Raimundo Fagner acabou sendo tragado pela tsunami comercial da grife Sullivan & Massadas.
E virou um dos nomes mais conservadores da música brasileira.
Deixou para trás o grande cantor cearense que chegou a fazer dueto com a digníssima e saudosa Mercedes Sosa.
Fez recentemente uma música em homenagem ao juiz midiático Sérgio Moro, cuja atuação tendenciosa e parcial deixa os mais renomados juristas brasileiros de cabelos em pé.
Fagner virou, como lembra o Diário do Centro do Mundo, o "Lobão da MPB".
Fagner e Lobão haviam sido artistas admiráveis e, realmente, possuem talento para fazer boas melodias e lançar boas obras.
Mas estão queimados pelo reacionarismo um tanto oportunista e cego.
E irresponsavelmente necrófilo.
Lobão certamente não usou Cazuza, seu antigo BFF, para as passeatas "coxinhas" que pediram a derrubada do governo Dilma Rousseff.
Cazuza - que provavelmente, sem ser petista, teria defendido a permanência de Dilma - foi usado pelos próprios organizadores: MBL, Revoltados On Line, Vem Pra Rua etc.
O Capital Inicial, para homenagear Sérgio Moro, usou uma composição de Renato Russo numa apresentação em Curitiba.
Imagino Renato Russo, se estivesse vivo, ralhando para Dinho Ouro Preto: "Sacanagem, né, cara? Você podia pelo menos fazer uma música do próprio punho para homenagear esse juiz!".
Fagner usou Luiz Gonzaga Jr., o Gonzaguinha, que era comunista, através da música "Guerreiro Menino".
Não sabemos como Gonzaguinha se comportaria se estivesse vivo. Mas é provável que não gostasse.
Antigo ícone do movimento de artistas cearenses da MPB dos anos 1970, Fagner perdeu o caminho da boa música brasileira.
Se aliou ao "poderoso chefão" Michael Sullivan, um capitalista voraz e venal da música brasileira, que foi denunciado por Alceu Valença por ameaçar destruir a MPB.
Sullivan, com seu então parceiro Paulo Massadas, fez "Deslizes" e entregou a Fagner, escoltado ainda por um Robertinho de Recife usando seu bom talento guitarrístico para serviços sujos.
Michael Sullivan ditava normas copiadas do hit-parade norte-americano de anos atrás, como se fosse um Roberto Campos empurrando matéria-prima obsoleta de fora para a indústria brasileira.
Sullivan tinha o suporte da Rede Globo de Televisão e da RCA estadunidense.
Ele completou o trabalho de Lincoln Olivetti (este com o parceiro Robson Jorge), que pasteurizou a MPB dos anos 1970 e eliminou dela sua intensa força musical.
A esse "crime perfeito", Olivetti e Jorge, já falecidos, se juntaram a Sullivan & Massadas para compor "Amor Perfeito" e chamaram Roberto Carlos, notório conservador da nossa música, para cantar.
Com isso, puderam cantar "Então Vem" para o "popular demais" do brega-popularesco a ser difundido pelas rádios oligárquicas apadrinhadas pelos "coronéis" Antônio Carlos Magalhães e José Sarney.
Criando uma linhagem que ia de chitões e belos a safadões e popozudas tocadas em FMs "muito populares", mas vinculadas ao coronelismo midiático.
Dá pena Michael Sullivan reaparecer, nos últimos anos, como um "coitadinho".
O cara que quis destruir a MPB pedindo para a MPB lhe carregar pelos braços numa retomada artística.
Serviçal da indústria fonográfica multinacional, Sullivan queria se relançar como "indie", como "alternativo" e "vanguardista", tentando ser o oposto do que é e sempre foi.
Como um Mário Kertèsz, na Bahia, filhote da ditadura lançado pela ARENA, machista e canastrão midiático, que depois tentou ser "dono das esquerdas" sendo o "astro-rei" de sua Rádio Metrópole FM, a "CBN de porre" (se a própria CBN hoje já está de porre...).
É aquela coisa do ultrarreaça que quer voltar ao poder e banca o "reconciliador".
E aí Sullivan fez uma "boa escola" para Fagner, lhe inserindo valores do ultracomercialismo musical.
Tomando gosto com essa Disneylândia musical, Fagner conheceu também o "paraíso" da plutocracia midiática.
Fagner foi apoiar a campanha de Aécio Neves em 2014.
E aí se encontrou com Sérgio Moro num prêmio sobre "diferença" promovido pelas Organizações Globo.
E deu no que deu na amizade dos dois, só faltando um encontro triunfal no Domingão do Faustão.
E tudo isso se deu por causa de "Deslizes".
E com um empurrão do "injustiçado" Michael Sullivan, só pôde ver a "justiça" a partir do juiz amigo do Aécio Neves.
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