Se você torce pela aprovação da reforma trabalhista do governo Michel Temer, olhe para essa foto.
É uma jovem de 24 anos. Só que falecida há um ano.
Matsuri Takahashi é o nome dessa linda garota que não aguentou a carga excessiva de trabalho.
Ela trabalhava na Dentsu, agência de publicidade no Japão, que determinava um ritmo e uma carga horária exaustivos de trabalho.
Matsuri sofria de estresse e depressão, e de tão desesperada se jogou pela janela do prédio da Dentsu, onde ela estava alojada.
Foi no Natal de 2015 mas a notícia só foi revelada hoje.
A executiva da Dentsu, Tadashi Ishii, admitiu a responsabilidade e renunciou ao comando da empresa.
Os pais de Matsuri estão processando a Dentsu por descumprimento de leis trabalhistas que influíram na morte da jovem.
Aí o telespectador médio dos noticiários da mídia venal, feliz por ser "brasileiro" (no sentido Movimento Brasil Livre do termo), deve achar que isso não tem a ver com a reforma trabalhista de Temer.
Tem, sim, e muito.
Entre os itens da reforma trabalhista, está o aumento do horário de trabalho para até 12 horas.
Combine isso com a prevalência do negociado sobre o legislado, o retardamento da aposentadoria, o fim dos encargos e a terceirização generalizada, incluindo atividades-fins.
Teremos uma rotina bem próxima de Matsuri Takahashi, só que num contexto ainda pior.
E, mais grave: a reforma trabalhista é a legalização do descumprimento das leis trabalhistas, sob a forma da "livre negociação" e da "prevalência do negiciado sobre o legislado".
A desculpa para isso é a desburocratização e a suposta agilidade dos patrões.
Mas isso vai causar problemas para os trabalhadores.
Vivemos uma sociedade desumana e as elites e a sociedade "civil organizada" não medem escrúpulos para adotar posturas ou cometer atos cruelmente antissociais.
Há poucos dias, dois rapazes "fora de si" espancaram até a morte um ambulante que defendia um travesti de ser perseguido pelos dois agressores.
Um ambulante honesto, que só estava ali para proteger alguém, de maneira pacífica, no metrô de São Paulo, em horário de considerável movimento.
Se há gente capaz de cometer atrocidades assim, em tempos de "epidemia" reacionária, sobretudo no Sul e Sudeste, então também é capaz de massacrar os trabalhadores.
Temos uma mobilidade urbana que mais sacrifica os passageiros, desde os ônibus visualmente padronizados, o deslocamento de terminais de ônibus para áreas distante e a redução de frotas em circulação.
E aí os trabalhadores já levam horas se deslocando. Poucos ônibus, trens lotados, engarrafamentos por causa da influência de comerciais de automóvel que congestionam os intervalos de TV, induzindo as pessoas a aderir a esse "paraíso" sobre rodas.
E são eles que "ganharão" a carga de doze horas de trabalho que Temer anuncia com sádico "otimismo".
Com 12 horas, menos salários, menos encargos e com os patrões fazendo o que querem - a "livre negociação" permite eles fazerem chantagem para forçar os empregados a optar entre a degradação profissional e o desemprego - , teremos tragédias no Brasil.
Será como a de Matsuri Takahashi, mas dentro do contexto brasileiro.
No entanto, a tragédia de Matsuri já é suficiente para nos alertar sobre a "maravilhosa" reforma que o presidente temeroso quer implantar sob a desculpa de "resolver a crise".
Uma lição amarga dada por uma linda garota sobre a realidade feia que os trabalhadores terão no Brasil.
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