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DE REPENTE, DA TRAGÉDIA GAÚCHA SE FEZ UMA FESTA?

TEAUMATIZADO, O POVO GAÚCHO VAI DEMORAR PARA RECUPERAR O ESTADO.

De repente, dias depois da tragédia do Rio Grande do Sul, bastaram umas ações donativas de famosos e a ação governamental do presidente Lula no episódio para surgir um estranho clima de comemoração, de festejo.

É como se vê na própria ideia de reconstrução do Brasil. As pessoas não sabem dizer se a reconstrução começou ou ainda vai começar, ou se ela já está concluída. Imagine cirurgiões brincando de trenzinho humano no momento em que deveriam trabalhar numa cirurgia de altíssimo risco de um paciente com risco forte de morrer. Pois é.

Supostas pesquisas de opinião apontam recuperação da popularidade de Lula, como se ele já fosse consagrado o super-herói da ocasião. Algo como o Super-Homem voando sobre o Rio Grande do Sul e salvasse a humanidade da catástrofe climática. 

Não é tempo de comemorar. Não dá para fazer festa com a tragédia gaúcha. Devemos nos lembrar que a situação de uma grande parte de gaúchos é extremamente difícil, complicada e de solução muito lenta. Sem falar que o trauma é fortíssimo e as perdas materiais e humanas, gravíssimas.

O que assusta é a insensibilidade da elite do bom atraso justamente com seus semelhantes no sofrido Estado sulista, cuja burguesia de chinelos também consome muita cerveja e cigarros, ouve muito som brega-popularesco - o que varreu para o escanteio o antes destacado rock local (dá para sentir o drama do veterano batalhador Duca Leidecker do renomado Cidadão Quem, que hoje é nacionalmente conhecido apenas como “o marido da Manuela D’Ávila”) - esquecido pelos próprios gaúchos - e é fanático por futebol a níveis de paixão tóxica. 

Se com tantos pontos em comum a egoísta elite enrustida, com muito dinheiro no bolso para consumir supérfluos feito feras devorando uma presa, chega a desprezar o sofrimento dos próprios similares, recorrendo a doações com a frieza sentimental de quem mede uma ação filantrópica conforme a chance dela render prestígio, lacração e, sobretudo, monetização nas redes sociais, se bem que os influenciadores já têm um salário polpudo independente de monetizarem ou não. Nas ofertas de emprego, um influenciador digital é contratado com salários iniciais de cinco a dez mil reais, fora as gratificações e outros encargos.

A gente nem pode elogiar, no caso de Lula, a sua ação positiva de acompanhar a tragédia e criar medidas de socorro. Primeiro porque Lula agora dá “gorjeta” para o Congresso Nacional votar a favor dele, as tais “verbas para emendas” (com o vergonhoso contentamento dos lulistas em ver parlamentares, mesmo os do Centrão, com salários exorbitantes). E, segundo, porque os aplausos vieram cedo demais, quando a situação dos gaúchos exige uma recuperação lenta, principalmente emocional. Enquanto fora dos Pampas a bolha lulista já está fazendo Carnaval com a ajuda inicial feita, o povo gaúcho ainda mantém fresca na memória a sua tragédia e suas perdas irreparáveis.

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