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O DELÍRIO DE LULA NO BRASIL DA POSITIVIDADE TÓXICA



Quem tem muito dinheiro no bolso e vive na sua vida confortável e na zona de conforto de suas convicções certinhas e lineares, acredita que tudo está bem. Foge de textos que questionam o estabelecido, pelo medo de atrair para si neuroses que, há cerca de dez anos, iniciaram o caminho para o golpismo de 2016 e para a eleição de Jair Bolsonaro.

Essa pessoa, embora se esforce em parecer "tudo de bom", não consegue esconder suas raízes conservadoras e autoritárias. Para ela, a realidade é só o que ela acredita, pouco importando se aquilo que crê está dissonante da realidade. Acumulamos "novos normais" diante dos retrocessos dos últimos 60 anos que só se consegue reconhecer como retrocesso o que veio de Jair Bolsonaro. Ou seja, entre 1964 e 2018, quase tudo o que for de retrocesso é considerado "relíquia vintage".

Vivemos um cenário muito estranho no Brasil. Um Brasil da positividade tóxica, da felicidade tóxica, da diversão tóxica. Ou seja, não se trata do direito real em ser positivo, feliz ou querer se divertir, o problema é quando há uma obsessão neurótica dessas necessidades que, mal conduzidas, podem prejudicar outras pessoas.

O Brasil de Lula 3.0, diferente dos dois mandatos anteriores do presidente, é um reino da fantasia e um paraíso do marketing. Quem se empolga com esse momento atual é quem está bem de vida, tão bem de vida que se acha "o mais legal do planeta" e, pelo prestígio social obtido no seu meio, se acha o "dono da verdade" mesmo que, para fazer charminho de falsa modéstia, dizer que "não é dono" da mesma.

Eu tenho que observar a realidade acima de minha vontade. A realidade não é aquilo que me agrada. Tenho que ver os aspectos adversos, não posso me contentar com o que "se diz". Sou jornalista, e sei muito bem que não vivo num conto de fadas.

Enquanto a propaganda de Lula fica alegando que até os bolsonaristas já começam, aos poucos, a apoiar o presidente, eu vejo que a coisa não é bem assim. E eu posso estar em qualquer lugar, seja Niterói, Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Nova Iguaçu, Belo Horizonte, Salvador ou Rio de Janeiro, que há muita gente criticando Lula. Burgueses? Militares de pijama? Algum incel ressentido? Dondocas paranoicas? Não. Há muito trabalhador que se sente abandonado por Lula.

O que Lula faz é marketing, e posso dizer isso, analisando os critérios de Comunicação, Publicidade e Propaganda e Jornalismo, vendo o quanto a linguagem do discurso lulista promete o melhor dos mundos, mas isso não condiz à realidade. E ninguém pode me acusar de bolsonarista ou extremo-direitista com tal observação. 

Em mais uma tirada marqueteira, o presidente brasileiro publicou, no seu perfil oficial no X (antigo Twitter), uma mensagem que diz: "Que sigamos unidos, caminhando juntos rumo à construção de um país cada vez mais desenvolvido, mais fraterno e mais justo para todas as famílias". A primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja, por sua vez, publicou uma foto abraçada ao marido, no perfil dela no X.

"País cada vez mais desenvolvido"? Com um quadro sociocultural precarizado, com pessoas mais preocupadas com a diversão vazia do que com a qualidade de vida e com a chamada "sociedade do amor" afundada no seu egoísmo hedonista, ganhando demais sem necessidade para fazer festinhas todo fim de semana ao som do pior da música brega-popularesca, a última coisa que o Brasil é capaz de realizar é alcançar a condição de país desenvolvido, de Primeiro Mundo.

Observando com frieza clínica o governo Lula, constato que sua performance é medíocre. Os dois mandatos anteriores foram bons, nada revolucionários, mas pelo menos se via, de fato, realizações promissoras. O problema é que esses mandatos foram só o começo de um caminho e Lula deu esse caminho como encerrado, preferindo, no atual mandato, dar apenas uma maquiagem publicitária, um "fermento" retórico para "aumentar" artificialmente o teor das realizações.

Os preços não baixaram de maneira desejada. Os salários aumentam abaixo do esperado. Enquanto isso, Lula cometeu o erro de priorizar a política externa, pois, antes do Brasil recuperar o prestígio internacional, primeiro deveria investir no progresso interno, e não faria mal um ano sabático para nosso país, pois um jejum de projeção internacional para arrumar a casa teria sido mais benéfico para os brasileiros.

Mas o Brasil preferiu ser pavão do que crisálida. Não se vira borboleta se pavoneando ao redor do mundo. E vejo o quanto Lula prefere promover a sua imagem pessoal, atribuindo-lhe grandiloquência em tudo, só que grandiloquência é muito diferente de grandeza.

A grandiloquência é uma falsa grandeza, algo que parece imenso por fora e pequeno por dentro. É um forçamento de barra ("forçação" não existe) de parecer bem maior do que realmente é, e eu percebo que, na prática, Lula deixou de lado até a essência do que ele foi, porque, atualmente, o Lula virou paródia de si mesmo que superou ate as divertidas paródias do saudoso Bussunda, dos tempos em que o Casseta & Planeta tinha sua razão de ser e não havia comediante metido a jornalista roubando emprego de quem precisa trabalhar em cargos de Comunicação.

Lula, hoje, mais parece um cruzamento de José Sarney com Fernando Henrique Cardoso, acrescentando o "tudo pelo social" com políticas abertamente neoliberais. Lula cometeu horrores, como tirar uma ministra de atuação técnica no Ministério dos Esportes (hoje ameaçado a se reduzir ao Ministério da CBF), privatizar rodovias paranaenses e preferir ouvir a direita moderada (seja ela com que nome for, como "frente ampla" ou "Centrão"), sob a desculpa da "governabilidade", mesmo sacrificando propostas de interesse das classes populares.

Na bolha dos lulistas, hoje composta da pequena burguesia de esquerda e da elite do bom atraso "importada" da direita brasileira, eles se acham "donos da razão", porque estão cheios da grana para se divertirem à toa, com carros do ano, cerveja no estoque e passaporte para viajar no exterior, têm prestígio e visibilidade social e, por isso, se acham no poder de julgar a realidade conforme suas convicções, como se sair para tomar cerveja no bar da esquina lhe permitisse a compreensão objetiva do mundo em volta.

Mas não permite. Todos estão envoltos no mundo da fantasia da felicidade tóxica. Gente se divertindo demais, tomando cerveja adoidado, consumindo demais sem perceber o que realmente querem na vida, gritando que nem trogloditas no cio nas madrugadas de divertimento tóxico, com piadas e gracinhas ditas em altíssimo volume para perturbar os trabalhadores que precisam dormir para encarar uma difícil jornada no dia seguinte.

E, juntamente a isso, vemos um Lula preocupado mais com sua promoção pessoal, enquanto, também, promove o culto à personalidade em torno de si mesmo, com os lulistas achando que tudo o que o presidente faz é certo e, nas redes sociais, os internautas pequeno-burgueses rebatando críticas ao Lula com seu esnobismo em fala mansa. E toda essa luta dos apoiadores de Lula é para colocar o sonho acima da realidade. Para um país convertido num grande parque de diversões que se tornou o Brasil, isso é compreensível.

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