LULA REZANDO PARA NÃO CAIR?
O governo Lula tornou-se um simulacro. Relatórios, estatísticas, cerimônias, rituais, encenações, discursos, opiniões. Um esforço de fazer o jogo das aparências compensar a debilidade das ações. É uma grandiloquência, a grandeza da forma, que mascara o conteúdo oco da realidade de um governo marcadamente medíocre. É uma coreografia das palavras, o teatro das promessas, da opiniões e, não raro, das mentiras, que tentam dar a si mesmos o valor de realidade concreta que na verdade inexiste.
Quem está bem nesse país do Lula 3.0 é quem está bem de vida. Lula governa para o brasileiro festeiro que passa a madrugada gritando, tocando som em volume extremo e gracejando das piadas sem graça que só ele, seus familiares e amigos acham engraçadas. O outro brasileiro, que tem que dormir para acordar cedo para trabalhar, foi abandonado e deixado à deriva, desamparado na sua forçada insônia devido à barulheira impune da vizinhança.
Durante um ano inteiro nosso blogue foi boicotado por lulistas, mostrando o quanto essa sociedade bem de vida e de bem com a vida tem uma raiz conservadora, por trás do verniz "democrático" e dos apelos hipócritas pedindo "mais amor, por favor".
Tive que analisar, depois de tantas leituras dos livros do sociólogo Jessé Souza, e cheguei à constatação de que a elite do atraso que ele tanto falou - e devemos lembrar que ele criticava tanto a direita quanto a esquerda - se repaginou após os excessos danosos do governo Bolsonaro e seus mais de 600 mil mortos pela Covid-19.
Daí as mudanças de comportamento dessa elite do atraso, da qual renomeei, adaptando o termo de Jessé, para a elite do bom atraso. Uma elite que, em 1964, não suportava João Goulart no poder, tomava Ron Merino ao som de Frank Pourcel e achava o Gordini um "carro de pobre". De repente, seus descendentes viraram a elite sorridente que bebe até aguardente artesanal, ouvindo "funk", trap e piseiro e querendo reeleger Lula, hipótese que acredita ser uma certeza absoluta. Privatista até a medula, esses privilegiados passaram a defender a causa estatista porque descobriram que o Estado pode financiar seus projetos, liberando a grana privada dessa elite para a diversão.
Fora dessa elite que não suporta o pensamento crítico, o que mostra que as velhas neuroses conservadoras não se extinguiram totalmente, o Brasil que não aparece no imaginário lulista começa a dar seu grito, com pobres e outros excluídos sociais que não sentem os benefícios que o atual presidente do Brasil disse ter realizado.
Esses excluídos são os miseráveis da vida real que se sentem traídos e abandonados por Lula, os primeiros a duvidarem que a aliança pelega do petista com o presidente dos EUA, Joe Biden, iria realmente fortalecer os movimentos do proletariado. São os agricultores famintos, que, juntos com o filósofo suicida e o sobrinho do "médium da peruca" (e das frases publicadas nas redes sociais para "alegrar o dia"), desaparecem debaixo dos arquivos.
Mas não são somente eles, nem os sem-teto, nem os desesperados sem chão das cracolândias de todo o Brasil, do dramático favelado que a Globo não mostra. Outros excluídos são o intelectual refinado com senso crítico afiado e cético de haver alguma evolução da música popularesca. É o solteirão que vive em casa nas noites de fins de semana e cuja bebida mais nociva que consome é café e cujos filmes mais violentos de que gosta de ver são os desenhos antigos de Tom & Jerry e Pica-Pau.
Os excluídos da festa lulista existem e eles estão fora desse "um só Brasil" em que todos são "iguais", mas uns são mais"iguais" do que outros. Esse Brasil que não aparece no Vai que Cola, nas letras do "funk" e do trap, nas matérias do Globo Esporte, nas escolas e faculdades de Malhação, quer gritar mas o barulho da festa lulista não deixa.
Mas as placas tectônicas das tensões sociais que estão por vir já arranham o governo Lula. Nem as supostas pesquisas de opinião conseguem esconder, pois o IPEC divulgou um levantamento dozendo que a aprovação do governo Lula caiu para 33%. Oficialmente, o motivo seriam as declarações descuidadas de Lula contra Israel, mas nós sabemos que o buraco vai mais embaixo.
Os preços não caíram de maneira expressiva nem permanente, os salários continuam baixos, o emprego prioriza a juventude e o status quo e cada vez menos valoriza o talento, para que não se empreguem gente melhor que seus patrões. Nos concursos públicos, os critérios meritocráticos e as questões mal elaboradas e prolixas acabam aprovando gente que depois vai dalar mal do trabalho, mal-agradecidos pela inesperada aprovação para cargos que nem desejavam muito exercer.
E se até os cargos de Comunicação agora privilegiam comediantes metidos a jornalistas, então nosso país não obteve a justiça social prometida e Lula, hoje, tenta usar seu mito e seu carisma como carteirada para poder fazer o que quiser com o povo brasileiro.
Passado o primeiro ano do paraíso de Adão e Eva de Lula 3.0, cujos erros tinham que ser aceitos e tolerados porque "senão Bolsonaro volta", hoje já começam as críticas duras ao governo Lula, que desde a campanha presidencial está isolado, sim, dentro da bolha de seus apoiadores. Mas tudo indica que a rejeição vai aumentar, e muito, pela falta de ações concretas e reais do atual mandato.
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