O mercado literário anda decadente nos últimos anos.
Depois que se descobriu ser possível lançar livros que não comprometam a transmissão de conhecimento, foi descartada a antiga ojeriza às obras literárias.
Nos tempos do Orkut, havia gente que, com orgulho, odiava ler livros.
Hoje não precisa disso, porque a sociedade conservadora já deu um jeito.
Fez o mercado literário fugir do compromisso de transmitir conhecimento.
Quando muito, só livros técnicos relacionados ao mercado de trabalho de uma forma ou de outra.
Mas, fora isso e alguns livros de história mais populares e já consagrados pelo mainstream, o que se vê é uma fuga a tudo que significar conhecimento ou questionamento do "estabelecido".
Os livros da terceira safra de youtubers em diante vivem da "arte" de nada dizer em cerca de cento e tantas páginas.
Já tem uma terceira linhagem de romances de vampiros, heróis medievais, jogos de Minecraft etc que não têm muita relevância.
E nos preparemos para a vinda do Pokemon Go! em forma de romances.
E ainda há os habituais livros de auto-ajuda e as "comoventes estórias" religiosas.
Crise cultural? Que crise? Só que ignorar a existência não significa afirmar que não existe.
Temos uma crise cultural que antecedeu a crise política dos dias atuais.
Mas como as pessoas pensam que cultura é consumismo, pensam que está tudo às mil maravilhas.
Basta chover dinheiro e... Pronto! Qualquer MC Créu vira João Gilberto num estalar de dedos.
Não é bem assim. Cultura não é fazer ISO 9000 em cantor de sambrega ou breganejo, jogá-lo num programa trainée e, em seguida, deixá-lo pronto para "fazer bonito" num tributo à MPB.
Cultura é alma, não a adestramento.
Voltando à literatura, a mídia venal acha os livros para colorir "ótimos" para o mercado literário.
O portal G1 disse que, "sem livros para colorir", mercado literário fecha 2016 em crise.
Os livros para colorir foram a aberração maior do mercado literário e fez 2015 não um bom ano, mas um dos péssimos do setor.
Não que os livros para colorir fossem, em si, ideias ruins. Eles são até bem intencionados.
Mas eles não são livros. E o mais ridículo é que eles são creditados como obras de "não-ficção".
Outro dado a considerar é que, além do meio inoportuno, pois são livros para pintar e não para ler, o que tira o lugar de muito escritor emergente no mercado, é que não há necessidade para lançar tais livros.
Vejam só. Estamos numa época em que os jornais estão fechando para se limitarem apenas à Internet.
É contraditório que haja livros para colorir, que ainda aparecem na lista dos mais vendidos e na categoria não-ficção.
Páginas dessas para colorir bastam serem publicadas somente na Internet.
Até porque elas rendem impressão barata, imagens vazadas em branco e preto.
Com um Ctrl+P, elimina a necessidade de ir à livraria e procurar um livro para colorir.
Nem combinação de tons de cinza é direito. Dá uma impressão fácil e barata.
É contraditório que um Jornal do Brasil, por exemplo, seja agora presente só na Internet e as gráficas das editoras despejam, em quantidades assombrosas, livros para colorir sobre tudo.
Até Padre Marcelo Rossi fez versão de livro para colorir de um de seus livros.
Obras com pouco ou nenhum texto, com desenhos simples, que dão para pegar na Internet e imprimir no computador, não precisam ser publicadas em livros.
Além disso, a crise de hoje exige um grande controle de gastos, não da forma como quer Michel Temer, mas de maneira que fosse a mais coerente e equilibrada possível.
Se o mercado literário está em crise, não são os livros para colorir que salvarão a situação.
Será repensar o mercado como um todo, seja melhorando os preços e as publicações.
Comentários
Postar um comentário