Não sou um cirista, um partidário de Ciro Gomes, já critiquei ele e tudo o mais. Mas, de 2022 para cá, ele se tornou mais ponderado e sua vantagem em relação a Lula foi que o ex-governador cearense tem programa de governo lançado até em livros.
Mas, gostando ou detestando Ciro Gomes, devemos admitir que a tão festejada "democracia" de Lula não aceita dar espaço para o ex-governador, que leva surra dos lulistas da mesma forma que aqueles estudantes fracotes levam dos valentões de escola (processo de humilhação oficialmente conhecido como bullying e que proponho ser traduzido como "valentonismo"). Mas, se utilizando da projeção psicológica freudiana, os lulistas agridem Ciro Gomes mas se dizem agredidos por ele.
Nota-se uma intolerância em relação a Ciro Gomes, nesta democracia "I Me Mine" do Lula "nuvem bove" - alusões e outra vítima da "dor no quadril", o ex-beatle George Harrison - , na qual o petista comete o erro grosseiro de desejar uma "democracia" só para ele. É constrangedor ver Lula bancando o dono da democracia.
O que me decepcionou em Lula são muitos erros cometidos desde 2021. Seja querer reconstruir o Brasil com clima antecipado de festa, seja se aliar com a direita neoliberal, seja começar o atual mandato viajando ao exterior, quando seria mais do que necessário um hiato para a recuperação interna do nosso país. Para quem sabotou a competitividade eleitoral e chorou falando de fome para arrancar votos, começar o governo viajando foi um desrespeito com o povo brasileiro.
Lula não pode fazer o que quiser, no sentido de achar que, cometendo erros, estaria sempre certo. Em dado momento na vida, todos nós temos que abrir mão de nossas teimosias desistir de certas empreitadas. Faz parte da vida. Lula poderia ter cancelado viagens emandar ministros para lhe representarem no exterior.
Se eu fosse presidente da República, eu teria iniciado o mandato dentro do próprio país, resolvendo problemas como Trabalho, Saúde, Moradia, Segurança, Sustentabilidade etantos e tantos outros temas que tocam no cotidiano do povo brasileiro.
A melhoria da imagem do Brasil seria promovida pelos progressos da política interna, sem que o chefe da nação tivesse que viajar lá fora. Quando muito, que o presidente brasileiro envie um ministro ou o vice para eventos estrangeiros, como as reuniões de cúpula.
Recursos financeiros? Primeiramente, dá para estimular nossa Economia aproveitando o que temos aqui de riquezas naturais. Estimulando a Agricultura, por exemplo, investindo no processo de colheita, transporte e distribuição de alimentos, é possível gerar riqueza sem apelar para "investidores estrangeiros".
Creio que Ciro Gomes faria isso, pois é um político menos espetaculoso que Lula. Infelizmente, o petista que hoje preside o Brasil virou escravo de seu próprio mito e de seu próprio carisma que seu atual mandato é, seguramente, o pior de todos, pois nos mandatos anteriores se viu Lula trabalhando e agindo.
Mas independente disso, Ciro tem todo o direito de ter seu espaço de expressão numa democracia autêntica e não ser humilhado pelos adeptos de Lula, que pecam pela arrogância desmedida, da qual o exemplo vem de cima, que é o próprio Lula querendo se pavonear no exterior e se achando o único líder político viável do Brasil. Certa vez, Lula zombou até de um pedido de impeachment dado contea ele. "Me segura para não cair", ironizou o presidente. Mal sinal. Essa arrogância fortalece o antipetismo.
Lula se torna impopular porque fez pouco para o Brasil. E, o que é gravíssimo, fez coisas ruins, como frágeis aumentos salariais, falta de política de queda definitiva de preços e erros socialmente negativos como entregar o Ministério dos Esportes para o fisiologismo político (com o sério risco da pasta virar o Ministério dos Dirigentes de Futebol), prejudicando o esporte amador.
Recentemente, Lula nomeou, para o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), Eduardo Martins, amigo de Flávio Bolsonaro. O influenciador Felipe Neto, que era anti-lulista e apoiou a campanha de Lula em 2022, rompeu novamente, dizendo sentir vontade de sair do país para "curtir seu dinheiro".
Neste caso, os lulistas atacaram Felipe Neto, sem saber do perigo da nomeação. Vai que Eduardo Martins mexe os pauzinhos e garante a elegibilidade de Jair Bolsonaro, mesmo fazendo tráfico de influência. Lembremos que, na Alemanha, Hitler conquistou o poder dentro das condições de legalidade institucional.
Não se pode criticar Lula. Que democracia é essa? A da dita "revolução de 1964"? Se bem que os descendentes das famílias golpistas de seis décadas atrás hoje são a "nata" dos apoiadores de Lula. Mas ver que até documentários de cinema e teses de pós-graduação proíbem o pensamento crítico de forma que, se fosse brasileiro e vivesse hoje, um Umberto Eco não iria além de um blogueiro com dificuldade de repercussão na Internet.
Voltando ao Ciro Gomes, nota-se o quanto a "democracia lulista" não convence e soa um desrespeito associar o pedetista ao bolsonarismo. Quem está mais colaborando com o bolsonarismo, admitindo que é sem querer, é o próprio Lula, pelo seu governo medíocre e muito aquém das promessas mirabolantes de campanha.
E de que adianta os lulistas acusarem Ciro de "palhaço da extrema-direita" se Lula, ao nomear um amigo de Flávio Bolsonaro - este um perigoso braço parlamentar dos milicianos fluminenses - para o TRF-1, está pavimentando, sem querer, o caminho para um golpe bolsonarista. Em nome da "democracia", Lula se perdeu pelo caminho. Ciro tem razão ao criticar Lula.
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