em Lula 3.0 uma versão repaginada do "milagre brasileiro", com um quadro cultural até pior do que o da Era Geisel, que mesmo nos seus limites oferecia espaços, ainda que quase clandestinos, ao pensamento crítico e às manifestações culturais de qualidade, ao passo que hoje o pensamento crítico é banido das atividades acadêmicas e das produções como o cinema e o teatro, enquanto as monografias e filmes documentários produzidos hoje no nosso país são obras de pura complacência e, não obstante, clara defesa do status quo.

Hoje as mesmas elites que derrubaram João Goulart e defenderam o AI-5, se consideram "democráticas". Sobrevivendo ao naufrágio bolsonarista, há quem se considere "de esquerda". Mas nota-se que é a mesma elite do atraso que mudou para permanecer a mesma, e ela é que usufrui dos benefícios desse "socialismo de fachada" de Lula, que não é mais do que um neoliberalismo assistencial movido pelo marketing e outros recursos discursivos como relatórios, estatísticas, rituais, textões etc. 

Pelo menos o "milagre brasileiro" não é conduzido por generais sisudos nem seus beneficiados são a velha elite ortodoxa dos antigos bailes da alta sociedade. Mas o povo pobre continua sendo apenas um detalhe, como há 50 anos.

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