Depois que estourou o caso do edifício La Vue, de Salvador, pivô da renúncia do ministro da Cultura, Marcelo Calero, e de suas revelações que derrubaram outro ministro, o "ministro de secretaria" Geddel Vieira Lima, o governo Michel Temer naufraga numa crise sem controle.
Agora é a vez do pacote anticorrupção, que irritou setores da sociedade por causa do item que prevê punição para abusos de juízes e procuradores.
O panelaço repentino de anteontem protestava sobretudo contra a exigência de Renan Calheiros para que o Senado Federal, que recebeu o texto do pacote anticorrupção aprovado na Câmara dos Deputados, votasse em regime de urgência.
Isso praticamente derrubou Renan Calheiros, presidente do Senado e, por conseguinte, do Congresso Nacional.
A Lava Jato, que se tornou um "partido político" à parte, tenta afastar a imagem de "caçadora de petistas" visando agora políticos do PMDB.
Eduardo Cunha, ex-deputado federal, e Sérgio Cabral Filho, ex-governador fluminense, foram alguns dos presos.
Agora Renan Calheiros vive seus dias de Eduardo Cunha.
Ele virou réu por peculato, ou seja, desvio de dinheiro público, para uma locadora de serviços que, segundo a Procuradoria-Geral da República, não prestou serviços em Maceió, Alagoas.
A decisão de fazer Renan virar réu foi dada pelo Supremo Tribunal Federal.
O caso está sob investigação e não tem relação com a Operação Lava Jato.
Renan é um dos beneficiados do esquema de corrupção da Petrobras, o que é um outro caso.
Mesmo assim, a transformação de Renan em réu, nesse clima de catarse coletiva, é como se a Lava Jato tivesse reagido à punibilidade de magistrados pelo pacote aprovado pelo Legislativo.
Renan é uma das "velhas raposas" da política brasileira.
Mesmo assim, ele está sendo agora marcado negativamente, como se vivesse seus últimos dias como senador e, sobretudo, como presidente do Senado, por conveniências político-jurídicas.
Quando era conveniente, havia torcida para Renan Calheiros presidir o Senado Federal, sucedendo José Sarney.
Alagoano, Renan era um parceiro político do então presidente Fernando Collor, no começo dos anos 1990.
Renan também era da base aliada dos governos petistas e acompanhou Temer e a maioria do PMDB na traição a Dilma Rousseff.
O presidente do Senado fez tudo para que Dilma Rousseff fosse afastada do poder, e protestou contra a anulação da votação de abertura do impeachment pela Câmara dos Deputados, naquele 17 de abril último.
Até pouco tempo atrás, Renan era o político útil para a realização do governo plutocrático do presidente Temer.
Mas hoje, com o próprio Temer vivendo seu inferno astral, abalado pelo caso Geddel e agora pela impopularidade que atinge até a antes festejada PEC do Teto, a situação está confusa.
Ninguém se iluda em achar que, com o fim do governo Temer, venha um período de bonança ou de tempestade controlada.
A crise ainda está no começo e, se houver uma eleição indireta, que indicará um sucessor provavelmente tucano.
Sendo um presidente biônico, o povo reagirá ainda mais, com muitos protestos de rua.
O Brasil ultimamente mergulhou num cenário de muita confusão e mais insegurança. O país continua à deriva.
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