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EXPLICANDO A RECONSTRUÇÃO DO BRASIL

 OBRAS DE REPARAÇÃO DO TETO INTERIOR DE UMA CASA.

Começou o ano de 2024, depois de um 2023 festivo para o Brasil convertido num parque de diversões para a elite do bom atraso, cheia de dinheiro mas fantasiada de "gente simples" para pegar bem na fita e na foto. E agora, como será este ano?

O Brasil não viu a reconstrução do país ser claramente esclarecida e praticada. Dependendo das conveniências do momento, o presidente Lula falava que o Brasil está reconstruído ou que o país ainda vai começar sua reconstrução. Tudo vago, que só empolga a elite do bom atraso que praticamente monopoliza as narrativas mais influentes nas redes sociais.

O que é a reconstrução do Brasil?

Já expliquei um pouco em outras postagens, mas não custa explicar novamente. Reconstruir é remover os entulhos e a sujeira, que não são relíquias vintage só porque são coisas velhas. Se a pessoa brincou junto dos entulhos quando era criança, o problema é dela, a remoção dos entulhos é necessária para criar um ambiente novo, renovado e digno.

Reconstruir é, portanto, um trabalho que não é festa nem diversão, mas de esforço, de dureza, que envolve, sim, muito senso crítico, muita cara feia, muita reclamação. Se a elite do bom atraso não gosta do pensamento crítico - inútil fingir que gosta mas sair boicotando essa ou aquela abordagem contestatória - , tem que engolir porque não há reconstrução do país sem essa ferramenta fundamental.

Não dá para sorrirmos e estarmos de acordo, e partirmos para a festa de madrugada, com cervejas consumidas em dimensões diluvianas, ao som do mais rasteiro cancioneiro brega-popularesco de qualquer época, e com piadas sem graça contadas sob mil gargalhadas histéricas, perturbando os trabalhadores que precisam dormir para se renovarem para um novo dia de serviço.

Reconstruir o Brasil não é botar perfume no que está aí só para tirar o fedor bolsonarista deixado há um ano. O bolsonarismo, assim como o lavajatismo, são apenas subprodutos de algo que precisa ser destruído e não preservado, e a reconstrução exige a remoção de muita coisa que parece agradável hoje, mas que soava igual ao de qualquer fenômeno bolsonarista, há 50 anos.

Na reconstrução, se destrói aquele banheiro lindo com box arrojado que, no entanto, não trazem mais funcionalidade nem a estética defendida por aquele que quer reconstruir a casa. Deve-se remover o mofo, o teto destruído, o assoalho quebrado, mudar as janelas que não conseguem se abrir. É uma trabalheira que solta muita poeira, e é um esforço danado e muitas vezes pesado e doloroso.

A reconstrução do Brasil requer mudar todos os valores, sejam critérios de mercado de trabalho, relações amorosas, cultura musical (estamos ainda prisioneiros do culturalismo brega da ditadura militar), seja na supervalorização em níveis nefastos da religiosidade (em que o Espiritismo brasileiro, que é o Catolicismo medieval de botox, se revela a religião mais perigosa e traiçoeira do Brasil) e no entretenimento esportivo do futebol.

Reconstruir o Brasil é abrir mão de tantas coisas que parecem "muito legais" mas não são tão legais assim. Seria, por exemplo, boicotar o Big Brother Brasil e jogar no lixo, rasgados em picadinhos, os livros de "médiuns" brasileiros, ou CDs de ídolos popularescos. É não dar ouvidos àquele reacionário idiota da Internet que fica defendendo fenômenos nefastos como se fossem o "Santo Graal" da vida humana. Todo Tribunal da Internet mostra seu pior perigo quando há gente, mesmo a não necessariamente ofensiva, aderindo aos ataques de um internauta a quem discorda do que ele acredita.

É difícil dar uma receita completa sobre a reconstrução do Brasil, mas estes são exemplos básicos. O clima não é de festa. Foi tanta festa no ano passado que os empresários do entretenimento já se configuram entre os novos super-ricos, sem que a opinião pública demonstre alguma reação contrária a isso.

Mas agora esperemos que haja menos festa e mais trabalho, com a preocupação de fazer um Brasil um local melhor para se viver, mesmo abrindo mão da obsessão de alcançar o Primeiro Mundo. Nosso país ainda está muito precarizado para atingir essa condição. Cabe aceitar isso com humildade.

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