Lula tem como um de seus graves defeitos a falta de autocrítica e a indisposição em prestar esclarecimentos diante de sérias acusações. Isso faz com que ele permita aumentar o quadro de opositores políticos e sociais de forma que o presidente hoje tem um índice de popularidade decrescente. Vide a apertada vitória eleitoral de 2022 e, em contrapartida, da grande adesão dos bolsonaristas ao protesto de 25 de Fevereiro.
Na visão de Lula, ter autocrítica e prestar esclarecimentos seriam atos de humilhação, o que é uma avaliação bastante errada. Afinal, se Lula deixa de tomar tais procedimentos, por outro lado ele também passa a ser visto como alguém sem escrúpulos, confirmando as acusações feitas contra ele.
Fora da dança dos números e das palavras que rondam as atividades de Lula, recreios de publicidade e propaganda que extasiam a bolha solidária ao presidente, a popularidade do atual chefe do Executivo cai, se não de forma vertiginosa, mas de maneira expressiva e decisiva, mas em desacordo com a mística em torno do atual mito - sim, Lula também é um mito - , alimentada por supostas pesquisas de opinião.
Sim, porque há a crença de que é "impossível" que Lula perca popularidade ou que ele foi abandonado pelo povo pobre. O mito precisa prevalecer e a realidade é que negocie para confirmar, e não negar, o mito e suas fantasias. As narrativas em torno de Lula tem que seguir essa lógica. A visão realista é que tem que se esforçar para reafirmar o pensamento desejoso.
Mas, apesar disso, Lula perde apoio justamente entre os que ele mais necessita contar, que é o povo pobre. As distorções da mídia lavajatista não foram desmentidas por Lula, que nunca fez um comunicado oficial desmentindo as acusações de corrupção.
Certa vez, Lula disse que não faz autocrítica porque isso faria faltar elementos para ele ser criticado. Lula não reprime as críticas a ele, mas as despreza. Lula se comporta como aquela pessoa que atravessa a rua com o sinal vermelho e despreza avisos e conselhos. Na campanha presidencial de 2022, por exemplo, Lula preferiu ouvir a direita moderada do que seus próprios aliados do PT.
Lula comete coisas estranhas que favorecem e até fortalecem a formação de opositores. O ato de pagar parlamentares para votar a favor do governo Lula foi crucial para o petista ser considerado corrupto. A adoção de um eufemismo, "verbas para emendas parlamentares", não resolveu a situação e o antipetismo cresce, sustentado pela mídia corporativa, pelas seitas evangélicas e atraindo quem oficialmente é considerado incapaz de repudiar Lula, que são as classes trabalhadoras.
A própria atitude de Lula fazer sempre prevalecer suas decisões, por supostamente só ele saber das coisas, cria outro problema: a fama de "ditador". A ideia dele vincular à sua imagem um movimento pela "redemocratização do Brasil", tática usada pela campanha presidencial de 2022, foi terrível neste sentido, pois Lula quis uma "democracia" só para ele, sabotando a campanha para afastar concorrentes e sobrar somente ele e Jair Bolsonaro num primeiro turno que o petista queria fazer ter um gosto de segundo turno, na esperança de obter maior votação possível contra o extremo-direitista.
Isso acabou rendendo um jogo sujo contra um dos concorrentes, Ciro Gomes, vítima de uma projeção psicológica, pois o ex-governador cearense era alvo de calúnias e agressões dos lulistas, que no entanto inventaram que o agredido é que seria o agressor. E enquanto Lula buscou a vitória eleitoral apostando no seu carisma, abrindo mão de um programa de governo, Ciro tinha programa de governo publicado em livros.
Lula também ofereceu munição a seus opositores quando, ao assumir o terceiro mandato, abriu mão da reconstrução do Brasil para priorizar a política externa. Nem o combate à fome, causa que fez Lula chorar em seus comícios de campanha, pedindo desesperadamente votos dos brasileiros, ele tomou como ação imediata. Lula levou meses para lançar medidas de interesse social, enquanto se apressou em se pavonear para o mundo, intervindo em assuntos privativos da geopolítica internacional. Tudo sob o pretexto de "melhorar a imagem do Brasil no mundo", de "atrair investimentos estrangeiros" e da promoção de Lula como um "líder mundial". Os lulistas chegaram até a falar que "o Brasil voltou".
Mas os opositores de Lula retomaram o estigma do "Lula viajante", explorado pelas sátiras humorísticas dos dois mandatos anteriores, acrescentando a alegação de que as viagens ao exterior serviriam também como "intermináveis luas-de-mel" de Lula e a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja.
As viagens também impulsionaram as queixas dos antipetistas de "uso abusivo de dinheiro público", fuga dos problemas do país e cortina de fumaça para esquecer os problemas vividos pelo povo. Ou seja, Lula fornece uma porção de motivos para os antipetistas lhe criticarem, e o fortalecimento da oposição fez até ser lançada uma ação pedindo impeachment de Lula, por conta das declarações contra o governo de Israel, entendida como uma ameaça de conflito internacional.
Para complicar ainda mais as coisas, Lula ameaçou punir quem cotou pelo impedimento político com corte de emendas (Suborno? Corrupção?) e, no caso de estarem ligados à equipe do governo, a expulsão dos respectivos cargos. Isso reforça a imagem de "ditador" de Lula, que não se resolve com alegações em prol da democracia, pois a imagem de Lula como "personificação da democracia" está sendo ridicularizada pelos canais antipetistas que se multiplicam feito câncer nas redes sociais.
Diante disso tudo, Lula está numa das situações mais complicadas de sua carreira, em função de suas omissões e o erro, tido como "estratégico", de evitar autocríticas e de ouvir advertências. Movido por impulsos, Lula só ouve a si mesmo, como se estivesse num mundo todo dele, em que a democracia é apenas uma órbita na qual Lula é o centro.
Com isso, as bolhas lulistas que usam o tempo todo as redes sociais afirmam o "indiscutível sucesso" do atual mandato de Lula, se achando no direito de dar invertidas a qualquer questionamento lançado. Mas, fora das redes sociais, o antipetismo cresce e coopta o povo pobre de forma crescente, formando uma bola de neve que pode dar numa grande avalanche política.
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