O MORALISMO RELIGIOSO QUER QUE VOCÊ AGRADEÇA QUEM LHE DERRUBOU.
Perdoar algozes como se eles fossem pessoas adoráveis, se preciso permitindo que levem vatagem na vida em relação às suas vítimas. Deixar arrivistas furarem a fila e depois ajudá-los e apoiá-los se servindo como um trampolim social.
São duas receitas de uma estranha e velha moralidade religiosa, de caráter puramente medieval mas que se impõe como se fossem ideias universais, atemporais e futuristas. Uma estranha recomendação de passar pano nos abusos e maldeades de putros.
É uma moral religiosa bem própria de uma elite egoísta, mas metida a generosa, que nunca sofreu de verdade na vida, por isso roga aos aflitos e deserdados da sorte a conformação com sua situação degradante. Por nunca sofrerem de verdade, esses abusivos morais sempre pedem para os oprimidos continuarem sofrendo, como se isso fosse uma "dádiva superior". Sutilmente perversos, seus indivíduos pregam isso com o mel das palavras ditas e o bálsamo das palavras escritas.
É claro que tudo que a elite do bom atraso defende soa "universal", "atemporal" e "moderno", mesmo quando, na verdade, esses valores são privativos de sua classe e refletem apenas um limite de tempo. A gíria "balada", privativa da Jovem Pan, da Faria Lima e de Luciano Huck, é toda como "universal" e, sendo gíria, deveria ser temporária, mas tenta se impor como "eterna" e "acima dos tempos".
Também "acima dos tempos" se colocam os parquiletes, aqueles currais boêmios instalados nas ruas que se vendem sob a propaganda enganosa de "praças públicas". São instalações que deveriam ser provisórias mas são permanentes, para dar ao burguês enrustido um clima de "Route 66" sem sair do Brasil e cantando "Proud Mary" balbuciando o refrão: "Uouin' at the Ribo".
Esta é a elite do bom atraso e seus costumes bizarros e bisonhos. Uma classe que achava Juscelino Kubitschek um "comuna tirando onda de liberal", não suportava um segundo de governo João Goulart mas agora, repaginada sob a nova embalagem de "elite democrática" simpatizante do "socialismo de butique e de boteco", tenta sobreviver ao naufrágio que está tragando o bolsolavajatismo aos poucos.
Tentando nos fazer convencer de que basta não adotar uma estética de raiva para ser "democrático e progressista", a elite do bom atraso, a burguesia de chinelos invisível a olho nu, prega uma religiosidade retrógrada que destoa da sua aparente defesa da justiça social, mas isso pouco importa pois a religião não é solidária à coerência, condenada esta pelo pecado do "uso descontrolado" das atividades cerebrais.
O sofredor tem que sofrer adversidades sem fim, quieto, resignado e subserviente. Tem que agradecer a Deus pela desgraça obtida. Tem que perdoar os algozes e ficar feliz com seus abusos, e se aliar aos arrivistas para obter algum benefício. Sempre a ilusão de que, passando pano na desonestidade ou na crueldade alheia, se está sendo nobre e superior moralmente.
Sim, é essa a lógica dessa religiosidade religiosa medieval, que é tão podre que cheira a uma mistura de mofo tóxico, fedor de fezes de um mês, odor de vômito e inhaca de sovaco há dias sem perfume. Apesar dessa podridão, esse moralismo religioso se passa por "progressista" pela ausência de raiva no seu discurso, mesmo apelando para a causa mais cruel de desejar que os oprimidos se calem e se conformem diante das piores adversidades.
E tem gente que vai para a cama tranquila quando alguém, mesmo de forma laica, defende esse moralismo religioso retrógrado mas manifesto com doçura na voz e suavidade nas palavras, disfarçando ideias dignas do pior bolsonarismo em um aparato que faça tais conceitos fossem aceitos até pelas esquerdas. Triste.
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