Sabe-se que não existe, no Brasil, um intelectual cultural de esquerda dotado de visibilidade e visão consistente.
O que temos são intelectuais de centro-direita que, diante de uma adesão condicionada (em troca, sobretudo, de verbas da Lei Rouanet) aos governos petistas, dissolve seus preconceitos neoliberais sobre a cultura popular com posturas políticas tendenciosamente de esquerda.
Um deles é Pedro Alexandre Sanches, símbolo da intelectualidade "bacana", aquela facção da intelectualidade que quer parecer simpática ao público, em tempos de anti-intelectualismo.
Ele agora voltou à versão impressa de Carta Capital, premiado pelo aparente "bom esquerdismo" que difunde em suas postagens tendenciosas no Twitter.
PEDRO ALEXANDRE SANCHES NO TWITTER - "ESQUERDISMO" NADA VISCERAL, MAS FEITO PARA "JOGAR PARA A PLATEIA".
Diferente de muitos jornalistas vindos da mídia venal, Pedro Sanches não tem a postura visceral de um jornalista da mídia comercial desiludido com seus abusos reacionários.
A gente lê textos de gente como Paulo Henrique Amorim, Luís Nassif, Rodrigo Vianna, Teresa Cruvinel, os irmãos Kiko e Paulo Nogueira e a gente vê consistência e textos muito informativos que se somam na transmissão de informações instigantes e surpreendentes.
No âmbito da Economia, temos Luiz Carlos Bresser Pereira, que já trabalhou com tucanos e hoje faz críticas muito consistentes e ricas sobre esse universo.
Não é o caso de Pedro Alexandre Sanches, cujos textos esquerdistas são simplórios e feitos apenas para "se jogar na plateia".
Ele adota posturas muito estranhas para o "intelectual de esquerda" que ele tanto sonha ser, num desses caprichos de arrivismo pessoal.
No âmbito musical, ele fazia defesa da bregalização cultural, um processo de desmonte da cultura popular brasileira, não somente musical, articulado pela indústria fonográfica e pelo coronelismo midiático nacional e regional.
A partir das pregações de Sanches, criou-se um lobby de gente que passou a ver a cultura popular de maneira preconceituosa, mas oficialmente "sem qualquer tipo de preconceito".
Visões muito estranhas passaram a ser difundidas.
Apologia à ignorância, aos valores sociais retrógrados (como o machismo), e a práticas consideradas emergenciais e desagradáveis pelo povo pobre, mas vistas como "ideais" e como "formas de afirmação positiva (sic)" das classes populares.
Imagine achar que prostituição é legal, quando as prostitutas querem sair dessa situação e virar professoras, cozinheiras, costureiras, advogadas etc?
Ou imagine achar o máximo ser trabalhar no subemprego de camelôs, levando pau dos fiscais, vendendo produtos contrabandeados, piratas e por aí vai?
Imagine terminar os dias só bebendo aguardente, maltratando a velhice com pesadas doses de álcool que massacram o fígado e fazem os idosos terem crises constantes de vômito?
Durante anos aceitar tudo isso era "perder o preconceito", assim como aceitar a mediocridade cultural da música brega-popularesca e das "musas" siliconadas.
Éramos "convidados" a aceitar uma visão caricatural do povo pobre como "positiva" como se fosse "combate ao preconceito". Mas era o agravamento de preconceitos ainda piores e muito mais elitistas do que se pensa.
Na Música Popular Brasileira, identifiquei nos textos de Pedro Alexandre Sanches posturas equivalentes às do "fim da História" de Francis Fukuyama e da Teoria da Dependência do nunca assumido mestre Fernando Henrique Cardoso.
Em suma, para Sanches a MPB acabou e a onda agora é "provocatividade", "mau gosto" e "consumismo". Fukuyama puro.
De FHC, há a perspectiva de que a cultura brasileira, principalmente a musical, se torne uma sucursal da cultura pop estadunidense, mesmo com toda a "provocatividade" e "polêmica".
Sanches falou em "cultura transbrasileira", uma clara analogia ao "transnacional" de FHC.
PEDRO ALEXANDRE SANCHES E EDUARDO NUNOMURA FAZENDO COBERTURAS DE EVENTOS COM A GRANA DO "SANTO".
Para tanto, Pedro Alexandre Sanches esculhambava um dos mais prestigiados cantores da esquerda musical brasileira, Chico Buarque de Hollanda, cujo "maior pecado" foi ter nascido numa abastada elite intelectual, como se isso lhe proibisse de ser solidário às classes populares.
Em contrapartida, Sanches defendeu "artistas" do comercialismo musical brega que depois viraram astros da mídia venal: Zezé di Camargo & Luciano, Banda Calypso, Leandro Lehart, Odair José etc, sem falar do "funk carioca".
Tornou-se antológica a capa da retrógrada revista Veja com MC Guimê, pouco depois de Sanches tentar "guevarizá-lo". Hoje MC Guimê aparece até na revista Caras.
TEXTO DO FAROFAFÁ FAZ APARENTE AUTO-IRONIA SOBRE A REFERÊNCIA DE ARMÍNIO FRAGA.
Pedro Alexandre Sanches parece ter o mesmo modus operandi de seu conterrâneo Sérgio Moro, da mesma geração com apenas quatro anos de diferença entre si.
Nascidos em Maringá, Sanches e Moro são dois destacados figurões do alpinismo social, com seus trabalhos de depreciação de petistas, respectivamente Chico Buarque e Lula.
Só que Sanches tenta forçar a barra como o "astro das esquerdas", como um Sérgio Moro do esquerdismo cultural.
No Twitter ele escreve artigos "interessantes" que você logo vê de cara que não têm a menor visceralidade.
São textos apenas de quem quer pegar carona e viajar na garupa dos que realmente escrevem textos e lançam ideias na mídia esquerdista.
Algumas direitices foram observadas: a camaradagem com Gilberto Dimenstein por conta dos protestos contra o fim de um programa da TV Cultura, e o acolhimento de um projeto musical de um filho de Armínio Fraga.
O texto de Eduardo Nunomura, o braço-direito de Sanches, é cheio de ironias e o filho de Armínio tenta se desvincular da imagem do pai, mas o título torna-se bem claro: "Filho de peixe, peixinho é".
Para quem não sabe: Armínio foi ministro de FHC, é membro-fundador do Instituto Millenium, neoliberal de carteirinha e ligado a George Soros, especulador financeiro que estaria financiando do Coletivo Fora do Eixo ao Movimento Brasil Livre, passando pelo "funk carioca".
Mas o que se observa são as coberturas recentes de eventos culturais por Sanches e Nunomura.
Nelas, nota-se o logotipo: Governo do Estado de São Paulo.
Seu titular é conhecido: o tucano Geraldo Alckmin, recentemente identificado como o "santo" nas conversas divulgadas por delatores da Odebrecht na Operação Lava Jato.
É certo que, pelo menos até agosto de 2016, a secretaria de Cultura do governo paulista estava nas mãos de um cineasta comprometido com uma visão de caráter técnico: José Roberto Sadek.
Mas mesmo ele defendeu a ação da iniciativa privada para sustentar os eventos culturais paulistas, diante do corte de investimentos públicos.
E, certamente, o dinheiro vem da decisão do governador Alckmin.
Um exemplo a ser observado é a cobertura de Pedro Alexandre Sanches ao festival de Barretos 2016 publicada no Farofafá.
Barretos é a meca do "sertanejo", um dos ritmos mais conservadores da música brega-popularesca, e a cidade tem como prefeito o tucano Guilherme Ávila, que se reelegeu.
Na Festa de Barretos uma das atrações, os rodeios, são práticas condenadas pelas esquerdas no Brasil.
Será que o "santo" anda patrocinando as atividades jornalísticas de Pedro A. Sanches e Eduardo Nunomura? A que chegou a intelligentzia...
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