O relator da Organização das Nações Unidas sobre Verdade, Justiça e Reparação, Fabian Salvioli, declarou que a decisão do governo Lula em cancelar eventos em memória das vítimas da ditadura militar, cujo golpe faz 60 anos amanhã (apesar de hoje ser a data comemorativa oficial), mostra que essa fase dramática da vida política brasileira não foi superada.
Entrevistado pelo jornalista Jamil Chade, o especialista falou que "é um erro pensar que, por ter ocorrido há 60 anos, o golpe não deve ser lembrado". Trata-se de um grande equívoco do presidente brasileiro, uma vez que é lembrando episódios trágicos da História que se aprende a não repetir essas tragédias. Um equívoco tal que até o Partido dos Trabalhadores, à revelia do presidente da República, se lembrou das vítimas da ditadura através de um comunicado.
Entendemos que a questão de Lula cancelar cerimônias e a criação de um memorial mostram a contradição de um presidente que quer ser a personificação da democracia. Em vários momentos, Lula sinaliza complacência com o golpismo político "clássico", na ironia dele mesmo ter sido sindicalista nos anos de chumbo.
Lula afirmou que prefere se preocupar com o golpe de Oito de Janeiro de 2023 do que lembrar 1964, que o presidente brasileiro julga ser um "fato passado". A impressão que se tem é que Lula só quer combater o bolsolavajatismo e deixar o velho sistema de valores vigente como está, rompendo com a antiga missão esquerdista de transformar a sociedade.
Alguns pontos a considerar:
1) Lula usa o termo "democracia" como um eufemismo para as concessões à direita, maiores do que nos mandatos anteriores;
2) Lula está complacente com o governo Michel Temer, pois sua bronca maior está com Jair Bolsonaro e Sérgio Moro. Há indícios de que essa é a divergência que fez Lula romper com Dilma Rousseff, com a qual estaria brigado;
3) A coisa piora quando se sabe que Dilma Rousseff foi prisioneira política torturada durante a ditadura e Lula não parece disposto a lembrar historicamente desse pesadelo político.
Lula sinaliza estar mais próximo da direita moderada e reduziu seu projeto de nação ao denominador comum entre o neoliberalismo e o assistencialismo.
O silêncio de Lula indica que ele abandonou as vítimas da ditadura militar, como ele abandonou o povo brasileiro em geral. Sua queda de popularidade é notória e tende a se agravar, por conta de suas posições recentes. A sua desaprovação já atinge 50%, e isso é só em supostas pesquisas de opinião. A realidade, então, é bem pior.
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