DOTADOS DE MUITA INFORMAÇÃO MUSICAL, TOM ZÉ E ELZA SOARES SÃO USADOS INDEVIDAMENTE COMO "PATRONOS" DE UMA VAZIA "PROVOCATIVIDADE" MUSICAL.
O monopólio de narrativa da intelectualidade "bacana" que permite que até as esquerdas aceitem o comercialismo musical dominante nas últimas décadas, cria sérios problemas.
É uma narrativa que nada tem de progressista, ela foi gerada pelo consórcio entre a mídia venal, a burocracia acadêmica e o neoliberalismo político-econômico.
Numa só tacada, intelectuais que foram defender o "mau gosto popular" da bregalização, mesmo associados formalmente ao esquerdismo político, tiveram o DNA formado num contexto nada progressista.
Eram formados com base nos padrões de abordagem cultural mercantilistas, defendidos pela Folha de São Paulo e pela Rede Globo. A Folha, como mentora, a Globo como propagadora.
Eram ligados a uma burocracia acadêmica ligada a figuras como Fernando Henrique Cardoso e José Serra, que, por isso mesmo, no âmbito político-partidário está alinhada ao PSDB.
Mas a intelectualidade orgânica desse cenário foi voando para os círculos esquerdistas, inserindo preconceitos da Globo/Folha na Caros Amigos, Carta Capital e Revista Fórum.
Unindo um modus operandi que mistura uma perspectiva trash e um tratamento "politicamente correto", difundiram a bregalização cultural como se fosse a "salvação" de nossa cultura popular.
A partir daí, tentaram empurrar o "pobrismo" na cultura brasileira, não só musical, mas principalmente por essa modalidade.
Era um suspeito e estranho "orgulho de ser pobre", uma "felicidade" com a situação social da pobreza que deveria ter causado desconfiança desde o começo.
Mas não. Levou uma década sendo propagada.
A intelectualidade "bacana" tinha o monopólio da alta visibilidade, não havia quem oferecesse um contraponto e tivesse a mesma capacidade de atingir um público que, se não era ainda a das "massas", pelo menos era o dos auditórios lotados de faculdades.
E aí, se "combateu" o preconceito com PRECONCEITO.
Coisas lamentáveis como viver em barracos mal construídos, viver o subemprego vendendo produtos contrabandeados e piratas, moças vendendo o corpo para machos violentos, idosos sem ter o que fazer se acabando com álcool, tudo isso era visto como "positivo" e "admirável".
Pior: isso era vendido, nas esquerdas, como um "ideal progressista", como uma vida "libertária".
Era o tempo em que você folheava a imprensa de esquerda e via dois Brasis.
Um, nos textos políticos, mostrava o povo pobre corajoso, combativo, insubmisso, decidido, inteligente e digno.
Outro, nos textos culturais, mostrava um povo abobalhado, resignado, submisso aos "sucessos" de rádios e TVs oligárquicas, indeciso, alienado e fútil.
A leitura às pressas num país ainda com hábito precário de leitura - o mercado literário precisou se degradar ultimamente para atrair mais leitores - fez com que muitos fizessem vista grossa com tais disparidades.
E aí os pregadores do "deus mercado" da "cultura transbrasileira" e seu ideal de "pobrismo" tentam dar um suporte nobre a tudo isso.
Se o "popular demais" mostra muita baixaria, a intelligentzia bota logo a culpa no poeta do século XVII, Gregório de Matos.
Grande mania de se esquecer que diferentes épocas geram diferentes contextos. É essa intelectualidade que bateu na tecla da tese infundada de que o "funk" é rejeitado hoje como o samba foi rejeitado há 100 anos.
Grande incoerência. O "funk" é rejeitado por pessoas moralmente muito mais flexíveis do que a sociedade elitista da República Velha.
O samba, além disso, era percussivo, mas aceitou violões, banjos e até metais, como na derivação estilística do chorinho.
O "funk carioca" só liberou o violão quinze anos depois, quando se passou por "movimento sócio-cultural" para turista ver.
E se ritmos como "funk" e "sertanejo", ou tudo o que for brega (lembramos dos primeiros cafonas que emulavam boleros e rock caricatos) soa muito americanizado, a intelligentzia bota a culpa logo em Oswald de Andrade.
E aí os intelectuais "mais legais do país", assim considerados num contexto de verdadeiro anti-intelectualismo, criam todo um discurso "antropofágico" para defender a bregalização cultural, mesclando "pobrismo" com mitos de pretensa hiperconectividade e modernismo pop.
Misturando ídolos "provocativos" e citando, sutilmente, outros mais comerciais - como Anitta, Wesley Safadão e Luan Santana - os intelectuais "bacanas", por outro lado, procuram bajular veteranos associados ao pós-Tropicalismo como Tom Zé e Elza Soares.
Tom Zé foi um dos nomes do Tropicalismo, juntamente com Caetano, Gil, Gal e Bethânia, além dos Mutantes de Rita Lee e dos irmãos Dias Baptista, Sérgio e Arnaldo.
Elza Soares surgiu antes, no alvorecer do sambalanço no período entre 1959 e 1961 que, pouco tempo depois, teve Jorge Ben (hoje Jorge Ben Jor) como seu representante mais popular.
Elza virou "tropicalista" por adoção, como foi feito antes por bossanovistas que a "adotaram", pelos mesmos motivos que fazem a vetarana ser venerada assim como Tom Zé.
Elza e Tom são portadores de muitas informações musicais.
Elza com informações de samba dos morros e samba carnavalesco, mescladas com jazz, soul music e hip hop.
Tom com informações de música regional do interior baiano, mesclada com concretismo erudito europeu, rock, pós-rock e folk, entre outros.
São nomes muito respeitáveis e de grande valor, mas que são indevidamente empurrados para serem "patronos" do cenário provocativo-comercial dos tempos de hoje.
Eles ganharam essa "reputação" apenas por dois aspectos formais.
Sempre foram artistas que traduziram influências estrangeiras com a linguagem cultural brasileira e se tornaram populares adotando posições polêmicas.
Só que não é qualquer novo Tom Zé que aparece num jovem brega vestindo jeans, carregando violão e sentado numa estação de trem qualquer.
E não é uma nova Elza Soares que aparece numa jovem funqueira que mostra os glúteos para a plateia, direto para as caras do público.
A intelectualidade "bacana" acha que o "mercadão da provocatividade" pode criar gênios musicais às custas de controvérsia e da cara feia da crítica especializada.
E acha que pode-se forjar "antropofagia cultural" em qualquer "baile funk", vaquejada ou micareta.
Nem em sonhos.
Uma coisa é a "antropofagia cultural", que é a assimilação espontânea, vinda da vontade da pessoa, de uma informação cultural estrangeira.
Outra coisa é o "entreguismo cultural", quando a informação estrangeira é difundida "de cima", imposta do "alto" através de gerentes das mídias oligárquicas nacionais e regionais no Brasil.
Isso nossos intelectuais "tão legais" não conseguem discernir. Muito provavelmente, nem se interessam a isso.
Eles querem dar o mesmo peso dos grandes artistas da MPB a ídolos cujos sucessos musicais parecem ter sido compostos num balcão de negócios.
Criando um discurso simplório: plateias lotadas e cheias de "minorias sociais", como se isso por si só fosse "revolucionário".
No palco, ídolos que medem uma suposta genialidade através da combinação de plateias lotadas e supostas declarações negativas de críticos musicais "tradicionais".
Certamente não é o caso de Elza Soares e Tom Zé, que, além de causar polêmica, pelo menos oferecem também música.
Eles são veteranos e vêm do tempo em que a música brasileira mostrava pessoas bem mais criativas.
Muito distantes dos "provocativos", "carneirinhos" e "populares demais" que representam as três forças do comercialismo musical brasileiro.
De gente que não pode ser antropofagista, até porque mal ouviu falar do "osvaldi-não-sei-de-quê".
De gente que sonha com os EUA que veem nas telas da Rede Globo e nas páginas da Folha de São Paulo. Um mundo "de fora" filtrado "de cima" pelas mídias oligárquicas "de dentro".
O monopólio de narrativa da intelectualidade "bacana" que permite que até as esquerdas aceitem o comercialismo musical dominante nas últimas décadas, cria sérios problemas.
É uma narrativa que nada tem de progressista, ela foi gerada pelo consórcio entre a mídia venal, a burocracia acadêmica e o neoliberalismo político-econômico.
Numa só tacada, intelectuais que foram defender o "mau gosto popular" da bregalização, mesmo associados formalmente ao esquerdismo político, tiveram o DNA formado num contexto nada progressista.
Eram formados com base nos padrões de abordagem cultural mercantilistas, defendidos pela Folha de São Paulo e pela Rede Globo. A Folha, como mentora, a Globo como propagadora.
Eram ligados a uma burocracia acadêmica ligada a figuras como Fernando Henrique Cardoso e José Serra, que, por isso mesmo, no âmbito político-partidário está alinhada ao PSDB.
Mas a intelectualidade orgânica desse cenário foi voando para os círculos esquerdistas, inserindo preconceitos da Globo/Folha na Caros Amigos, Carta Capital e Revista Fórum.
Unindo um modus operandi que mistura uma perspectiva trash e um tratamento "politicamente correto", difundiram a bregalização cultural como se fosse a "salvação" de nossa cultura popular.
A partir daí, tentaram empurrar o "pobrismo" na cultura brasileira, não só musical, mas principalmente por essa modalidade.
Era um suspeito e estranho "orgulho de ser pobre", uma "felicidade" com a situação social da pobreza que deveria ter causado desconfiança desde o começo.
Mas não. Levou uma década sendo propagada.
A intelectualidade "bacana" tinha o monopólio da alta visibilidade, não havia quem oferecesse um contraponto e tivesse a mesma capacidade de atingir um público que, se não era ainda a das "massas", pelo menos era o dos auditórios lotados de faculdades.
E aí, se "combateu" o preconceito com PRECONCEITO.
Coisas lamentáveis como viver em barracos mal construídos, viver o subemprego vendendo produtos contrabandeados e piratas, moças vendendo o corpo para machos violentos, idosos sem ter o que fazer se acabando com álcool, tudo isso era visto como "positivo" e "admirável".
Pior: isso era vendido, nas esquerdas, como um "ideal progressista", como uma vida "libertária".
Era o tempo em que você folheava a imprensa de esquerda e via dois Brasis.
Um, nos textos políticos, mostrava o povo pobre corajoso, combativo, insubmisso, decidido, inteligente e digno.
Outro, nos textos culturais, mostrava um povo abobalhado, resignado, submisso aos "sucessos" de rádios e TVs oligárquicas, indeciso, alienado e fútil.
A leitura às pressas num país ainda com hábito precário de leitura - o mercado literário precisou se degradar ultimamente para atrair mais leitores - fez com que muitos fizessem vista grossa com tais disparidades.
E aí os pregadores do "deus mercado" da "cultura transbrasileira" e seu ideal de "pobrismo" tentam dar um suporte nobre a tudo isso.
Se o "popular demais" mostra muita baixaria, a intelligentzia bota logo a culpa no poeta do século XVII, Gregório de Matos.
Grande mania de se esquecer que diferentes épocas geram diferentes contextos. É essa intelectualidade que bateu na tecla da tese infundada de que o "funk" é rejeitado hoje como o samba foi rejeitado há 100 anos.
Grande incoerência. O "funk" é rejeitado por pessoas moralmente muito mais flexíveis do que a sociedade elitista da República Velha.
O samba, além disso, era percussivo, mas aceitou violões, banjos e até metais, como na derivação estilística do chorinho.
O "funk carioca" só liberou o violão quinze anos depois, quando se passou por "movimento sócio-cultural" para turista ver.
E se ritmos como "funk" e "sertanejo", ou tudo o que for brega (lembramos dos primeiros cafonas que emulavam boleros e rock caricatos) soa muito americanizado, a intelligentzia bota a culpa logo em Oswald de Andrade.
E aí os intelectuais "mais legais do país", assim considerados num contexto de verdadeiro anti-intelectualismo, criam todo um discurso "antropofágico" para defender a bregalização cultural, mesclando "pobrismo" com mitos de pretensa hiperconectividade e modernismo pop.
Misturando ídolos "provocativos" e citando, sutilmente, outros mais comerciais - como Anitta, Wesley Safadão e Luan Santana - os intelectuais "bacanas", por outro lado, procuram bajular veteranos associados ao pós-Tropicalismo como Tom Zé e Elza Soares.
Tom Zé foi um dos nomes do Tropicalismo, juntamente com Caetano, Gil, Gal e Bethânia, além dos Mutantes de Rita Lee e dos irmãos Dias Baptista, Sérgio e Arnaldo.
Elza Soares surgiu antes, no alvorecer do sambalanço no período entre 1959 e 1961 que, pouco tempo depois, teve Jorge Ben (hoje Jorge Ben Jor) como seu representante mais popular.
Elza virou "tropicalista" por adoção, como foi feito antes por bossanovistas que a "adotaram", pelos mesmos motivos que fazem a vetarana ser venerada assim como Tom Zé.
Elza e Tom são portadores de muitas informações musicais.
Elza com informações de samba dos morros e samba carnavalesco, mescladas com jazz, soul music e hip hop.
Tom com informações de música regional do interior baiano, mesclada com concretismo erudito europeu, rock, pós-rock e folk, entre outros.
São nomes muito respeitáveis e de grande valor, mas que são indevidamente empurrados para serem "patronos" do cenário provocativo-comercial dos tempos de hoje.
Eles ganharam essa "reputação" apenas por dois aspectos formais.
Sempre foram artistas que traduziram influências estrangeiras com a linguagem cultural brasileira e se tornaram populares adotando posições polêmicas.
Só que não é qualquer novo Tom Zé que aparece num jovem brega vestindo jeans, carregando violão e sentado numa estação de trem qualquer.
E não é uma nova Elza Soares que aparece numa jovem funqueira que mostra os glúteos para a plateia, direto para as caras do público.
A intelectualidade "bacana" acha que o "mercadão da provocatividade" pode criar gênios musicais às custas de controvérsia e da cara feia da crítica especializada.
E acha que pode-se forjar "antropofagia cultural" em qualquer "baile funk", vaquejada ou micareta.
Nem em sonhos.
Uma coisa é a "antropofagia cultural", que é a assimilação espontânea, vinda da vontade da pessoa, de uma informação cultural estrangeira.
Outra coisa é o "entreguismo cultural", quando a informação estrangeira é difundida "de cima", imposta do "alto" através de gerentes das mídias oligárquicas nacionais e regionais no Brasil.
Isso nossos intelectuais "tão legais" não conseguem discernir. Muito provavelmente, nem se interessam a isso.
Eles querem dar o mesmo peso dos grandes artistas da MPB a ídolos cujos sucessos musicais parecem ter sido compostos num balcão de negócios.
Criando um discurso simplório: plateias lotadas e cheias de "minorias sociais", como se isso por si só fosse "revolucionário".
No palco, ídolos que medem uma suposta genialidade através da combinação de plateias lotadas e supostas declarações negativas de críticos musicais "tradicionais".
Certamente não é o caso de Elza Soares e Tom Zé, que, além de causar polêmica, pelo menos oferecem também música.
Eles são veteranos e vêm do tempo em que a música brasileira mostrava pessoas bem mais criativas.
Muito distantes dos "provocativos", "carneirinhos" e "populares demais" que representam as três forças do comercialismo musical brasileiro.
De gente que não pode ser antropofagista, até porque mal ouviu falar do "osvaldi-não-sei-de-quê".
De gente que sonha com os EUA que veem nas telas da Rede Globo e nas páginas da Folha de São Paulo. Um mundo "de fora" filtrado "de cima" pelas mídias oligárquicas "de dentro".
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