PEOTESTOS CONTRA LULA REFLETEM ATÉ NA MÍDIA CORPORATIVA.
A declaração de Lula, no evento de inauguração de uma obra em Guarulhos, deveria dar o que falar, se as pessoas abrissem mão da compreensão fragmentada e juntassem as peças do quebra-cabeça. Eu, como jornalista, não me contento em ver pecinhas soltas flutuando por aí numa contradição pretensamente harmoniosa das circunstâncias, e mesmo que apareça um monstro nas peças unificadas, a imagem inteira é mais adequada do que as peças soltas e dispersas a iludir as pessoas.
Por isso mesmo, eu me senti, como cidadão, revoltado quando Lula recebeu os grevistas com pretensa cordialidade: “Que bom vocês (grevistas) terem vindo aqui”. Oficialmente, parece que Lula, a “personificação da democracia”, acolheu amistosamente os revoltosos como se desse pleno direito das pessoas se manifestarem até mesmo contra o governo. Mas não é assim que acontece.
Em primeiro lugar, Lula age visando a promoção pessoal, vinculando qualquer fator positivo à sua imagem individual. É como se Lula se achasse um Deus, que criou a democracia e que foi o primeiro a fazer grandes realizações para o Brasil e para o mundo. Até na reunião do G-7 em 2023 Lula, convidado para ser um mero espectador, tentou roubar o protagonismo dos outros ao discursar, dando aos incautos lulistas a falsa impressão de que o presidente brasileiro era o anfitrião da reunião dos países ricos.
No caso das greves, Lula, que não é mais a sombra do líder sindical que ele havia sido, tentou ver as manifestações mais como um gancho para sua permissividade “democrática” em detrimento ao autoritarismo bolsonarista do que ao acolhimento das reivindicações grevistas. Lula, desdenhando as pautas trabalhistas, apenas pediu para os trabalhadores “lutarem”, sinalizando que o presidente pelego, por si só, não vai lutar a favor dos que outrora chamava de “companheiros”.
Mesmo a aparente receptividade de Lula com as pautas reivindicadas soa superficial e com certa má vontade, pois o presidente se ocupa com sua promoção pessoal, e, como.pelego, ele pode até continuar “amigo” dos trabalhadores, mas sempre trará conquistas bem mais fracas e abaixo das reivindicações do proletariado, do campesinato e dos servidores públicos, professores e estudantes.
O pelego não passa a ser hostil aos trabalhadores em nome dos quais atua, mas faz um jogo duplo, se aliando aos patrões, aos ricos e aos poderosos que, na surdina, dão vantagens secretas ao próprio pelego.
Só mesmo um ingênuo e tolo para acreditar que a aliança de Lula com o presidente dos EUA, Joe Biden, para “fortalecer” as lutas sindicais dos dois países, tenha sido um projeto sinceramente favorável às classes trabalhadoras. O caráter pelego da aliança salta aos olhos e sinto pena de ver articulistas da mídia alternativa brasileira ainda acreditassem em Biden como “apoiador” dos movimentos sindicais.
No Brasil, o povo pobre, as classes trabalhadoras e os movimentos sociais estão se decepcionando dramaticamente com o governo Lula. As tribos indígenas, o MST, os professores e estudantes da rede pública básica e das universidades públicas e muitos trabalhadores pobres estão todos indignados com Lula, que trata a reconstrução do Brasil sob um estranho clima de festa e nada faz de definitivo para melhorar o emprego, reduzir preços e valorizar salários, agora reajustados anualmente com um humilhante acréscimo de noventa reais ao salário mínimo.
Daí o recado da baixa presença de trabalhadores no ato de Primeiro de Maio. E Lula, nos bastidores, ficou irritado porque este fracasso destoa de sua campanha de promoção pessoal, não bastasse o “arranhão” de não ter vencido as eleições no primeiro turno e, no segundo, só ter vencido com uma pequena margem de votos.
Por isso ficamos perguntando se Lula não foi irônico com os grevistas de Guarulhos, lembrando que o presidente enfrentou protestos similares também em Araraquara. Ao dizer “Que bom que tenham vindo”, Lula não estaria, na verdade, querendo dizer “Vocês não vieram me saudar no Primeiro de Maio, mas agora é que vieram me ver e, mesmo assim, para fazer cobrança?”.
O que é certo é que Lula só está agradando a uma elite que detém praticamente o monopólio das narrativas nas redes sociais. Um pessoal bem de vida, herdeiro da burguesia que levou a melhor nos tempos do milagre brasileiro e que, portanto, é uma classe que, não bastasse ser dona de grande parte do dinheiro que circula no Brasil, ainda se acha dona da opinião pública. Uma classe que hoje é dissimulada, se achando “mais povo do que o povo” e que se tornou a nata dos apoiadores de Lula.
Hipócrita, essa classe de abastados se acha “povo” enquanto desdenha o verdadeiro povo que não tem direito à festa identitária do “Brasil único” de Lula. Esses excluídos do “bacanal democrático “ do presidente brasileiro existem, a cada vez mais estão decepcionados e se sentindo abandonados e traídos por Lula.
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