O golpe político de 2016 foi há pouco tempo, mas o episódio foi abafado por outro golpe, o de 2023, realizado em Brasília no dia 08 de janeiro, e de repente Jair Bolsonaro, Sérgio Moro, Carla Zambelli, Silas Malafaia, Deltan Dallagnol e outros passaram a pagar por 524 anos de atrocidades brasileiras, livrando a elite "civilizada" de pagar a conta exorbitante de valor incalculável.
Os noticiários apontam para vários episódios relacionados, como a atuação abusiva e promíscua de Sérgio Moro, então juiz da Operação Lava Jato, e o procurador do Ministério Público, Deltan Dallagnol, que não deveriam ter sido parceiros. Há também o caso do crime contra a vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes, prestes a ser esclarecido, com investigações finalizadas sobre quem teria mandado matar a parlamentar e ativista.
Mas o que também se fala é do envolvimento de Jair Bolsonaro no comando e na organização do golpe de Oito de Janeiro. Investigações em torno da trama golpista apontaram até mesmo uma minuta, considerada mal redigida, e que seria um rascunho do planejamento de diversos atos, dos quais a baderna do Oito de Janeiro seria apenas um aperitivo.
Há, inclusive, conversas, como a discordância do general Marco Antônio Freire Gomes quanto aos planos de Bolsonaro, a ponto do oficial ameaçar prender o ex-presidente caso ele levasse adiante os planos malignos. O Supremo Tribunal Federal está monitorando os inquéritos.
De fato são episódios gravíssimos, que atentam para a insegurança brasileira em vários sentidos. Mas vamos combinar que o declínio do bolsolavajatismo, que até poucos anos atrás era tratado como a "salvação da lavoura" da nação brasileira, tem por trás a síndrome do "capanga de pirata" que pula para o barco rival quando vê que o navio de seu líder está naufragando.
Bolsonaro é um subproduto de uma longa linhagem de pessoas reacionárias, golpistas e que, no passado, exterminaram abertamente índios, negros, camponeses, mulheres. Seria preguiçoso e confortável atribuir todos os males da humanidade ao bolsolavajatismo. Nomes como Jair Bolsonaro e Sérgio Moro representam apenas uma parte do golpismo que anda subestimada pela opinião pública oficial, ou seja, a opinião que se publica.
A burguesia que se engajou no golpe político de 2016, depois dos preparativos das jornadas de junho de 2013, agora tenta renegar sua responsabilidade, atribuindo apenas a personagens secundários todo o processo de degradação nacional.
O golpe de 2016, incluindo a farsa justiceira da Operação Lava Jato, apenas teve como autores principais Aécio Neves, presidenciável derrotado em 2014, o então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, o então juiz Sérgio Moro e o então vice-presidente que traiu Dilma Rousseff, Michel Temer. Jair Bolsonaro não foi autor do golpe, mas um ator coadjuvante, até bastante destacado, mas que não foi o autor do roteiro do triste espetáculo de oito anos atrás.
As esquerdas lulistas também precisam perceber a outra farsa, a do "baile funk" de Copacabana, em 17 de abril de 2016, comandada pelo DJ e empresário Rômulo Costa, da Furacão 2000. Ligado à bancada evangélica por ser marido de uma parlamentar religiosa, Rômulo também era sogro da golpista Antônia Fontenelle. Mas o DJ resolveu fingir que era "socialista desde criancinha" e armou um evento falsamente solidário à Dilma Rousseff, mas que anestesiou a população com o clima de festa.
As esquerdas comemoraram o evento como um "ato em defesa da presidenta", mas o clima de festa abafou o teor da revolta. Isso ficou claro quando o evento foi divulgado no exterior. Dessa forma, a alegada revolta popular contra o golpe de 2016 se dissolveu na diversão, o que fez com que acabasse com o clima de tensão e permitisse os golpistas em votar tranquilos a saída de Dilma.
Com exclusividade, Linhaça Atômica mostrou Rômulo Costa realizando uma parceria com um político que se engajou no golpe contra Dilma Rousseff e que depois apoiou Jair Bolsonaro. Um fato chocante e contundente para quem imaginava que o dono da Furacão 2000, um dos empresários mais ricos do Estado do Rio de Janeiro seria "o maior discípulo estadual de Karl Marx".
Nota-se uma mudança sutil de narrativa quanto ao golpe político de 2016, e até uma seletividade no seu contexto. Gleisi Hoffmann, Lindbergh Farias, Dilma Rousseff e Valter Pomar estão entre os petistas que criticam abertamente Michel Temer. Já Lula, não, ele é mais cauteloso, às vezes o atual presidente passa pano nos erros do temeroso governante, como se pudesse ver algo de aproveitável na maligna "ponte para o futuro".
Lula saiu mudado, e negativamente mudado. Se comporta como um autêntico pelego, que negocia com a burguesia nos bastidores e não dá satisfações, não dá esclarecimentos, não faz autocrítica. Lula não abre o jogo, e é isso um de seus aspectos mais negativos. Até agora Lula não explicou o que seriam as acusações de corrupção contra ele.
Hoje vemos que o "Brasil único", o "um só país" de Lula, é um clubinho de abastados dos quais se exclui, de um lado, quem é mais intelectualizado e, de outro, quem é mais miserável. Ou seja, um Brasil que buscava se projetar nos tempos de Juscelino Kubitschek e João Goulart foi alijado da "democracia plena" do atual presidente brasileiro, que preferiu se juntar a uma elite do atraso repaginada, mas essencialmente a mesma que usufruiu de seus privilégios nababescos durante o "milagre brasileiro" da ditadura militar.
É, sem dúvida alguma, uma excelente notícia o desmonte do bolsolavajatismo, com a possibilidade de punição a seus responsáveis. Mas não vamos esquecer que a burguesia que apoiou com gosto esse processo de sucateamento político agora posa de "boazinha" querendo se livrar daquilo que defendeu com ardor. Para uma elite que adora jogar comida fora, faz sentido ela cuspir no prato em que comeu.
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