Dias após a morte de Fidel Castro, podemos refletir sobre o que setores da intelectualidade comprometidos com a bregalização cultural querem com o Brasil.
Tidos como progressistas, esses intelectuais só fazem jus a esse rótulo pela aparente defesa do rótulo "popular".
No entanto, os paladinos do "combate ao preconceito", na verdade, fazem apologia a formas preconceituosas da vida do povo pobre.
Parecem mais preocupados em defender a pobreza do que os pobres.
Defender a prostituição e não as prostitutas, o subemprego e não os trabalhadores informais, o playlist radiofônico e não o lazer das empregadas domésticas.
E empurram essa agenda amarga para as esquerdas, se fazendo valer da visibilidade plena e dos pistolões que têm nos meios acadêmicos esquerdistas.
Os intelectuais pró-brega fazem um discurso sofisticado.
Retórica modernista, manifestos tropicalistas, narrativa de Novo Jornalismo (reportagem em narrativa literária), abordagem de Annales (historiografia do cotidiano).
Tudo para dizer que ser pobre é "o máximo" e que a "cultura popular" é "o que está aí" porque "é isso que o povo gosta e sabe fazer".
Ponte para o Futuro? Escola Sem Partido? PEC 241? Pode ser.
Mas esse discurso foi publicado em Caros Amigos, Carta Capital, Revista Fórum, Brasil de Fato.
Criam-se dois Brasis.
Um, político, quando o povo aparece se mobilizando por reforma agrária, por qualidade de vida, por direitos humanos, por cidadania.
Outro, pretensamente cultural, mostra o povo indo como gado para o galpão próximo consumir o sucesso radiofônico.
No primeiro caso, o povo pobre fala, pensa, questiona, analisa, propõe, se mobiliza, não se submete.
No segundo caso, o povo se resigna, rebola, aceita, consome sem consciência, faz o jogo do mercado, se conforma com sua inferioridade social.
No primeiro caso, a mulher pobre, por exemplo, quer ser trabalhadora e lutar por um espaço digno da vida. Já no outro caso, a mulher se resigna com o mercado machista da prostituição.
É um discurso engenhoso, que tornou-se uma pegadinha para as esquerdas, permitindo a fragilidade que abriu caminho para o governo Michel Temer.
Um discurso que cria uma Havana de mentira, com a mentalidade conservadora dos direitistas anticastristas de Miami.
Uma espécie de Disneylândia suburbana.
Uma "periferia", citando o jargão de Fernando Henrique Cardoso na sua Teoria da Dependência.
Um desenvolvimento subordinado, mercadológico, rentista, sem soberania.
Uma "cultura popular" que quase nada tem do legado das classes populares da história brasileira.
E que tem mais das fórmulas impostas pelo comercialismo cultural estadunidense.
Uma "periferia" que não pode ser outra coisa senão "periferia".
Uma visão trazida por intelectuais que entenderam direitinho o pensamento do então presidente FHC.
Mas que, diante do vento das circunstâncias, voaram feito urubus famintos para abocanhar as verbas públicas esquerdistas.
Para isso, tiveram que forjar um "bom esquerdismo", com um discurso falsamente libertário.
Que sonhava com subúrbios que nunca deixavam de ser subúrbios.
Queriam preservar a pobreza, a prostituição, a ignorância, o alcoolismo, o subemprego.
O povo pobre que se virasse e ficasse feliz com tudo isso.
E a opinião pública tinha que aceitar essa visão "sem preconceitos", mas muitíssimo preconceituosa, do povo pobre.
Só que isso não é combater o preconceito, afinal o povo pobre já era trabalhado de uma maneira preconceituosa, não dava para romper o preconceito aceitando o preconceito.
E, em tempos de crise plutocrática, a intelectualidade "bacana" quer aliciar as esquerdas mais uma vez.
Tanto para evitar que o povo pobre se mobilize de verdade, quanto para abocanhar uma boa grana das verbas públicas, sobretudo pela Lei Rouanet ou o que vier de similar.
O vácuo da esquerda cultural não pode ser preenchido por pessoas supostamente interessantes mas que escondem sua formação calcada em FHC, Francis Fukuyama, Milton Friedman, Ortega y Gasset, Ludwig Von Mises.
Mal conseguem tapear essa formação com discursos modernistas aqui e ali e adulações a Emir Sader, Jessé de Souza, Paulo Henrique Amorim, Luís Nassif, José Arbex Jr., Marilena Chauí.
A cultura progressista não pode ser refém de uma facção de intelectuais neoliberais que por simples arrivismo querem estar vinculados com o esquerdismo.
Isso porque esses intelectuais preferem preservar a pobreza e seus paradigmas, enquanto o povo pobre continua escravizado em sua inferioridade social.
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