O "momento histórico" das manifestações "contra a corrupção" de hoje merecem ser encaradas com cautela.
Afinal, tudo parece simplório, maniqueísta e, sobretudo, extremamente neurótico, catártico, irracional.
As pessoas vão para as ruas vestindo uniformes da Confederação Brasileira de Futebol, a CBF.
A CBF está mergulhada em casos de corrupção. Investigações jornalísticas sérias mostram que Ricardo Teixeira criava e desfazia empresas "fantasmas" só para alimentar seu império financeiro.
Comprava vitórias da Seleção Brasileira de Futebol (como a de 2002) só para manipular as escolhas da FIFA sobre sedes de Copas do Mundo ou outros torneios internacionais.
"Amistosos" do futebol eram organizados apenas para superfaturar as já nababescas fortunas dos dirigentes esportivos envolvidos.
O mais festejado craque esportivo, Neymar dos Santos, está sendo investigado por corrupção.
Irregularidades na transferência do Santos para o Barcelona, criação de empresas "fantasmas", já mancham a carreira do superastro do futebol mundial.
São contradições que envolvem um movimento que diz "combater a corrupção".
Para não corromper a política, se corrompe a Justiça e a opinião pública.
Isso porque a defesa de Sérgio Moro inclui vários aspectos estranhos.
Como, por exemplo, permitir que a Operação Lava Jato aceite provas ilícitas para investigar acusados de envolvimento com o "petrolão".
Ilegalidades foram cometidas. Até mesmo conversa com a ex-primeira-dama, Marisa Letícia, esposa do ex-presidente Lula, com um filho, foram "vazadas" em gravações divulgadas na mídia.
Isso completando o espetáculo em que a Lula foram atribuídos um pequeno barco de pesca como sendo um "iate", além de um sítio com tamanho de modesto albergue e um apartamento de classe média do qual Lula nunca foi proprietário.
Isso para não dizer do estádio Arena Corinthians, uma propriedade de Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia e o que vier na mente de Sérgio Moro e companhia. Daqui a pouco Lula será "dono" até da Disney World.
A passeata "contra a corrupção" mostra um dado muito perigoso.
Os manifestantes da ocasião não querem que magistrados sejam punidos por abusos cometidos.
Em outras palavras, a Operação Lava Jato deve agir acima das leis, de acordo com tais manifestações, que repetem a histeria e a catarse irracional dos protestos anti-PT em geral (e anti-Dilma em particular).
Em um dos cartazes exibidos, uma suposta mensagem de Deus foi expressa:
"E então Deus disse: Eu vos envio Sérgio Moro, meu segundo filho, para salvá-los dos pecadores. Não deixem crucificá-lo tbém (sic). Me ajuda aí...!!" Ass: Deus".
Aí já virou comédia.
Como os "ratos" de folhas de papel jogados no espelho d'água em Brasília, como se a corrupção fosse apenas no âmbito político.
Há um aspecto positivo nisso. Mostra o ridículo de tais manifestações.
O maniqueísmo que contrapõe Sérgio Moro e o presidente do Senado, Renan Calheiros, a "bola da vez" da catarse coletiva, também não convence muito em coerência.
Renan merecia ser punido há tempos, mas só tardiamente ele é alvo da revolta dos "verde-amarelos" devotos do "falecido" Pato da FIESP.
Com todo o respeito à Regina Duarte, uma atriz de trajetória admirável, mas ela participar desses eventos em que a bandeira brasileira é levianamente utilizada, é constrangedor.
No entanto, mais constrangedor do que isso é o sistema de som tocar músicas como "Brasil", de Cazuza, e "Que País é Esse?", na versão da Legião Urbana.
Cazuza e Renato Russo não aprovariam manifestações como as dos "coxinhas".
Mas o que é a lógica para esse pessoal que é capaz de comparar Sérgio Moro a Jesus de Nazaré?
O Brasil vive momentos cada vez mais estranhos.
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