A parcela "mais bacana" da intelectualidade brasileira chora "lágrimas de crocodilo".
Percebendo que o prefeito de São Paulo, João Dória Jr., congelou uma verba de 43,7% para o setor de Cultura, ou seja, um valor de R$ 197,4 milhões.
A medida foi adotada pelo secretário municipal de Cultura da capital paulista, o cineasta André Sturm.
Aparentemente, a gestão de João Dória Jr. vai avaliar vários projetos culturais encaminhados para a SMC para receber verbas públicas.
A secretaria anunciou que já liberou R$ 30 milhões e irá retomar vários programas culturais, inclusive lançamento de vários editais para teatro, circo e música.
Isso, no entanto, soa como uma conversa para boi dormir, pois, seguindo a mesma orientação que, no plano nacional, é personificada no Ministério da Cultura de Roberto Freire, a coisa é bem outra.
É uma visão burocrática, pragmática e comercial de cultura.
O que for mainstream, garantir o turismo e atender aos interesses dos patrocinadores, tudo bem.
Se não, nada feito.
Mas os intelectuais que, meses atrás, achavam que bastava despejar breguice por tudo quanto é lado que a revolução sócio-cultural iria eclodir no Brasil, reclamam de barriga cheia.
Queriam fazer "reforma agrária na MPB" com a breguice que tomava conta das FMs "populares" mas oligárquicas e entrava no Domingão do Faustão e Caldeirão do Huck pela porta da frente.
Esculhambavam Chico Buarque com o apetite de um colunista de Veja, para depois mandarem beijos para Lula e Dilma.
Fico até imaginando cada um eles dizendo: "Lulinha, Dilminha, não se esqueçam das verbas da Lei Rouanet para meu coletivo tal que eu faço parte, viram?".
Durante anos, os intelectuais "bacanas" queriam que o jabaculê "popular demais" fosse o "folclore do futuro".
Faziam a pregação da "pobreza linda", do "alcoolismo feliz", da "prostituição eterna", do 'analfabetismo pueril" das "periferias".
Ficaram até horrorizados quando alguém lhes dizia que eles traduziam para a cultura popular a ideologia que aprenderam da Teoria da Dependência de Fernando Henrique Cardoso.
Faziam vista grossa quando os ídolos que eles defendiam eram "sertanejos" lançando cinebiografia bancada pela Globo Filmes e funqueiros que apareciam no Caldeirão do Luciano Huck.
Queriam "guevarizar" esses ídolos musicais de qualquer maneira.
Agora, choram porque há a ameaça, a nível nacional, de tantas oficinas culturais que iriam beneficiar populações pobres ou artistas populares ou alternativos.
A intelectualidade "bacana" falava no "funk" como um símbolo da hipotética "revolução bolivariana da MPB".
Mas o "funk" apunhalou as forças progressistas e foi para seu habitat natural: a mídia patronal.
Estão na Globo, Caras, Folha, Veja e Estadão e tem um canal todo para eles no YouTube, o Kondzilla.
A intelectualidade tentou vender o "funk ostentação" como um "anti-capitalismo", mas ele abriu caminho, de uma forma ou de outra, ao governo Temer de hoje.
O "funk" desviou as classes populares do debate político e abriu as porteiras para os "coxinhas".
Da mesma forma, o "funk" tentou abafar os últimos apelos para salvar o mandato de Dilma Rousseff, há cerca de um ano, sob a desculpa de também se solidarizar com os manifestantes.
E aí, temos o que temos.
Na festança "popular demais" da breguice pseudo-progressista, abriram-se os microfones para os sociopatas e tudo se deu no cenário que temos.
Toda a blindagem da bregalização resultou no Ministério da Cultura de Roberto Freire, cujo modus operandi é imitado, no âmbito municipal paulistano, por André Sturm.
Os intelectuais "bacanas" agora reclamam que a cultura está sendo tratada como "mercadoria".
Também, quem mandou tratar as "mercadorias" culturais da mídia como se fosse "cultura de verdade".
Agora se contentem com o título de um dos sucessos do forró-brega, conhecido pelo eufemismo de "neo-forró": "Chupa que é de uva".
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