A PEC do Teto virou lei.
Agora o país vai penar para investir nos setores públicos. Cancelar vários projetos ambiciosos, e também os necessários e ficar apenas com o básico do básico do básico.
O mito do "pelo menos tem o básico" é a desculpa que os retrógrados dão para as limitações. Sucessivamente, o "melhor que nada" é um caminho para se chegar, aos poucos, a coisa nenhuma.
É o processo de aceitar retrocessos em doses paulatinas, até que eles reduzam a vida a praticamente zero.
Taí o preço da sociedade que deu ouvidos a "fascistas digitais", porta-vozes da mídia venal e tecnocratas.
Agora o Brasil, no dizer de Jânio de Freitas, "se move, veloz, para trás e para baixo".
A intelectualidade "bacana" que falava, orgulhosamente, em prol da bregalização cultural, cultuando a "ditabranda do mau gosto" como se fosse uma causa libertária, têm que engolir seco.
Defenderam o "popular demais" do brega-popularesco como se fosse um fenômeno "desafiador" ao "bom gosto elitista" ao qual atribuíam até à classe média progressista.
Defenderam o "pobrismo", que é a afirmação do povo pobre a partir de seus próprios defeitos, debilidades e problemas.
O "ufanismo das favelas", o "empoderamento da prostituição", o "orgulho de ser pobre", "a criatividade do comércio clandestino", tudo isso eram visões preconceituosas mas tidas como "sem preconceitos".
Intelectuais vindos da mídia venal, como Pedro Alexandre Sanches e Paulo César de Araújo, e ainda nela entrincheirados, como Hermano Vianna, defendiam o "pobrismo" como "ideal de vida" das classes populares.
Vai Pedro Sanches com suas ideias trazidas da Folha de São Paulo fazer proselitismo na mídia de esquerda e depois ele abre caminho para a réplica dos medíocres comentaristas da mídia reaça.
É como se Pedro Alexandre Sanches tivesse feito um favor a Diogo Mainardi e Reinaldo Azevedo.
Pedro ia para a mídia de esquerda promover o "pobrismo" (ideologia de herança neoliberal) e criava um gancho para ser rebatido por inexpressivos comentaristas da mídia direitista.
Esses comentaristas, que desprezam os pobres, no entanto se transformaram em "amiguinhos" das classes populares, "condenando" o "pobrismo".
E aí, diante desse pingue-pongue de intelectuais da mídia venal, uns tendenciosamente infiltrados na mídia de esquerda, o povo pobre foi afastado do debate público.
O povo pobre "não podia" se manifestar: sua "manifestação", sua "afirmação" era sempre a situação inferiorizada em que viviam.
Tinham que se afirmar pelas piores qualidades, serem aceitos pela classe média e, depois, ganharem um trato cosmético para desfilar nas festas da alta sociedade.
Isso em nada valorizava a cultura e a realidade das classes populares, por mais que a intelligentzia argumentasse o contrário.
Pelo contrário, o que se via era um falso bate-boca entre intelectuais de "esquerda" (a centro-direita infiltrada) e os inexpressivos intelectuais de direita, transformados em "heróis do povo".
Virou um circo populista de ambos os lados, enquanto o povo era "convidado" a brincar no recreio brega-popularesco.
Tirado de fora do debate público, o povo pobre deixou de se mobilizar pela manutenção do projeto político progressista.
A intelectualidade "bacana" invadiu a mídia de esquerda para dizer que o povo pobre só "fazia ativismo" no "mau gosto" da breguice cultural e, por isso, não precisava lutar por reforma agrária, melhoria de salários, qualidade de vida etc.
Chegaram mesmo a condenar as melhorias na Educação, como se isso fosse "higienismo social". Queriam ver o povo falando errado, porque isso era "sua gramática natural".
Afirmavam que toda melhoria cultural era "fascista" porque "eliminava a pureza social das periferias".
E vinham na mídia de esquerda dizer isso, transmitindo pontos de vista que não contrariam os interesses de uma Rede Globo ou Folha de São Paulo.
Entre uma bajulação a Lula e Dilma e uma falsa crítica à mídia venal no Twitter, os intelectuais "bacanas" inoculavam no pensamento de esquerda brasileiro a visão do "pobrismo" como ideal de vida das classes populares.
Esvaziaram os debates públicos, que se reduziram às cúpulas dos movimentos sociais.
Enquanto isso, os "midiotas" que também defendiam o "popular demais" do brega-popularesco nas mídias sociais passaram a também investir no ativismo de direita.
Era só questão de tempo para eles deixarem de fingir esquerdismo e partir para as passeatas anti-PT vestindo a camisa da corrupta CBF.
E aí, pronto. O "pobrismo" cultural deixou o povo pobre distraído.
Tiraram Dilma Rousseff do poder e os intelectuais "bacanas" até ensaiaram suas lágrimas de crocodilo, fingindo lamentarem o desperdício de 54 milhões de votos.
Aí veio o governo Michel Temer que, quando sofria uma aguda crise, vinha a patrulha dos intelectuais "bacanas" defendendo o "popular demais", a "provocatividade" etc etc etc.
Pareciam vigias disfarçados em "esquerdistas solidários".
Tudo isso para evitar a mobilização popular, ou minimizá-lo da melhor maneira possível.
E isso construiu a crise social que o país vive.
Enquanto isso, os "heróis" do "popular demais" estão na mídia venal, abraçados aos barões da mídia e seus consortes.
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